Minerva (BEEF3) deve ser o destaque do 4T22 entre frigoríficos

Após resultados instáveis ao longo de 2022, os frigoríficos brasileiros estão prestes a divulgar seus balanços do 4T22

Após apresentarem resultados instáveis ao longo de 2022, influenciadas por um cenário de inflação global, as empresas frigoríficas brasileiras divulgarão seus balanços do quarto trimestre no final de fevereiro e começo de março. Na visão dos analistas consultados pelo BP Money, a Minerva (BEEF3) deverá ser o destaque do setor neste início de 2023, por não estar tão exposta ao mercado norte-americano.

“Eu creio que a Minerva terá o melhor balanço do setor frigorífico para o final de 2022, por conta da sua menor exposição à economia norte-americana. Nos EUA, tivemos um aumento do ciclo de juros para conter a inflação no ano passado, algo que fez com que o cenário se tornasse desafiador para o setor frigorífico ao longo do ano”, afirmou o economista Diego Hernandez.

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, partilha da mesma visão de Hernandez. O analista argumenta que a Minerva, por suas margens de produção e de custo estarem concentradas na América Latina, acaba se sobressaindo em comparação com as outras empresas frigoríficas, como JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3), que concentram suas ações no exterior. 

“A Minerva terá o melhor balanço do quarto trimestre. Diferente dos seus concorrentes, ela é a que está menos exposta ao exterior. Suas margens de produção e de custos estão aqui na América Latina, entre Brasil, Argentina e Uruguai. As outras frigoríficas, por outro lado, não estão só focadas na América Latina, mas também no exterior”, explicou o especialista.

Balanço da Tyson Foods pode impactar o setor frigorífico?

Em 6 de fevereiro de 2023, as ações de frigoríficos, com destaque para a Marfrig, desabaram na bolsa após a Tyson Foods, companhia frigorífica dos EUA, ter divulgado seu balanço do quarto trimestre de 2022. As vendas da empresa alimentícia subiram 2,5% entre outubro e dezembro, para US$ 13,26 bilhões, abaixo da estimativa média dos analistas. 

De acordo com Brasil, o resultado negativo da empresa norte-americana configura como uma má notícia para as empresas frigoríficas expostas à economia norte-americana, como BRF (BRFS3), JBS e Marfrig. O analista explica que essas empresas apresentarão margens operacionais ainda mais apertadas no quarto trimestre de 2022. 

“Ficou muito claro pelo relatório trimestral da Tyson Foods que as empresas que estão expostas ao exterior, como JBS, BRF e Marfrig, estão cada vez com as margens mais apertadas. Logo, podemos esperar um desaquecimento do ciclo da proteína”, disse.  

Na visão de Hernandez, o resultado da Tyson Foods serve de alerta para a Marfrig e JBS, pois ambas as empresas exportam mais de 50% de suas produções para os EUA. 

“Em relação a Tyson Foods, o resultado da empresa é um alerta para as empresas frigoríficas expostas aos EUA. A JBS, por exemplo, tem quase 60% da sua produção sendo exportada para os EUA, e a Marfrig também, com 72% das vendas para os EUA. Então isso acaba tendo uma penalidade muito maior nesse aspecto da economia norte-americana, que se encontra em um cenário inflacionário”, alertou o economista.

O que esperar dos frigoríficos em 2023?

Saulo Abouchedid, doutor em Economia e professor de Macroeconomia e Economia Monetária na FACAMP, explica que 2023 deverá se configurar como mais um ano desafiador para os frigoríficos brasileiros, por conta da taxa de juros alta e da desaceleração global. 

“A perspectiva para o setor frigorífico em 2023 não é das melhores. Os frigoríficos dependem consideravelmente dos setor externo, pois boa parte das receitas são fruto das exportações, e atualmente há um contexto de juros altos e desaceleração global. Então esse cenário pode afetar a demanda e o faturamento desse setor ao longo do ano”, explicou o professor da FACAMP.

Para Hernandez, caso haja um controle da inflação, a tendência é que o setor frigorífico brasileiro se beneficie ao longo de 2023 com o aumento do consumo de proteínas. Entretanto, o analista reitera que as empresas mais expostas à economia norte-americanas continuarão sendo as mais afetadas negativamente em 2023, por conta de uma provável recessão. 

“Para 2023, se houver um controle da inflação, com as taxas de juros se encontrando em patamares elevados, nós voltaremos a ter um consumo imediato de mais proteína. No entanto, penso que as empresas frigoríficas mais afetadas negativamente serão ainda as mais expostas à economia norte-americana, como Marfrig e JBS, dado que 2023 é um ano em que nós esperamos uma recessão para o país”, afirmou o economista.