Medo? Mandato de nova diretoria na Petrobras pode ser frutífero

O senador Jean-Paul Prates foi escolhido por Lula para presidir a Petrobras

Ex-senador pelo Rio Grande do Norte, Jean-Paul Prates (PT) foi escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidir a Petrobras (PETR3;PETR4). Com um longo histórico no setor petrolífero, Prates já afirmou que enxerga a estatal como a grande impulsionadora da transição energética no Brasil. Além disso, o novo executivo também revelou que a empresa continuará se destacando na produção de petróleo e gás natural e na busca da abertura de novas fronteiras exploratórias.

Em entrevista ao BP Money, José Augusto Gaspar Ruas, economista e coordenador do Curso de Ciências Econômicas da FACAMP, afirmou que o discurso de Prates sobre a transição energética apresenta uma mudança de perfil da companhia, desanimando aqueles investidores que visam os ganhos de curto prazo. 

“Me parece claro que há uma migração no perfil da empresa. A Petrobras, ao longo dos anos, tornou- se uma empresa de maximização de valor para aquele acionista curto prazista. Na medida em que a empresa começa a mudar esse perfil, certamente os investidores mais interessados nesse ganho de curto prazo vão sair da empresa. Contudo, isso deve se estabilizar. E a empresa vai ter a chance de produzir resultados e de atrair eventualmente investidores que tenham capacidade de enxergar a produção energética como o futuro do setor de energia”, explicou.

Na visão de Ruas, é muito importante que a Petrobras seja realmente a grande impulsionadora da transição energética no Brasil. O acadêmico da FACAMP afirma que, com essa mudança, a estatal irá se fortalecer e crescer no longo prazo, sendo algo positivo para o País. 

“Me parece uma decisão acertada do ponto de vista da estratégia de longo prazo da Petrobras. Ela vinha se desfazendo de ativos ligados ao setor de renováveis nos últimos anos, em uma estratégia de desalavancagem, algo que favorece o investidor que tem um perfil de curto prazo. Entretanto, no meu entendimento, isso pode comprometer a sua capacidade de ser uma empresa duradoura. A Petrobras precisa pensar no futuro do setor de energia, que certamente passa por uma complementação muito maior com o setor de renovável”, afirmou Ruas.  

Qual será o futuro dos dividendos da Petrobras (PETR4)? 

Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, afirmou ao BP Money que os dividendos da Petrobras podem diminuir durante o mandato de Jean-Paul Prates. O especialista explica que a estatal poderá adotar uma política de crescimento focada na transição energética, algo que afeta os resultados financeiros da companhia no curto prazo. Somente em 2022, a petroleira apresentou um dividend yield (rendimento de dividendo) de 58,84%.

“Em diversas oportunidades, Prates afirmou que pretende retomar o crescimento da companhia através de uma política de investimentos focada na transição energética. Isso terá um impacto sobre a política de dividendos, em razão do maior dispêndio de capital, e pode ter sobre a produtividade do núcleo de operação, que é o petróleo. Esses dois fatores são os que geram as maiores preocupações dos investidores. O investimento em energia renovável é positivo para a companhia no longo prazo, mas a intensidade desse investimento pode ter um efeito negativo sobre o desempenho das ações no curto prazo”, disse Novaes. 

Para Ruas, caso as ações de Jean-Paul Prates dentro da estatal foquem mesmo na transição energética, a Petrobras terá que queimar seu próprio caixa para fazer esse tipo de investimento, reduzindo o valor dos dividendos distribuídos pela empresa. 

“Quando o Prates indica que ele deve se preocupar com a transição nesse momento, certamente é fazer investimentos cujo retorno esperado se dará no longo prazo. E para você fazer investimentos é preciso fazer uma aposta, e aposta implica em investimento, e investimento significa usar o seu caixa nesse processo. Então, certamente a distribuição de dividendos da Petrobras deve reduzir. Em qual dimensão ela vai reduzir, não está claro. Mas certamente ela terá que ser reduzida”, relatou o economista.

Jean-Paul Prates mudará a política de preços dos combustíveis? 

Em 30 de janeiro, o novo CEO da Petrobras (PETR3;PETR4) disse que a política de preços de combustíveis é um assunto do governo Lula. Entretanto, Prates tem como um de seus principais desafios conter a alta de preços de combustíveis. Para isso, o ex-senador estuda a criação de um fundo de estabilização de preços de combustíveis. 

Para Lenon Rissardi, sócio da GT Capital, mesmo que Prates não fale abertamento do assunto, a tendência é que a atual política de preços dos combustíveis adotada pela Petrobras seja alterada durante o mandato do ex-senador. Durante sua campanha presidencial, o presidente Lula defendeu o fim do PPI (Preço de Paridade de Importação). 

“Tem muita expectativa sobre uma mudança na política de preços, principalmente, pelas falas do presidente Lula, nas quais ele diz que o preço dos combustíveis não vai mais ser baseado apenas na pequena margem que é importada. Mesmo sendo um pouco cedo para identificar os impactos, há uma tendência que isso possa trazer um impacto no cenário perante o preço internacional, principalmente”, disse.  

Novaes comenta que a ideia de um fundo de estabilização de preços de combustíveis pode ser aplicada por Prates. No entanto, o especialista reitera que outros países que adotaram essa ideia acabaram a abandonando tempos depois por não ter a eficácia prometida. 

“Jean-Paul Prates já deixou claro que pretende fazer algumas modificações na política de preços. A principal alternativa levantada por ele foi a criação de um fundo de estabilização que fosse financiado a partir de recursos que o governo recebe da própria atividade do setor. Tais recursos serviriam para suavizar os preços dos combustíveis em momentos de alta do petróleo, assim a Petrobras não teria que subsidiar os combustíveis com recursos próprios como ocorreu no passado”, relatou. 

“Entretanto, a execução desse fundo não deve ser simples, tendo em vista que muitos países, que adotaram uma ideia semelhante, a abandonaram por ela não cumprir sua função. Ou seja, é incerto se esse fundo irá realmente ter a eficácia prometida, e se os recursos do governo ou da estatal serão afetados para a manutenção do fundo, caso esse não tenha êxito em se manter da forma pré-definida”, completou o analista da Terra Investimentos.