A Magazine Luiza (MGLU3) e a Via (VIIA3), duas das maiores varejistas do País, divulgam nesta quinta-feira (9) seus balanços do quarto trimestre de 2022. Apesar dos últimos resultados trimestrais terem sido negativos, há certa expectativa entre os investidores, por conta dos eventos da Black Friday e da Copa do Mundo do Catar.
No entanto, apesar do otimismo de parte do mercado, os resultados das duas companhias ainda não serão positivos, segundo projeções de analistas consultados pelo BP Money.
Nayara Mota, fundadora da Who is Missing?, empresa de implementação de diversidade e inclusão no ambiente corporativo, explica que o cenário econômico atual brasileiro – taxa de juros em 13,75% e inflação alta – dificultou a vida das companhias de varejo no final de 2022, com suas margens de lucro sendo cada vez mais pressionadas.
“No final de 2022, tivemos uma Black Friday morna, sem muitas promoções e oportunidades para o consumidor. Podemos dizer que isso foi devido ao aumento da inflação e da taxa de juros, tanto no Brasil quanto nos EUA, e como consequência, o Índice de Consumo do brasileiro caiu 9,8%. Logo, podemos esperar uma neutralidade dos resultados da Via e da Magalu, sem muitas surpresas”, disse Mota.
Em um cenário de juros altos e inflação galopante, é preciso haver cautela com as varejistas. Na visão de Lucas Lima, analista da VG Research, não será dessa vez que Via e Magalu irão apresentar um balanço financeiro positivo. Apesar disso, o especialista acredita que ambas reportem um crescimento do GMV (Volume Bruto de Mercadoria) por conta da Copa do Mundo de 2022.
“A gente ainda permanece cauteloso com as varejistas de e-commerce, visto que é um setor que depende diretamente dos níveis de inflação e taxa de juros. No quarto trimestre de 2022, esperamos que tanto o Magazine Luiza quanto a Via apresentem um resultado negativo”, afirmou o analista da VG Research.
“As companhias ainda devem apresentar crescimento no GMV tanto na comparação anual quanto na trimestral, beneficiado pelo evento da Copa do Mundo que impulsionou a demanda por alguns bens”, completou.
Segundo Lucas Caumont, estrategista de investimentos da Matriz Capital, é esperado que a Magazine Luiza tenha resultados mais fortes no quarto trimestre de 2022, pois a varejista tem conseguido entregar uma lucratividade maior a cada trimestre. No entanto, o analista ainda projeta que a companhia registrará prejuízo.
“Mesmo que não se espere um bom resultado, por conta do momento atual do setor, é esperado que Magazine Luiza apresente números mais fortes referentes ao quarto trimestre de 22. A empresa tem conseguido entregar uma lucratividade maior com o passar dos trimestres, movimento dado por um fluxo de caixa mais saudável na companhia”, relatou.
“Apesar de ser possível, ainda não espero uma grande surpresa nos resultados. Historicamente o quarto trimestre é um período mais forte para vendas no varejo, porém as vendas da Black Friday da Magazine não surpreenderam e ficaram dentro do esperado”, acrescentou Caumont.
Caso Americanas poderá impactar próximos balanços?
Em 11 de janeiro, a Americanas (AMER3) anunciou ter encontrado “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões, fato que horrorizou o mercado financeiro brasileiro. Semanas depois, a varejista entrou na Justiça com um pedido de recuperação judicial.
A derrocada da companhia da 3G Capital está sendo vista pelo mercado como uma grande oportunidade para a Via e para a Magazine Luiza, que poderão ocupar o espaço deixado pela empresa e aumentar suas margens ao longo de 2023.
Em entrevista ao BP Money, o comentarista econômico Cesar Beck explica que, diferente das projeções do mercado, o rombo bilionário da Americanas irá impactar negativamente os balanços das duas varejistas ao longo de 2023.
“Creio que o rombo da Americanas irá influenciar de forma negativa os próximos balanços da Via e da Magalu. Por conta do escândalo da varejista, os grandes bancos, muitos deles credores da Americanas, já estão extremamente cautelosos nas distribuição de novos contratos de empréstimos, algo que prejudica as empresas de varejo”, afirmou Beck.
“Além disso, os bancos também estão cautelosos, no caso da Via e da Magazine Luiza, em ‘rolarem as dívidas’ de empréstimos que estão para vencer ainda nos próximos trimestres de 2023. Infelizmente, estamos vivenciando uma potencial quebra de muitas empresas de varejo por uma enorme falta de credibilidade de todas as empresas de conseguirem manter suas atividades comerciais nos próximos anos”, complementou o analista.
Diferente de Beck, Mota acredita que o rombo contábil da Americanas nada tem a ver com as duas outras varejistas, pois foi um caso isolado. Em sua visão, o que poderá impactar tanto os balanços da Magalu quanto da Via Varejo em 2023 é a taxa de juros brasileira, a chamada Selic.
“O que aconteceu com a Americanas foi um caso isolado e não algo que impactasse o varejo como um todo. Agora, se o Banco Central optar por aumentar a taxa de juros para conter a inflação, por conta da volta dos impostos federais, que irão causar um aumento dos preços dos combustíveis, isso irá comprometer os resultados tanto da Magalu quanto da Via Varejo ao longo de 2023, uma vez que são companhias cuja tese é de crescimento”, reiterou Mota.