
Segundo o JPMorgan, o primeiro semestre de 2025 foi positivo para o Brasil, cujas ações se destacaram no cenário global ao oferecerem alto rendimento, favorecidas por uma posição técnica leve e, principalmente, pela fraqueza do dólar americano.
Além disso, o país atuou como um beneficiário indireto da guerra comercial, por estar relativamente protegido das tarifas que afetaram outras economias.
Esse cenário, no entanto, mudou. Segundo as estrategistas do JPMorgan, Emy Shayo e Cinthya Mizuguchi, o Brasil perdeu essa vantagem após o anúncio de tarifas de 50% sobre suas exportações aos EUA, feito pelo presidente Donald Trump em 9 de julho.
A medida entra em vigor em 1º de agosto e representa um salto expressivo em relação aos 10% anunciados no chamado “Dia da Libertação”, em 2 de abril.
A justificativa apresentada na carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) incluiu a situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), decisões recentes do Supremo Tribunal Federal e o que Trump classificou como uma relação comercial “muito injusta” com o Brasil.
Em resposta, Lula defendeu a adoção de tarifas recíprocas, com base na Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada em abril deste ano.
A reação do mercado foi imediata: o Ibovespa recuou 1,3%, enquanto o real se desvalorizou 2,2% frente ao dólar.
Apesar do impacto, Emy e Cinthya avaliam que o cenário ainda está em aberto. As tarifas anunciadas não devem ser tratadas como definitivas, já que negociações podem ser retomadas, com possibilidade de flexibilização das medidas.
“O anúncio de Trump foi um banho de água fria para o mercado acionário brasileiro, que vinha registrando uma sequência de entradas de capital estrangeiro nos últimos três meses, desfrutando de um momento positivo. Embora seja difícil estimar como os mercados reagirão, não descartamos uma deterioração adicional até que haja definição e maior clareza”, avaliam as estrategistas. No primeiro semestre, o Ibovespa subiu 15,4%, enquanto o dólar caiu 12%.
Do ponto de vista microeconômico, empresas exportadoras e aquelas com dívidas em dólar tendem a ser mais impactadas pela desvalorização do real. Já companhias com receitas significativas em moeda estrangeira podem enfrentar alguma volatilidade até que o cenário se estabilize.
“No geral, seguimos com uma visão construtiva para os gatilhos de médio e longo prazo que devem sustentar o mercado: o início do ciclo de afrouxamento monetário até o fim do ano e as eleições de 2026”, afirmam Emy Shayo e Cinthya Mizuguchi.
Empresas mais afetadas
Os setores mais impactados pelas tarifas são o industrial e o de materiais. No segmento industrial, empresas como Embraer (EMBR3), Tupy (TUPY3), Mahle Metal Leve (LEVE3) e WEG (WEGE3) têm participação relevante de receitas expostas ao mercado americano, variando de 6% a 13%, e, por isso, enfrentam maior risco com as novas tarifas.
No caso da Vale (VALE3), o impacto das tarifas é limitado, já que menos de 1% de suas receitas vêm dos EUA. Entre as siderúrgicas, as tarifas já estão em vigor, mas a exposição ao mercado americano é considerada baixa.
No setor de papel e celulose, a Suzano (SUZB3) aparece como a mais exposta, com cerca de 16% da receita atrelada aos EUA. A Klabin (KLBN11), por sua vez, tem menos de 2% de dependência do mercado norte-americano.
Entre as empresas de bens de consumo básico, JBS (JBSS3) e Minerva (BEEF3) também possuem exposição relevante aos EUA.
Setores financeiros, imobiliário, saúde, telecomunicações, educação e utilidades não têm exposição direta às tarifas, pois são majoritariamente focados no mercado interno.
Do ponto de vista macroeconômico, o JPMorgan estima que cada aumento de 10 pontos percentuais nas tarifas representa uma perda de 0,2% a 0,3% no PIB brasileiro. Com a tarifa de 50% anunciada por Donald Trump, o impacto total pode variar entre 0,8% e 1,2% do PIB.
No entanto, se o setor de aço e alumínio for excluído da medida, como ainda não está totalmente claro, o impacto pode ser até 20% menor. Além disso, parte das perdas pode ser compensada pela realocação de exportações para outros mercados.
“De modo geral, dada a incerteza sobre o alcance e o momento exato da implementação das tarifas, como visto em negociações com outros países, mantemos nossas projeções para o PIB e para o saldo comercial inalteradas por ora”, concluem as estrategistas do JPMorgan.