Quando o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) anunciou, no dia 21 de junho, a manutenção da taxa básica de juros em 13,75%, um balde de água fria foi jogado em diversos setores da economia.
Porém, para um grupo que já enfrenta sérias dificuldades, a notícia foi ainda pior. O valor atual da Selic é mais um obstáculo para as empresas que estão enfrentando processos de recuperação judicial.
O Indicador de Recuperação Judicial e Falências da Serasa Experian, mostra que os pedidos aumentaram 105,2% em maio de 2023, na comparação com o mesmo período do ano passado.
O analista de investimentos do Andbank, Fernando Bresciani, explica que o cálculo dos juros para empresas que buscam o recurso são diferentes, mas que mesmo assim, essas companhias são prejudicadas pela taxa básica.
“Quando uma empresa entra em recuperação judicial ela precisa de um plano para poder pagar todo mundo. Então todos se posicionam e o juiz define um plano de acordo com o que a empresa quer fazer. Geralmente isso é corrigido pela correção tributária de cada tribunal. Então é um juro muito caro, diferente daquelas empresas que não estão em recuperação judicial. Mas juro elevado é ruim para todo mundo, porque você fatura na receita e no seu operacional, mas a despesa financeira como tudo e vai diminuindo o seu lucro”, disse o analista ao BP Money.
Para a advogada especializada em direito empresarial do Escritório Zilveti Advogados, Marcela Cavallo, os juros praticados no Brasil não ajudam em nada as empresas que precisam de reestruturação financeira.
“É plenamente seguro afirmar que a alta taxa de juros compromete, de diversas formas, a capacidade de reestruturação de uma empresa durante seu procedimento de recuperação judicial, podendo, inclusive, colocar em risco a própria eficácia da medida já que, para o sucesso da recuperação judicial, não basta somente ocorrer uma eficaz renegociação das dívidas. Sem capital, a empresa não possui condições de retomar as atividades de forma sustentável”, pontua a advogada.
Outro lado
Apesar do cenário adverso, ainda existe possibilidade de que os altos juros sejam benéficos para empresas em RJ. O advogado especialista em finanças corporativas e sócio do escritório Gouveia Zakka Sociedade de Advogados, Vitor Magalhães da Silva, diz que setores podem se aproveitar da situação.
“Empresas importadoras, por exemplo, podem ser beneficiadas pela alta da taxa de juros, pois esse aumento pode significar uma queda na taxa do dólar, fazendo com que investidores estrangeiros passem a olhar para o mercado brasileiro como uma possibilidade de investimento”, descreveu.
“A alta da taxa de juros também pode ter algum reflexo no mercado de ações, pois com o aumento dos juros, investimentos em renda fixa tendem a se tornar mais vantajosos, podendo influenciar o investidor a optar por um investimento de renda fixa com bons resultados, ao invés de optar por um investimento em renda variável com bom retorno, mas com maiores riscos”, acrescentou Vitor.
Ata do Copom: analistas veem maior chance de corte na Selic em agosto
O Banco Central divulgou na terça-feira (27) a ata da última reunião do Copom, encerrada em 22 de junho e que decidiu pela manutenção da taxa Selic em 13,75%. No documento, o BC afirmou que irá manter a taxa Selic no patamar atual “até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
Apesar disso, a ata do Copom também revelou uma divergência entre seus membros em relação à sinalização sobre os próximos passos da política monetária. Enquanto a maioria defendeu a possibilidade de um processo gradual de redução na próxima reunião, marcada para agosto, um grupo adotou uma postura mais cautelosa.
Na avaliação de Thamiris Abdala, Diretora Organizacional e Controladoria do Grupo Epicus Outlier, o documento do órgão monetário trouxe uma maior expectativa em relação à possibilidade de um corte na taxa de juros a partir de agosto deste ano.
“A ata da reunião do Copom trouxe uma expectativa maior quanto à possibilidade de corte nos juros a partir do segundo semestre. O documento até descreve: “a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”. Com isso, é possível observar uma grande chance de redução de 0,25% na taxa Selic a partir de agosto”, disse Abdala ao BP Money.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, ainda destaca que o documento do BC veio em linha com a reunião da semana passada, destacando a importância do combate à inflação.
“O Copom manteve a linha da última reunião, ressaltando a importância da convergência da expectativa de inflação no médio prazo, horizonte esse que inclui 2024, e que para tanto seria importante a manutenção da taxa Selic por mais tempo, o que poderia significar a primeira vista uma sinalização de juros altos por mais tempo”, observou Alves.
“Ao mesmo tempo, o Copom deixou pistas para o mercado dos próximos passos, de que, com uma mudança de conjuntura fiscal, tributária e da inflação global, o contexto da política de juros pode mudar para corte a partir do segundo semestre de 2023”, acrescentou o chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.