O setor de mineração acompanhou o movimento do Ibovespa no primeiro semestre do ano, com variações negativas observadas nas ações da maior mineradora do Brasil e uma das maiores do mundo, a Vale (VALE3).
Apesar de menor, a desvalorização também foi sentida pelos seus pares, Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4), no semestre.
Ao BP Money, o gestor financeiro e especialista em investimentos Marlon Glaciano explicou que o movimento de baixas das mineradoras no 1S24 foi consequência de uma combinação de fatores econômicos e setoriais, com destaque para a crise chinesa.
“A desaceleração na economia chinesa, principal consumidora de minério de ferro, resultou em uma queda na demanda e nos preços dessa commodity. Além disso, a recuperação econômica global mais lenta do que o esperado, pressões inflacionárias que aumentaram os custos operacionais e desafios logísticos contribuíram para a retração”, destacou o especialista.
Ademais, ressaltou Marlon, questões regulatórias e ambientais no Brasil também adicionaram incertezas ao setor, afetando negativamente a confiança dos investidores e resultando em uma diminuição nos preços das ações dessas empresas.
Ações | Variação no 1S24 |
GGBR4 | -5,42% |
USIM5 | -12,01% |
VALE3 | -16,23% |
No segundo trimestre do ano, porém, a Vale (VALE3) e a Gerdau (GGBR4) tiveram um respiro e apresentaram pequenas variações positivas.
Segundo a especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital, Hemelin Mendonça, o movimento foi consequência do aumento na produção e melhorias nos projetos de crescimento dessas empresas.
“Além disso, esse ano não teve tantas chuvas fortes quanto no ano passado, o que afetou menos a produção. Também podemos adicionar que a valorização do dólar ajudou na valorização da Vale e Gerdau”, afirmou Hemelin.
Ações | Variação no 2TRI24 |
GGBR4 | 1,92% |
USIM5 | -18,50 |
VALE3 | 2,64% |
A Usiminas (USIM5), por sua vez, manteve a trajetória de queda. Segundo Marlon Glaciano, a ausência de valorização pode ser atribuída a fatores internos específicos da empresa e do mercado brasileiro.
“Problemas logísticos, desafios operacionais, e uma menor exposição ao mercado internacional em comparação com Vale e Gerdau limitaram os ganhos da Usiminas. Além disso, a demanda doméstica no Brasil pode não ter se recuperado com a mesma intensidade, e a empresa pode ter enfrentado dificuldades adicionais em ajustar seus custos operacionais diante de pressões inflacionárias”, destacou Glaciano.
Demanda de minério de ferro e novas oportunidades
Segundo Marlon, as expectativas em relação à demanda pelo minério de ferro depende, principalmente, da recuperação da China – maior consumidora – bem como dos estímulos globais para impulsionar os setores de construção e infraestrutura.
“Vale e Gerdau podem ver valorização contínua devido à forte demanda global e investimentos em sustentabilidade, enquanto Usiminas pode enfrentar desafios maiores se a demanda doméstica não acompanhar a recuperação e se persistirem problemas operacionais”, disse o especialista em investimentos.
Hemelin destacou ainda que, embora “desafiador”, o ano de 2024 pode trazer muitas oportunidades para o setor.
“A demanda do minério está fazendo com que as mineradoras procurem diversificar seus produtos, expandindo o portfólio para novas commodities, outros mercados no mundo. Os investidores estão procurando por empresas que estejam interessadas em questões ambientais, sociais e de governança (ESG), o que faz com que as empresas tenham que buscar maior responsabilidade ambiental”, pontuou Mendonça.
Também há, segundo a especialista em mercado de capitais, uma perspectiva de mudança e de aceleração na exploração e desenvolvimento de minerais e metais essenciais, como cobre, lítio e míquio, para a transição energética.
Outro ponto, destacou Hemelin, é a inflação “que está pressionando o desenvolvimento tecnológico dessas empresas”.