Na Cogna (COGN3), desafios vão além do "novo ProUni"

Perspectiva para Cogna é melhor em caso de vitória de Lula, mas manutenção do governo não alteraria tanto futuro da empresa, segundo especialistas

As ações de empresas do setor de educação superior de baixa e média renda, como Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3), tiveram um movimento de alta nas semanas que antecederam o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022. Com as pesquisas eleitorais apontando uma vantagem considerável de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL), e com as falas do petista sobre a volta do investimento no ProUni e no FIES, essas companhias voltaram ao radar dos investidores. 

De acordo com Henrique Vasconcellos, analista da Nord Research, a desalavancagem é um dos principais desafios da Cogna. 

“A empresa tem uma dívida muito alta. Eles têm muitos ativos no balanço e estão tentando mudar para uma empresa um pouco mais leve, fazendo com que tenham uma folha de despesas físicas menor. Passado esses pontos, que são os mais importantes na empresa, o FIES, que viria com o Lula, seria um catalisador para uma melhora. Uma pequena melhora dentro do todo, mas que já ajudaria bem a empresa. Seria como acelerar o processo de mudança que ela vem fazendo para que ela continue e volte a contribuir, entregando bons resultados”, disse Vasconcellos. 

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Nos últimos 30 dias, as ações da Cogna tiveram alta de aproximadamente 13%, enquanto Yduqs subiu 19% na bolsa de valores de São Paulo (B3). De acordo com Rafael Pastorello, analista de investimentos CNPI-T e aluno da Eu me banco, prova de que Cogna e Yduqs estavam sendo precificadas por uma possível vitória de Lula foi a queda dos papéis das duas empresas no pregão pós primeiro turno das eleições.

“A previsão era de que o candidato Lula venceria no primeiro turno, e o resultado nas urnas foi diferente. Por conta disso, as ações de educação que vinham numa crescente, não só a Cogna, como também Yduqs, acabaram sendo as únicas quedas do Ibovespa após o resultado”, afirmou Pastorello.

A Cogna apresentou, no segundo trimestre deste ano, um prejuízo líquido ajustado de R$ 36,5 milhões. No mesmo período do ano anterior, a companhia teve lucro ajustado de R$ 55,2 milhões. Após a divulgação dos resultados, a companhia de educação informou que estava cuidando da dívida líquida para amortizar os efeitos dela sobre as operações, visto que é um dos indicadores que mais preocupam o mercado em relação à empresa.

Como ficaria a Cogna no governo Lula?

Com as declarações feitas por Lula durante sua campanha em relação ao setor de educação, principalmente a possível retomada dos programas de financiamento estudantil superior, as ações da Cogna começaram a subir no mercado.

Segundo Rafael Pastorello, com um possível governo Lula, existe a perspectiva de uma melhora nas ações da Cogna, no médio prazo, caso, de fato, ele incentive e volte com um programa mais forte na questão da educação via FIES. 

“Para sintetizar, a perspectiva é melhor em caso de vitória do candidato petista, e não tão positiva no caso de vitória do candidato que é o atual presidente. Isso falando, especificamente, desses ativos. Tem outros ativos que tendem a ter comportamentos opostos a esse”, disse Pastorello.

Segundo Henrique Vasconcellos, analista da Nord Research, a movimentação das ações da Cogna não depende apenas dos candidatos e do resultado das eleições. “É importante frisar que a empresa não só tem bastante dificuldades dentro da operação como também existe um cenário econômico desafiador para eles”, disse Vasconcellos.

O analista se referiu a possível desaceleração da economia nos próximos anos, visto que o mundo enfrenta uma crise econômica pós-covid, além dos agravantes da guerra na Ucrânia.

“Educação é um setor que depende muito de economia. Ninguém vai estudar se não tiver uma economia forte, demandando empregos, podendo oferecer empregos para o aluno ter um incentivo para estudar e o que temos para os próximos anos é um mundo desacelerando e, mesmo que o Brasil esteja em um vento favorável, a gente deve ter uma desaceleração aqui também, segundo as projeções dos economistas para os próximos anos”, explicou Vasconcellos.

Quais seriam os efeitos da manutenção do governo Bolsonaro para a companhia? 

Com a mudança no cenário político, no primeiro turno das eleições, após Bolsonaro demonstrar uma força maior do que a esperada – tendo em vista os resultados das principais pesquisas eleitorais – as ações de Cogna e Yduqs caíram, enquanto o índice Bovespa apresentou alta. 

Para Rafael Pastorello, no governo Bolsonaro, a Cogna seria menos beneficiada. “Não que não tenha um incentivo na área educacional, está no plano de governo dele, mas ele não chegou a dar nenhuma sinalização tão forte como a bandeira que o candidato do PT levanta no sentido do FIES e dos programas que [Lula] implementou na época em que era presidente”, disse Pastorello.

“É uma bandeira que ele levanta não só de agora, mas desde a época em que foi presidente e implementou programas fortes nesse sentido para que os jovens ingressassem nas universidades”, complementou o analista.

Segundo Henrique Vasconcellos, analista da Nord Research, com uma possível reeleição de Bolsonaro, os papéis de Cogna não teriam tanta mudança na tendência, frente ao que já vinha apresentando nos últimos anos.

“No caso do Bolsonaro sendo reeleito, acho que o panorama não muda muito para a Cogna e os papéis. A continuidade do processo de desalavancagem e redução de balanço deve continuar e, à medida que a economia for melhorando, naturalmente a gente deve ter uma melhora operacional para eles”, finalizou Vasconcellos.