A MRV (MRVE3) e a Construtora Tenda (TEND3) divulgaram suas prévias operacionais referentes ao terceiro trimestre deste ano, na última sexta-feira (14). As construtoras viram suas vendas líquidas e seus lançamentos caírem na comparação ano a ano. Em linha com a divulgação das prévias, o mercado anunciou, nesta segunda-feira (17), mais uma redução na projeção para a inflação em 2022. Segundo especialistas, essa queda no índice pode melhorar as margens e vendas de empresas do setor de construção civil, mas não consideravelmente – ao menos no curto prazo.
O Boletim Focus publicado na manhã desta segunda apontou que a inflação brasileira esperada para 2022 é de 5,62% frente a 5,71% na semana passada.
De acordo com Raul Greco, analista de Fundos Imobiliários e Real Estate da Eleven Financial, a inflação em queda deve ajudar a margem bruta das companhias.
“Elas já estão aumentando o preço dos imóveis, inclusive a Tenda e MRV. Então esperamos ver uma recomposição de margem”, afirmou Greco.
Paulo Luives, assessor da Valor Investimentos, destacou que principalmente a questão do INCC, que é o índice de inflação da construção civil, tende a favorecer bastante a questão das margens das construtoras.
“A questão de vendas depende muito mais, primeiro, da atividade econômica e também do crédito. A inflação em si afeta na questão, principalmente, dos custos que a construtora tem, especialmente materiais de construção que teve uma alta muito forte nos últimos dois anos. Agora, com esse alívio nos preços, favorece, sim, a questão das margens dessas empresas, porque o custo diminui no final das contas”, disse Luives.
A Tenda teve uma queda de 40,6% nos lançamentos, no terceiro trimestre de 2022 – segundo dados reportados pela empresa na semana passada – registrando R$ 376,2 milhões em VGV (valor geral de venda), frente ao terceiro trimestre de 2021. Apesar disso, os analistas destacaram que esses números não foram tão ruins, já que é preciso considerar que a empresa vem aumentando os preços médios de lançamentos, como parte de sua estratégia.
O analista da Levante, Flavio Conde, explica que MRV e Tenda são casos diferentes, apesar de pertencerem ao mesmo setor e passarem por “problemas parecidos”.
“A Tenda teve o estouro no orçamento de obras e custos no quarto trimestre do ano passado, e aí pisou no freio neste ano na parte de lançamento. Sempre que você pisa no freio de lançamento, você vende menos, porque é muito mais fácil você vender com estande montado do que vender estoque pelo telefone. O estande ajuda muito as vendas. Esse é o caso da Tenda, então já era esperado o lançamento menor e vendas menores desde o primeiro trimestre”, disse Conde.
“No caso da MRV, é um grupo com basicamente quatro empresas, e a MRV Casa Verde e Amarela até que foi bem. Não teve lançamento nem venda na Luggo e na Sensia, então isso já era esperado, mas quando o mercado vê os números acaba batendo na empresa”, disse Conde, se referindo à queda dos papéis da MRV na bolsa, nesta segunda.
Ações de MRV e Tenda operam em queda
A MRV operava em queda de 12,46%, cotada a R$ 9,20, por volta das 14h20 desta segunda-feira (17). Enquanto isso, as ações da Tenda (TEND3) operavam em queda de 0,47%, cotadas a R$ 6,38.
“Eu acho um pouco exagerado essa queda de hoje da MRV. E não podemos esquecer que se o Lula for eleito ele vai voltar com o Minha Casa Minha Vida e a MRV e a Tenda deverão subir na bolsa, bem como a Direcional”, afirmou Conde.
Conde concluiu afirmando que a deflação atual “não é superficial, nem artificial” – como apontam alguns especialistas – sendo apenas “temporária”.
“A inflação atual tem influência nessas companhias. Empresas vivem de momento, não vivem de passado, nem de futuro, então elas vão ter uma pequena ajuda tanto em vendas quanto em margem”, concluiu o analista da Levante.