A avaliação de estrategistas do JP Morgan, indica que a forte concentração de investidores locais na moeda brasileira contra o dólar, pode diminuir as estimativas de ganhos relevantes no curto prazo. Embora essa não seja a única razão apontada para desanimar as apostas na valorização do Real.
Tania Escobedo Jacob, Gisela Brant e Santiago Calcano, agentes que assinaram a avaliação do JP Morgan, dizem que “o posicionamento pesado [em real] reduz o espaço para ganhos no mercado spot (à vista) em posições compradas em real e torna a moeda mais propensa a movimentos bruscos, desencadeados por correções técnicas”.
O Real chegou a desvalorizar em torno de 2,5%, após alcançar o valor de US$ 4,80, levado pela mudança de postura do Federal Reserve (FED). Considerando o movimento das outras moedas de mercados de países emergentes, a rota do Real está alinhada.
Contudo, o curso tomado pela moeda brasileira, possivelmente, segundo o Valor Econômico, foi amplificado no mercado doméstico, por conta do posicionamento técnico pesado dos investidores locais.
“A recente venda de reais é, em nossa opinião, mais um ajuste técnico do que uma mudança fundamental da maré”, diz a análise do JP Morgan.
Desempenho do Real na avaliação do JP Morgan
O banco citou ainda, de acordo com o Valor, que o índice de posicionamento no Real (com dados da B3, do CME Group e de pesquisas internas) indica que o desempenho da moeda brasileira terá uma aposta pesada. Isso aconteceria por ela ficar no chamado “heavy-long”, patamar próximo das máximas históricas.
“Este índice captura predominantemente o posicionamento de um prazo bastante curto, do chamado ‘dinheiro rápido’, em vez de um posicionamento real do dinheiro, e, portanto, é útil como um indicador tático, na nossa avaliação”, diz o banco.
O indicador alcançou o 1,05 ponto em agosto de 2023, e chegou à máxima de 2,24 pontos na última semana do ano, segundo os estrategistas. Jacob, Brant e Calcano, agentes do JP Morgan, dizem que isso se diferenciou da postura mais neutra que prevaleceu no primeiro semestre do ano passado, quando muitos participantes do mercado, principalmente os locais, permaneceram pessimistas nos ativos brasileiros devido a riscos políticos.
Porém, o que mudou a perspectiva foi ter passado o medo com uma possível alteração da meta de inflação, aliado ao fim das dúvidas quanto à autonomia do Banco Central (BC).
Diferença entre investidores
Quanto aos investidores estrangeiro, o JP Morgan diz que a aposta no real continua estável. Segundo a instituição, em uma pesquisa com clientes o resultado apontou que os agentes financeiros de fora do Brasil continuam otimistas com a moeda nacional. Por isso, ela tem um dos melhores posicionamentos do mercado emergente (overweight).
O CME compartilha da mesma percepção, de acordo com o Valor, já os dados locais da B3 apontam divergência. Segundo o veículo, os estrangeiros têm adotado visão mais pessimista com a queda do Real, sobretudo via óla futuro e cupom cambial (DDI).
De toda forma, outro ponto ao qual o JP Morgan chama atenção é que a posição do investidor local pode ser algo de curto prazo, e, segundo o banco, isso põe em risco a posição da moeda brasileira contra o peso colombiano.
Mesmo em meio a todos os alertas, o JP Morgan manteve sua estimativa otimista para o Real em 2024. Conforme que examinam os estrategistas, a moeda seguirá entre as mais atrativas na estratégia de “carry trade”, já que as taxas reais permanecem altas em um ambiente de desinflação e um banco central cauteloso.
“As contas externas também deverão permanecer estáveis , com um déficit de 1,4% do PIB em 2024, o que seria pouco em relação ao resto da América Latina e à sua própria história, ancorando nossa visão positiva de médio prazo sobre a moeda”, afirmam.