Um dia após a confirmação do recuo do governo federal em taxar compras de até US$ 50 de importadoras como Shein, Shoppe e Aliexpress, as varejistas brasileiras lideraram as perdas no pregão do Ibovespa desta quarta-feira (19).
Das cinco maiores perdas de hoje, três foram de gigantes do setor. A Carrefour (CRFB3) teve a maior queda do dia, pontuando 8,37% negativo. Em seguida vem a Magazine Luiza (MGLU3), que amargou perda de 7,63%. No quarto lugar ficou a detentora das Casas Bahia, a Via 3 (VIIA3), com resultado negativo de 6,74%.
O Ibovespa encerrou o dia em queda de 2,12%, aos 103.912 pontos. O dólar subiu 2,23%, aos R$ 5,08.
Varejo critica Lula e busca reverter isenção a importadoras
Insatisfeitos com o recuo do presidente Lula Inácio Lula da Silva (PT), que decidiu pela permanência da isenção da tributação de itens importados em remessas abaixo de US$ 50, varejistas nacionais articulam uma reunião com o Ministério da Fazenda, ainda nesta semana.
De acordo com o “Valor Econômico” empresários acreditam que o governo cedeu à pressão da opinião popular, e dois deles ouvidos pela reportagem veem participação da primeira-dama, Janja, na tomada de decisão pelo presidente Lula.
Essa regra da isenção tem sido usada por consumidores e lojistas de plataformas estrangeiras para burlar a lei e sonegar imposto.
No governo anterior, o presidente Jair Bolsonaro também determinou voltar atrás nessa discussão, que avançava no ministério da Fazenda, pelo temor de desgaste nas redes sociais, em ano eleitoral.
Apesar do esforço do comércio de buscar alguma comunicação com a Fazenda, no entendimento de empresários e diretores consultados hoje, será uma tentativa que não deve ter muitos avanços.
“Até ontem à tarde [segunda], nada indicava que o governo iria voltar atrás dessa forma. Pelo que verificamos, é uma determinação do Lula, tomada na noite de ontem e o Haddad [ministro da Fazenda, Fernando Haddad] acatou. Na nossa visão, Haddad sai enfraquecido, de novo, de uma queda de braço, e há um retrocesso enorme de uma discussão que já estava avançada, e era justa”, diz um empresário do setor.
De acordo com um segundo empresário de uma rede líder do setor, se o governo quer manter a isenção abaixo de US$ 50, e não reduzir a sonegação, seria melhor então buscar a equidade tributária dentro do país.
“Que tal fazermos uma campanha para as compras internas no país, de até US$ 50, não pagarem impostos também”, ironiza ele.
Há um entendimento que, a saída do governo hoje, de afirmar que aumentará a fiscalização sobre remessas até US$ 50, para evitar que burlem as normas, pode ter um efeito positivo, mas esbarra nas limitações de sistemas e pessoal.
“Aumentar a fiscalização para resolver isso é piada. Parece um discurso feito para não dizer que governo vai deixar tudo como está. São entre 500 mil a 800 mil encomendas internacionais ao mês, e isso só tem crescido”, diz um diretor de uma varejista de moda.
Na interpretação de empresários varejistas ouvidos, pela informação que eles obtiveram junto a parlamentares petistas nesta tarde, foi uma vitória da primeira-dama, Janja, que teria posição contrária à isenção, após a reação vista nas redes sociais, e ela tratou do assunto com Lula nos últimos dias.
“Talvez devêssemos ter falado com Janja porque parece que ela tem mais influência que o ministro”, afirma esse diretor, em tom de ironia.