Na XP (XPBR31), mercado não esperava queda tão cedo

XP teve queda de mais de 20% no lucro trimestral, apesar de manter base anual estável

O mercado esperava por uma queda nos números reportados pela XP (XPBR31), mas não já no quarto trimestre de 2022. Segundo especialistas consultados pelo BP Money, a expectativa era de números mais fracos após o primeiro trimestre de 2023. Não à toa, os BDRs da companhia operam em queda de mais de 15%, nesta sexta-feira (17), cotados a cerca de R$ 67,25. 

A XP apresentou queda de 21% no lucro do quarto trimestre de 2022 frente ao mesmo período de 2021, para R$ 783 milhões. No acumulado do ano, entretanto, o resultado ficou “estável” em R$ 3,6 bilhões. Para a analista da Empiricus, Larissa Quaresma, o resultado do quarto trimestre da XP “decepcionou”.

“A queda anual de 7,4 ponto percentual na margem bruta foi a principal responsável pela deterioração, já que houve mudança no mix de receita, além de despesas de R$ 35 milhões com o fim de contratos com AAIs [Agente Autônomo de Investimentos], o que jogou a linha para baixo”, explicou Quaresma.

Com base no relatório do BTG Pactual, o analista Heitor de Nicola, da Acqua Vero, destacou que foi um trimestre “ruim” e que “veio antes do esperado”. 

“A projeção era de que os números realmente começassem a se deteriorar no final do primeiro trimestre de 2023, mas na verdade esse quarto trimestre de 2022 já veio bem abaixo. A XP, segundo o BTG, precisa estipular um limite de custos mais rígido o quanto antes, o que pode ser prejudicial para a empresa, se for muito radical”, disse Heitor. 

Para Heitor, uma saída para a XP impulsionar os seus lucros é ser tornar “mais um banco de investimento e cada vez menos uma corretora pura”.  

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Paulo Luives, assessor da Valor Investimentos, destacou que a XP informou que deixará sua operação mais enxuta e mais eficiente para passar por esse momento um pouco mais complicado de ambiente de negócio. Apesar de ajudar, isso ainda não deve refletir nos números do próximo trimestre. 

“O juro alto acaba dificultando um pouco mais as principais linhas de negócio da companhia”, disse Luives. 

Para Quaresma, da Empiricus, olhando à frente, os próximos trimestres ainda devem ser desafiadores para a XP. “As receitas devem seguir pressionadas pela Selic alta, e as despesas ainda devem ser impactadas pelos custos ligados a cortes de pessoal”, disse a analista.

No acumulado de 2022, as receitas líquidas da XP chegaram a R$ 13,348 bilhões, um crescimento de 11% na comparação com 2021. Já no 4T22, o resultado foi de R$ 3,177 bilhões, o que corresponde a uma queda de 3% frente ao 4T21. 

Qual cenário para as ações da XP?

De acordo com Heitor de Nicola, da Acqua Vero, embora a XP tenha um melhor controle de custos e busque melhorar este quesito, não deve ser suficiente para compensar a receita mais fraca para 2023. 

“Mesmo que o lucro líquido do próximo ano acabe sendo o mesmo, uma piora mais forte da receita e a falta de uma alternativa clara de como reverter essa situação deve desencadear um monte de revisão de lucro para baixo, pelo consenso, a partir de 2024”, disse Heitor. 

Segundo o analista da Acqua Vero, se a XP não conseguir firmar esse status de autocrescimento, a ação pode sofrer ainda mais. 

“Olhando apenas para 2023, embora não pareça caro [o papel], a gente pode estar prestes a ver outra rodada de rebaixamento e várias reduções de recomendação para XP. Hoje o BTG tem uma recomendação neutra com um viés mais negativo para a empresa”, disse Heitor.

Quaresma, da Empiricus, também ressalta que a recomendação da casa para o papel é neutra, mesmo com a queda atual. 

“Com o papel caindo cerca de 20% no pregão seguinte à divulgação, a XP negocia a cerca de nove vezes seu lucro estimado para 2023, o que é barato. Sendo assim, mantemos uma visão neutra para o papel”, pontuou Quaresma.