Durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda, defendeu uma maior integração da América Latina e o fortalecimento do Mercosul como forma de atrair investimentos estrangeiros. O estreitamento das relações comerciais entre os países sul-americanos, segundo Cesar Beck, especialista em Direito Constitucional, Direito Digital e mestre em Direitos Humanos, configuraria como uma ótima oportunidade econômica para o Brasil.
“Com um Mercosul forte é possível conseguir acordos mais favoráveis com as chamadas superpotências e blocos mais consolidados. Em outras palavras, é possível aumentar o poder de barganha do Mercosul frente a União Européia, por exemplo. Esse movimento iria beneficiar diretamente todos os brasileiros de um melhor acordo em termos de ajustes”, disse.
Beck ainda explicou ao BP Money que o mercado de commodities e o setor de turismo brasileiros seriam fortemente beneficiados com essa aproximação entre os países da América Latina.
“Se os países do Mercosul se aproximarem, os setores que estão ligados à importação e exportação seriam beneficiados. Vale ressaltar, de forma objetiva, a indústria primária, com a extração de matérias-primas. Em tempo, o setor terciário e a economia criativa também podem ganhar novos ares, sendo um setor cada vez mais em alta na região, especialmente, na venda de serviços e bens”, explanou.
“Além disso, com um Mercosul fortalecido, o turismo entre os países membros possui um enorme potencial de crescimento. O Brasil, como uma verdadeira potência regional, poderá até se tornar o destino principal dos turistas do Mercosul”, acrescentou o especialista em Direito Constitucional.
Segundo Vladimir Feijó, advogado e professor de direito e comércio exterior da Faculdade Arnaldo, o fortalecimento dos laços entre as nações sul-americanas pode ser positivo para todos os setores econômicos do Brasil. O analista ainda cita que essa aproximação entre nações da América do Sul pode fazer com que superpotências façam investimentos na região.
“Como um todo, o fortalecimento do Mercosul poderia servir de oportunidade para qualquer setor brasileiro. Diante a crise da globalização mundial, com o sudeste asiático sendo um hub, um centro de produção e distribuição para o mundo inteiro, muitos países procuram a criação de subsistemas. É possível que as economias europeias e norte-americana vejam os países do Mercosul como potenciais centros de realocação de produção e estoque de seus produtos”, afirmou.
“Uma boa parceria com o Mercosul, envolvendo investimentos em infraestrutura, poderia gerar benefícios para diferentes setores que estejam integrados à economia global. Falo especificamente do setor de máquinas e do setor químico”, completou Feijó.
De acordo com Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, o fortalecimento do Mercosul permitiria a entrada de mais produtos manufaturados europeus. Em contrapartida, as nações do bloco se beneficiariam com a exportação de commodities.
“Caso realmente o projeto se fortaleça haverá o tradicional caminho de maior benefício para as commodities, ponto forte do Mercosul em relação à Europa. Em contrapartida, ocorrereria uma maior entrada de manufaturados europeus. Na prática, cada um estará tentando vender mais o seu produto, e tentando comprar mais barato o que o outro lado faz de melhor”, disse Alves.
Que tipos de acordo o Brasil pode fazer com o Mercosul?
Durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL), o Brasil se distanciou do Mercosul e buscou firmar acordos comerciais com os EUA, China, Israel e algumas nações asiáticas, como a Arábia Saudita. Com isso, o comércio regional da América do Sul apresentou retração, com o Brasil exportando cada vez menos para parceiros históricos, como a Argentina, e cada vez mais para nações do Golfo Pérsico.
De acordo com Saulo Abouchedid, professor de macroeconomia e economia monetária na FACAMP, a aproximação do Brasil com os demais países do Mercosul é uma tentativa do governo Lula (PT) de estimular o comércio regional. Para o acadêmico, um possível estreitamento de laços entre as nações sul-americanas pode resultar em acordos aduaneiros e na extinção de tarifas para determinados produtos, beneficiando a indústria brasileira.
“Quando nós olhamos a pauta de exportação e importação há uma concentração nos últimos anos em relação a China, algo que acaba ganhando relevância quando comparamos com outros países importantes no comércio exterior brasileiro, como a Argentina. Com isso, acho que essa aproximação do Brasil com o Mercosul visa impulsionar o comércio regional e estimular o setor externo, influenciando a economia brasileira”, relatou Abouchedid.
“Há diversas formas de impulsionar o comércio regional, tanto por meio do Mercosul quanto por meio de acordos bilaterais, acordos aduaneiros e extinção de tarifas para determinados produtos. Esses possíveis acordos do País com o Mercosul podem estimular certos setores da indústria brasileira nos quais o Brasil tem certo destaque, como o agronegócio e automobilístico”, completou o professor da FACAMP.
Na visão de Beck, a aproximação do Brasil com os outros países do Mercosul pode ser benéfica para o País. O analista cita que o governo Lula pode aproveitar essa possível união para propor ações que sejam benéficas para o bloco, como a expansão da malha ferroviária da região.
“Essa aproximação com o Mercosul pode ser positiva para o Brasil. O governo Lula pode propor uma maior integração ferroviária entre todos os países do Mercosul, diminuindo os custos de transação e logística. Além disso, as rodovias brasileiras tenderão a ter uma meia vida mais longa, uma vez que, ao optar por escoar a produção por ferrovias, menos caminhões andarão nas rodovias, gerando um menor desgaste do asfalto”, explicou o mestre em Direitos Humanos.