Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) terão dificuldades no pós-pandemia; entenda motivo

Setor teve leve recuperação nas vendas e deve crescer 10,6% comparado a 2021, segundo IPC Maps

As empresas do varejo – como Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) – vivem uma montanha russa na bolsa de valores de São Paulo (B3). Mesmo com dados divulgados recentemente, com boas perspectivas para o setor, especialistas alertam para a falta de previsibilidade em relação ao fim do ciclo de alta da taxa de juros e do avanço da inflação. A somatória desses dois fatores têm reduzido o ímpeto da população pelo consumo, o que deixa o setor longe de uma volta aos níveis pré-pandemia.

De acordo com o especialista em potencial de consumo brasileiro Marcos Pazzini, responsável pelo IPC Maps, o varejo, englobando alguns setores básicos do consumo da população, deve crescer 10,6% comparado a 2021. 

“É um cenário positivo para o comércio, que de certa forma vem recuperando as perdas decorrentes da pandemia, mas pelos nossos números está um tanto quanto longe de voltar aos padrões do período pré-pandemia, porque nesse ano esses setores do varejo que avaliamos e selecionamos para avaliar devem movimentar cerca de R$ 372 bilhões. Em 2019, movimentaram R$ 425 bilhões”, destacou Pazzini.

“E essa comparação está sendo feita sem levar em conta a inflação. São só os números correntes, analisando os consumos das famílias. Ainda estamos um pouco longe dos padrões pré-pandemia”, complementou o especialista. 

O especialista em gestão de empresas Carlos Paiva afirma que existe um otimismo no mercado de que o consumo do varejo em 2022 aumentará bastante. Segundo ele, os números dessa tendência já estão aparecendo e são impulsionados por medidas divulgadas pelo governo, recentemente, como o auxílio Brasil.

“O consumo está crescendo. Um dos fatores para o curto prazo é o novo auxílio Brasil nos próximos 6 meses. O governo está injetando dinheiro no bolso das famílias que vão para a rua consumir. Com mais poder de compra, milhares de brasileiros sairão para as ruas para consumir mais.

Paiva também destaca que outras medidas como a diminuição nos impostos, principalmente nos combustíveis, já tem surtido efeito no bolso da população.

“Com essa redução, acaba sobrando dinheiro no bolso das famílias no final do mês, possibilitando também que a população saia para consumir. Outro sinal positivo é que entramos no momento de desaceleração da inflação. Estabilizamos a inflação, e a tendência agora é que ela comece a desacelerar. Com isso, o varejo deve crescer ainda mais”, disse Paiva.

Como ficam Magazine Luiza, Via, B2W e outras empresas do setor na bolsa?  

Os analistas do mercado financeiro, especializados em empresas do varejo, consultados pelo BP Money, destacaram que o setor depende bastante de uma economia menos inflacionada e uma taxa de crédito mais branda, ou seja, um início de corte na Selic. O entrave é que, por enquanto, a autoridade monetária brasileira não tem dado sinais de que isso acontecerá no curto ou no médio prazo. 

Além disso, nos EUA, o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) anunciou nesta quarta-feira (27) um novo aumento na taxa de juros, o que – na teoria – acaba deixando o cenário mais desafiador para empresas de alto risco da bolsa brasileira. Isso porque os investidores preferem aplicar em títulos de renda fixa (dos EUA), que são mais seguros, além de abrir espaço para uma fuga dos estrangeiros do mercado financeiro doméstico. 

“Não há nenhum esboço de um controle inflacionário no curto ou médio prazo que possa servir de gatilho para destravar o setor varejista.Inflação já está há um tempo nos assolando e pode sim continuar por um tempo um pouco mais longo”, disse Charo Alves, analista da Valor Investimentos.  

“A gente precisa, realmente, de um crédito mais barato, uma inflação mais barata para o setor destravar. Por isso acho que a níveis de pré-pandemia a gente não tem uma perspectiva favorável para que isso retorno no curto ou médio prazo, porém os níveis de desconto do segmento em relação ao valuation e os múltiplos que a empresa negocia já estão bem atrativos, mas é um movimento mais pra frente”, complementou Alves. 

O analista da Valor Investimentos também salientou que o fato do Wal Mart, principal varejista global, ter indicado resultados abaixo das expectativas – indicando até uma mudança no hábito de consumo do cidadão médio americano – também pode servir de alerta para o varejo (a nível global). 

“Indica que essa inflação já está surtindo efeito de fato no cotidiano das pessoas e é uma tendência que ainda não tem um fim próximo”, afirmou Alves. 

O analista afirmou que, por essas empresas terem perdido bastante valor na bolsa, para quem deseja ter varejo na carteira, é preciso ficar atento à quantidade de ações. 

“É bom ter um pouco menos do que eventualmente deveria, por conta desse processo de muita volatilidade para carteira, ainda assim tem uma inflação que pode perdurar por um prazo mais elevado, mas talvez com os dados de IPCA mais brandos e a expectativa de uma inflação menor para o ano que vem o setor pode ganhar fôlego, mas voltando no curto e médio prazo tende a sofrer”, afirmou Alves.

O analista da Nord Research, Victor Bueno, afirma que ao olhar com atenção para as principais empresas do setor na bolsa como Magalu, Via e Americanas, é possível notar uma recuperação de curto prazo para as ações. 

“A gente viu Magalu subindo bastante nos últimos 30 dias, chegou a subir 50%, agora reduziu um pouco, mas a gente vê sinais de uma possível retomada do mercado ao olhar para essas empresas com mais atenção, ao passo que elas foram deixadas de lado por muito tempo”, disse Bueno.

“Temos que acompanhar a evolução dos fundamentos dessas empresas. Nas próximas semanas teremos a divulgação de resultados do 2º trimestre de 2022 para ver o avanço ou não dessas empresas dentro desse cenário. Mesmo sendo desafiador, algumas empresas desse setor possuem bons fundamentos e trazem bons fundamentos a longo prazo”, complementou o analista da Nord.

O especialista concluiu afirmando que, no momento, não vê como uma boa oportunidade a compra de ações de varejistas na B3 – como Magazine Luiza e Via. “Até pelo cenário impactando bastante o comportamento das ações no curto prazo. O mercado é muito incerto no curto prazo. A gente não acredita ser uma boa oportunidade no momento”, pontuou Bueno.