Com Lula, vale investir no exterior?

Analistas divergem, mas apontam que incertezas com Lula podem ditar ritmo e destino dos investimentos

Desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no final de outubro, o mercado brasileiro observa atento as movimentações da Bolsa e como as declarações do futuro presidente afetam os ativos por aqui. Mas, com Lula no poder, vale investir no exterior? Analistas entrevistados pelo BP Money divergem. 

Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, o investimento no exterior deveria ser atemporal e independente do nome que ocupa o cargo de Presidente da República. Afinal, segundo ele, o brasileiro já tem sua vida exposta ao dólar.

“É uma questão estrutural e independe de Jair Bolsonaro (PL) e Lula”, disse. Ainda assim, avaliando o cenário atual, o analista entende que o momento é excelente para fixar uma posição no exterior. 

“O câmbio, apesar da alta recente, ainda se mostra comportado em comparação ao que se observa em outras moedas ao redor do globo em 2022. O Brasil está bem na visão internacional e a gente viu que o dólar está comportado. Então é importante aproveitar a situação do dólar e o fato de que vários ativos no exterior tiveram uma redução de preço”, apontou Castro Alves. 

Para Lucas Sharau, assessor da iHUB Investimentos, é preciso ter cautela. Isso porque a resposta não é tão simples, e depende, segundo ele, de uma série de fatores no Brasil e nos EUA. Por lá, Sharau apontou que é importante levar em conta a situação econômica e política norte-americana no momento de tomada de decisão.

“Analisando lá fora, Joe Biden, presidente dos EUA, tem uma política muito frágil, mal vista pelos economistas, por não ter um pulso firme em relação às medidas econômicas. Isso foi possível perceber quando o governo tardou em conter a inflação americana e os reflexos da guerra da Ucrânia”, explicou. 

Segundo o analista, caso o governo americano aumente mais os juros ou os mantenha altos por mais tempo, isso somaria contrário ao real.

“E deve entrar na conta do investidor e na sua tomada de decisão”, apontou, já que, se os EUA aumentam os juros, o real enfraquece e há favorecimento dos investimentos lá fora, na visão dele.

Em relação à bolsa americana, Sharau apontou que a máxima “juros altos, bolsas em baixa”, é um cenário de dois anos, até o final do governo Biden. “Com juros mais altos, isso deprecia o mercado e as bolsas”, explicou.

Incertezas da equipe econômica de Lula também influenciam investimentos

Para o estrategista-chefe da Avenue, as diferenças entre Lula e Bolsonaro é uma: a incerteza. Com Bolsonaro, o cenário era mais conhecido, com diretrizes econômicas já definidas. Já Lula ainda não deixou claro seus próximos passos, o que faz com que declarações do futuro presidente sejam vistas com maus olhos. 

“O discurso foi infeliz por conta do momento em que aconteceu. Se ele tivesse já definido ministros da Fazenda e Economia, o mercado já poderia entender, por exemplo, se o que disse pode ou não acontecer”, disse.

Castro Alves se referiu às declarações de Lula sobre o fiscal e o teto de gastos, que derrubaram a Bolsa na última quinta-feira (10). 

“Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país? Por que que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos? É preciso fazer superávits? É preciso fazer tetos de gasto? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gasto não discutem a questão social do país?”, questionou Lula em conversa com deputados no CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil), em Brasília. 

Para Sharau, a incerteza com Lula também é fator importante na tomada de decisão dos investimentos.

“O nome do próximo ministro da Economia de Lula também pauta o fluxo de investimentos. Se for um nome técnico e isento de políticas, que tome medidas pró-mercado, isso pode favorecer o cenário de renda variável no Brasil”, finalizou.

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