De olho na commodity

Israel x Irã é motor de oscilação do petróleo, mas não afeta IBOV

A chamada “Super Quarta”, que acontece no próximo dia 18, não foi ofuscada pelo conflito no Oriente Médio

Foto: Plataforma de petróleo/ Pixabay
Foto: Plataforma de petróleo/ Pixabay

É de conhecimento geral os conflitos que acontecem no Oriente Médio. Os constantes ataques entre Irã e Israel, sem uma perspectiva de cessar-fogo — especialmente após as movimentações de Donald Trump —, trouxeram bastante volatilidade ao petróleo. A variação da commodity preocupa especialistas, pois pode gerar um alto risco inflacionário no mundo todo.

Na última sexta-feira (13), o petróleo “explodiu”, mas, na segunda-feira (16), foi observada queda tanto no Brent quanto no WTI. Na manhã desta terça-feira (17), a alta foi percebida novamente. Apesar disso, quando olhamos para os índices da Ásia, por exemplo, as variações são positivas.

Diante disso, levanta-se a questão: os mercados estão ignorando os ataques? O analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos, Alison Correia, respondeu ao BP Money. Na sua avaliação, há muito “em jogo” para que seja algo ignorado, mas os efeitos são muito isolados na região.

Contudo, isso não significa que não existam riscos. “O que poderia pegar é, de repente, se o Irã tentasse bloquear o Estreito de Ormuz, bloquear a circulação de petróleo, algo do tipo”, comentou o especialista. Ele pontuou que isso pode ser muito difícil de acontecer, porque poderia provocar alguma movimentação dos EUA em relação ao conflito.

“Por ora, é algo que é muito triste, obviamente, ninguém gostaria que estivesse acontecendo, mas, de certa forma, é um fato bem isolado”, pontuou.

Conflito Israel x Irã não afeta o Ibovespa

Ainda na avaliação do analista, o que concretiza a tese de que é um conflito com efeito isolado é o desempenho do Ibovespa em junho. Neste mês, o índice acumula alta de cerca de 2%.

Além disso, a chamada “Super Quarta”, que acontece no próximo dia 18, não foi ofuscada pelo conflito no Oriente Médio. Na data, Brasil e Estados Unidos vão anunciar suas decisões sobre os juros de seus respectivos países.

No Brasil, além da expectativa pela política monetária, os investidores acompanham os desdobramentos das medidas envolvendo o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Na segunda-feira, a Câmara dos Deputados aprovou, por 346 votos a 97, o requerimento de urgência do PDL (Projeto de Decreto Legislativo) 314 de 2025, que revoga o decreto do governo que aumentou o IOF. Com isso, a proposta pode ser votada no plenário a qualquer momento.

A aprovação da urgência foi uma forma de pressionar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Logo, representa uma derrota para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que articulou a medida para elevar a arrecadação e evitar novas restrições no Orçamento de 2025.

Nos Estados Unidos, é esperado que a taxa de juros seja mantida inalterada, entre 4,25% e 4,50%, o que tem causado descontentamento em Trump. “Ele quer um corte a qualquer custo na taxa de juros por lá. E, realmente, os índices inflacionários norte-americanos têm vindo comportados”, observou o especialista.

Os últimos indicadores inflacionários divulgados vieram abaixo do esperado, apontando para uma alta nos preços controlados. Apesar disso, para o presidente do Fed (Federal Reserve), Jerome Powell, a inflação deve crescer no segundo semestre de 2025, especialmente quando as taxações fizerem efeito. Por esse motivo, a autarquia está agindo com cautela.

Conflito Irã-Israel afeta segmento de fertilizantes

Além das questões envolvendo o segmento do petróleo, as tensões no Oriente Médio elevaram os preços da ureia no mercado de papel. Na perspectiva de Renata Cardarelli, especialista em agricultura e fertilizantes da Argus, as incertezas em relação à disponibilidade global do nitrogenado e a potencial restrição na oferta contribuem para que muitos participantes se retirem do mercado físico.

O preço médio da ureia granulada estava em US$ 398 por tonelada CFR (Cost and Freight) Brasil em 12 de junho, quando o mercado de nitrogenados estava com baixa liquidez. Na ocasião, investidores aguardavam os desdobramentos do leilão indiano de compra de ureia.

O leilão de compra do nitrogenado ficou em segundo plano, em meio à escalada das tensões no Oriente Médio, com o preço médio subindo para US$ 430 por tonelada CFR Brasil em 13 de junho.

Em 2024, o Irã forneceu cerca de 19% da ureia importada pelo Brasil, respondendo por aproximadamente 1,6 milhão de toneladas das 8,3 milhões de toneladas adquiridas pelo país.