
O setor de minério e siderúrgica normalmente já são destaques nas Bolsas globais, sobretudo no Brasil, tamanho o peso das empresas desses segmentos no índice acionário. Agora, em meio a uma guerra comercial entre algumas das principais economias mundiais, as expectativas com o desempenho das mineradoras se intensificaram, mas os analistas têm boas perspectivas para as margens de lucro.
Essa perspectiva positiva começou a ser desenhada, na verdade, ao passo que a China decidiu efetuar uma reforma em sua indústria siderúrgica, que pode levar a uma redução na produção e exportação do aço em 15% e 20%, trazendo otimismo para o mercado brasileiro.
“Isso [a reforma chinesa] pode diminuir a pressão do aço chinês barato no mercado global, o que poderia ajudar a estabilizar o preço do minério de ferro e, consequentemente, melhorar a situação das mineradoras, que estão sendo impactadas pela queda de preço do minério”, analisou Luciano Bravo, CVO da inteligência comercial.
O analista também reforçou uma avaliação do Citibank, de que as margens de lucros das mineradoras e siderúrgicas brasileiras só terão a ganhar, por conta da redução da oferta de aço subsidiado e a ênfase em práticas mais sustentáveis.
“As empresas que mantiverem margens mais altas poderão se beneficiar com preços mais equilibrados”, ressaltou.
No entanto, o cenário segue de muita incerteza, o que é refletido também no desempenho das ações do setor de minério, com a Vale (VALE3) – principal mineradora do Brasil – avançando 2,10% no acumulado de 2025, enquanto a CSN Mineração (CMIN3) sobe 2,21% e a Usiminas (USIM5) valoriza 9,74%.
Já na linha negativa das mineradoras, a Gerdau (GGBR4) acumula perdas de 3,17% e a CSN (CSNA3) recua expressivamente 41,62% no ano.
O movimento refletiu um novo capítulo da guerra comercial iniciada por Donald Trump. Nesta quarta-feira (12), o aço e o alumínio de diversos países – incluindo o Brasil – passaram a encarar tarifas de 25% para as exportações feitas aos EUA.
Diante desse novo cenário, a indústria de aço chinese tende a ser a mais penalizada e Bruno Cotrim, economista da casa de análise Top Gain, acredita que a reforma proposta pelo país asiático pode ajudar a recuperar seus setores econômicos, sobretudo a construção civil, que estão “completamente estagnados” e abateram também a confiança do consumidor no mercado asiático.
Para Humberto Silva Aillon, especialista na FIPECAFI, um contraponto que pode ser levantado nessa relação entre a produção chinesa e o redirecionamento para consumo interno, é que, caso a produtividade do país avance, será possível que a China exporte deflação para o mundo, o que pode ajudar a aliviar a pressão inflacionária em países como o Brasil.
Mineradoras: Gerdau deve se recuperar?
Dentre as perdas acumuladas no ano nas ações de mineradoras e siderúrgicas do Ibovespa, a Gerdau surpreende, visto que, durante o anúncio do tarifaço no aço, em fevereiro, os agentes do mercado apontaram que a empresa poderia ser favorecida nos ganhos, pelo fato de ter uma unidade produtora nos EUA.
Contudo, nesse momento a companhia tem sentido também o peso da competitividade chines. Agora, o tarifaço de Trump se tornou quase uma esperança para diminuir a pressão sobre os preços do minério. Porém, mesmo que a reforma nas ofertas da China e as tarifas dos EUA exerçam esse papel, a expectativa é que isso ocorra apenas no curto prazo.
“O desempenho da Gerdau está sendo prejudicado pela forte concorrência do aço chinês, que continua inundando o mercado a preços baixos. Mesmo com as tarifas iniciais, a empresa teve perdas no quarto trimestre de 2024, o que reflete a pressão contínua do mercado”, disse Luciano Bravo.
Na visão de Bruno Cotrim, a perspectiva de Trump com o tarifaço no Brasil demonstra ser mais para observar como ficará a relação do País com a China, seu maior parceiro comercial.
“A China está com a economia totalmente estagnada e é nossa maior parceira comercial, e ele [Donald Trump] sabendo que a economia por lá não tem perspectiva de uma retomada econômica forte, está procurando alguma janela para entrar no Brasil e tentar tirar um pouco dos chineses que vieram muito para cá”, afirmou.
Cotrim também analisou que, apesar da Gerdau ter 11 plantas de produção entre Canadá e EUA, que favorecem os negócios com o aço no território norte-americano, a questão que se levanta também é se essas plantas terão capacidade para atender toda a produção que os EUA podem precisar.
“A movimentação anual do papel que vem apresentando uma bela dificuldade. A recente queda de quase 10% da Gerdau é praticamente a continuação do reflexo da dificuldade do mercado asiático em apresentar uma retomada econômica direcionada”, reforçou Cotrim.
Na linha de resultado trimestrais, os da mineradora também não animaram os investidores, visto que seu volume de vendas sofreu uma forte retração de 6,4% na comparação anual.
“Na composição dos impactos, o efeito de preço do aço foi o maior efeito negativo e outro fator que impactou a rentabilidade foi a escalada do dólar, o que pressionou as margens em despesa cambial”, disse Humberto Silva.
Todavia, o especialista salientou que a mineradora está em uma posição confortável de resultados acumulados, o que deve contribuir para esse período turbulento de queda em volumes e aumento das tarifas.
“Por isso que diversas instituições ainda recomendam preço alvo para o papel com upside entre 12% a 17% em relação ao preço atual em torno de R$ 16,50/ ação”, finalizou.