No mercado acionário muitas variáveis estão em jogo quando se trata da performance das empresas. No caso da Marfrig (MRFG3), o momento positivo tem recebido apoio do dólar alto frente ao real, mas outra peça chave tem sido o posicionamento estratégico da exportadora, indicaram especialistas consultados pelo BP Money.
No acumulado de janeiro a outubro, a ação ordinária da Marfrig (MRFG3) já se aproxima de uma valorização de 50%.
O economista Natale Papa Jr. explicou que além do câmbio, a exportadora tem passado ao mercado uma sensação de segurança através dos negócios definidos recentemente, como uma recompra de ações que estavam disponíveis no mercado.
Além disso, o radar do mercado também tem acompanhado e lançado expectativas sobre outras estratégias da empresa, como sua diversificação de produtos, conforme indicou Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital.
“A empresa tem ampliado sua capacidade de produção e investido em produtos de maior valor agregado, como carne bovina de alta qualidade e cortes premium, especialmente nos EUA e América do Sul”, afirmou o gestor.
Sobre a atuação da Marfrig também paira o desempenho de outro papel importante no setor de frigoríficos, a BRF (BRFS3), visto que a empresa detém, hoje, mais de 50% de participação na companhia que já foi rival do setor de frigoríficos.
O mercado está interpretando que esse negócio é estratégico, segundo Belitardo, pois integra as operações e custos operacionais das duas companhias, o que fortalece as perspectivas de crescimento da Marfrig no setor de proteínas animais.
“A BRF está passando por um processo de reestruturação que inclui medidas para reduzir sua própria alavancagem e melhorar a geração de caixa, o que também contribui para uma maior distribuição de dividendos no futuro”, completou o analista.
Alavancagem alta e expectativas do 3TRI24
A divulgação do balanço trimestral da Marfrig é esperada para o dia 13 de novembro, mas apesar das expectativas indicarem números sólidos no período, o nível de alavancagem da exportadora seguirá sendo um ponto de muita atenção para o mercado.
Na avaliação do BTG, a dívida líquida independente da Marfrig (desconsiderando a dívida líquida da BRF) é de R$ 30,7 bilhões, o que sinaliza uma alavancagem de 8,9x com base em seu Ebitda LTM somente de carne bovina.
Para Belitardo, a empresa está em processo avançado de desalavancagem, especialmente após a venda de unidades na América do Sul para a Minerva (BEEF3), por cerca de R$ 7,5 bilhões.
“Essa transação estratégica tem ajudado a reduzir a dívida líquida da empresa, que já era significativa. Com isso, a relação dívida/EBITDA da Marfrig, que estava em 3,7x, deverá cair para abaixo de 3x assim que todos os recursos forem recebidos”, disse.
A reestruturação pela qual a BRF está passando também é um reforço positivo, afirmou Belitardo, devido à participação significativa da empresa na concorrente.
No quesito resultados, Papa Jr. afirmou esperar que a Marfrig se consolide como um dos principais players mundiais no setor de frigoríficos.
“Temos observado que a empresa vem trabalhando com uma forma muito sólida, apresentando margens operacionais e líquidas bastante consistentes e, de alguma forma, o crescimento da demanda que ela vem experimentando nos últimos meses faz a expectativa do mercado também ser positiva no fechamento de 2024”, finalizou.
Economia aquecida no exterior impulsiona Marfrig (MRFG3)
Por mais bem posicionada que a empresa esteja em negócios e estratégias, ela ainda depende do cenário macro para obter bons resultados. Em análise recente, o BTG Pactual (BPPAC11) apontou que o ciclo do gado segue positivo na América Latina, um ponto importante para a Marfrig.
Na previsão do banco, outro ciclo importante do segmento, o pecuário, logo deve atingir o pico, mas os resultados da empresa devem seguir sólidos até 2025 nesse ramo.
Ainda considerando o desempenho das carnes no mercado, o BB Investimentos também teceu uma análise recente indicando que a carne bovina esteve em alta em setembro e deve seguir o mesmo ritmo em outubro. No mês anterior, a China foi a maior compradora do item (54% do total).
No caso das carnes suína e de frango, o cenário também segue favorável, com uma expansão de 58% nas exportações, na comparação anual. O BB indicou que além da China, o Japão e os Emirados Árabes Unidos foram os principais destinos das vendas.
“A Marfrig como exportadora também se beneficia muito do aquecimento da economia global, então seus principais clientes que são Estados Unidos, China e também Emirados Árabes vem crescendo o consumo nos últimos meses e a tendência é que isso continue para um futuro próximo”, avaliou Papa Jr.
O economista acrescentou que os conflitos no Oriente Médio ainda trazem pressões inflacionárias, mas a expectativa do FMI (Fundo Monetário Internacional) é que a economia global siga em compasso de crescimento em 2024, 2025 e 2026.
“De qualquer maneira, isso traz um resultado econômico positivo também quanto à demanda de carne, seja ela bovina ou de frango ou de porco, porque naturalmente é um item de consumo essencial que o aquecimento econômico faz fomentar a demanda”, prosseguiu.
Em paralelo a isso, Ângelo Belitardo apontou que a demanda dos EUA também permanece robusta, impulsionada pelo consumo doméstico de carne bovina de alta qualidade.
“No entanto, os desafios enfrentados na Argentina, como o aumento dos preços do gado e a inflação, são pontos de atenção, mas a empresa se mantém otimista quanto ao futuro dessas operações”, pontuou.