Na Light (LIGT3), capacidade para honrar dívidas é questionada

Ações da companhia caem mais de 10% pelo segundo pregão consecutivo

Pelo segundo pregão consecutivo, as ações da Light (LIGT3) caem mais de 10%. Na última terça-feira (31), os papéis da companhia fecharam em queda de 10,14%, cotados a R$ 3,81. A derrocada acontece após a notícia sobre a contratação da Laplace Finanças, uma assessoria que ajudou, recentemente, a Oi (OIBR3) durante o processo de recuperação judicial. Segundo especialistas, o movimento dos papéis acontece em linha com a aversão ao risco dos investidores. 

Para Heitor De Nicola, especialista em renda variável e sócio da Acqua Vero, existe um receio do mercado em relação a capacidade da Light em honrar com a amortização de empréstimos, financiamentos e debêntures que somam R$ 3 bilhões e podem chegar a R$ 4 bilhões em 2024. 

“É uma especulação que vem em torno da contratação da assessoria que acabou de sair de uma recuperação judicial ajudando a Oi. A contratação dessa assessoria, ligando os pontos do resultado do último trimestre com as amortizações de empréstimo, financiamento e debêntures, com uma dívida podendo chegar a R$ 4 bilhões, e a possibilidade da companhia não honrar, poderia resultar em um pedido de recuperação judicial. Esse é o cenário que se tem até agora”, disse Nicola.  

Em resposta aos questionamentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Light afirmou que a contratação da Laplace visa, principalmente, “apresentar melhorias em sua estrutura de capital. 

Há exatamente uma semana, na quarta-feira (25), a BlackRock reduziu participação no capital social da Light para 34.610.231 ações ordinárias, o que corresponde a 9,3% das ações. A BlackRock detinha mais de 10% de participação acionária na companhia. Segundo a gestora, a redução da participação acionária estava ligada a “estratégias de investimento”.

O assessor de investimentos da Valor, Paulo Luives, destacou que o movimento do mercado em relação às ações da Light é estritamente de aversão ao risco.  

“É importante ressaltar alguns pontos. A questão do término da concessão de distribuição em 2026 é um deles. A concessão de distribuição, na verdade, vence em junho de 2026 e Light tem até junho deste ano para mostrar interesse na renovação. Após isso, a ANEEL vai ter 18 meses, mais ou menos, para responder sobre a renovação e há um ponto de preocupação do investidor com relação ao risco de uma não renovação”, disse Luives. 

Segundo o especialista, a não renovação da concessão da Light poderia influenciar diretamente a questão da rolagem das dívidas. 

“A empresa tem um grau de alavancagem elevado e essa questão de rolagem das dívidas fica muito dependente dessa definição de renovação ou não da concessão”, disse Luives.

O especialista destacou que, com a contratação da consultoria Laplace Finanças, a ideia é que a empresa possa tomar algumas medidas, como diminuir o montante capex para 2023, melhorar a estratégia de combate a perdas na parte de energia e ajudar na complexidade do grau alto de endividamento da empresa, melhorando o quadro operacional da companhia.

“Eu acho que são esses três pontos aí, mas a questão mesmo foi um medo do investidor nesse momento com relação a essa possibilidade de não ocorrer a renovação ou de uma complexidade maior para renovar essa concessão e o impacto que isso pode causar na companhia”, disse Luives.

Fitch revisou risco da Light para negativo

A agência de classificação de risco Fitch já havia informado, no início deste ano, que existia uma preocupação com as incertezas sobre a renovação da concessão da Light Sesa (uma das cinco empresas do grupo Light). Com isso, a agência revisou a perspectiva da Light de estável para negativa. Segundo a Fitch, as incertezas na renovação da concessão elevam risco de refinanciamento para a Light. 

“A revisão da perspectiva para negativa reflete as preocupações com a capacidade da Light em acessar novas linhas de crédito, dadas as incertezas sobre a renovação da concessão da Light Sesa. A capacidade de a Light Sesa securitizar seus recebíveis pode ser uma importante fonte de recursos em 2023, porém pode não ser suficiente para suportar o refinanciamento esperado para 2024”, informou a Fitch.

A Fitch também ressaltou que os juros elevados e o repasse de R$ 840 milhões em créditos tributários aos consumidores da Light Sesa pressionarão o fluxo de caixa livre do grupo em 2023. 

“Esses efeitos devem ser parcialmente compensados por uma importante redução nos custos e investimentos da Light Sesa, refletindo a mudança de estratégia para priorizar a liquidez, apesar do provável aumento das perdas de energia”, informou a Fitch no início deste ano.