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Lula teme guerra na América do Sul e pede 'bom senso' entre Venezuela e Guiana

Em entrevista coletiva em Dubai, o presidente confirmou que tem medo de uma guerra na vizinhança

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo (3), a esperança de “bom senso” no dia em que a Venezuela realiza um referendo para anexar um território rico em petróleo, correspondente a cerca de dois terços do território da Guiana. Em uma coletiva de imprensa em Dubai, o presidente confirmou que teme uma guerra na vizinhança e afirmou que “a última coisa que a América do Sul precisa agora é de confusão”.

Aos jornalistas, Lula mencionou ter conversado por telefone com o presidente da Guiana, Irfaan Ali. Ele também destacou que o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, esteve em Caracas para dialogar com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, buscando evitar uma escalada de conflitos.

“Tem um referendo, provavelmente o referendo vai dar o que o Maduro quer [anexar a Venezuela], porque é um chamamento ao povo para aumentar aquilo que ele entende que seja o território dele”, afirmou Lula. “Só tem uma coisa que o mundo não está precisando. Se tem uma coisa que a América do Sul não está precisando agora é de confusão. Se tem uma coisa que precisamos para crescer e melhorar a vida do nosso povo é a gente baixar o facho, trabalhar com muita disposição de melhorar a vida do povo e não ficar pensando em briga. Não ficar inventando história. Espero que o bom senso prevaleça do lado da Venezuela e do lado da Guiana.”

Lula, que esteve em Dubai para participar da conferência climática COP28, foi questionado pelo Valor se teme a possibilidade de um conflito entre os dois países.

“Quem é que não tem medo de guerra, cara? É uma contradição a gente fazer um encontro dessa magnitude [COP28] para discutir a redução de gases de efeito estufa e os caras jogando bomba”, afirmou. “A humanidade deveria ter medo de guerra, porque só faz guerra quando falta o bom senso. Quando o poder da palavra se exauriu por fragilidade dos conversadores. Vale mais a pena uma conversa do que uma guerra.”

Disputa tem quase 200 anos

A disputa fronteiriça entre Venezuela e Guiana remonta a quase dois séculos. Em 1835, o governo britânico iniciou a delimitação das fronteiras de sua colônia, estabelecendo o rio Orinoco como divisa, anexando um vasto território rico em ouro reivindicado pelos venezuelanos como seu. Para a Venezuela, o limite de suas terras se estendia até o rio Essequibo, centenas de quilômetros a leste.

Em 1899, uma comissão arbitral em Paris concedeu 95% do território disputado à Guiana. No entanto, em 1962, a Venezuela declarou a região concedida à antiga colônia no século anterior como uma Zona em Reclamação. Com a independência da Guiana em 1966, os dois países assinaram um tratado em Genebra reconhecendo a controvérsia, atribuindo ao Secretário-Geral da ONU autoridade para mediar.

Desde 2018, a questão está sendo debatida na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, por sugestão do atual secretário-geral, Antônio Guterres. A mudança ocorreu três anos após a ExxonMobil ter descoberto vastas reservas de petróleo na região, reacendendo o conflito. Vale notar que a Venezuela não reconhece a jurisdição do tribunal para decidir sobre a disputa.

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