Natal mais fraco prejudica varejistas no 4T22 (mas não todas)

Mercado enxerga oportunidade e possibilidade de bons resultados em companhias do segmento de varejo para classes B+ e A

Apesar das altas expectativas com a Copa do Mundo próxima aos principais eventos para o varejo no ano, o mercado espera por um fluxo de vendas mais baixo, no setor, no Natal deste ano. A perspectiva está alinhada com dados preliminares recentes, que diminuíram previsões de faturamento para a data. No entanto, mesmo com uma possível queda nos resultados das varejistas no quarto trimestre, analistas destacam que um setor de varejo específico deve se beneficiar deste fim ano. 

De acordo com o analista da Empiricus, Fernando Ferrer, os dados recentes sobre o varejo mostram que 2022 terá um Natal um pouco mais fraco do que o previsto e isso influenciará, diretamente, nos resultados das varejistas de consumo discricionário listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), como Via (VIIA3), Magalu (MGLU3) e Americanas (AMER3). Por outro lado, Ferrer vê uma oportunidade em varejistas voltadas ao público das classes B+ e A. 

“A nossa preferência no varejo tem sido por aquelas que conseguem repassar preço e ter maior controle de sua cadeia de produção. Por conta disso, elas acabam conseguindo manter o faturamento, crescer, e por ter esse maior controle da cadeia de produção, conseguem até ajustar a matéria prima que usam no processo fabril e, eventualmente, manter margem”, disse Ferrer.

“Dentro desse segmento, a nossa preferência tem sido por Arezzo (ARZZ3). Este público consumidor é menos sensível à inflação, topa mais o repasse de preço e ela tem esse maior controle de sua cadeia de produção”, completou o analista.

O controle da cadeia de produção diz respeito à possibilidade da empresa poder substituir uma matéria prima que subiu de preço por uma equivalente, com a mesma qualidade, e um valor menor, podendo oferecer a mesma proposta de valor para o cliente sem ter que apertar suas margens. 

Flavio Conde, analista da Levante, também destaca que empresas como Arezzo e Grupo Soma não devem sentir a queda nas vendas de Natal. Isso porque o público alvo não sente a inflação no poder de compra da mesma forma que as classes C, D e E. 

“O grupo de varejistas, como Arezzo, Soma e Hering deve ter vendas fortes, porque atuam no segmento de classe B+ e A. Eles têm tickets altos e margem altas também. Já foram bem no terceiro trimestre, devem ir melhor ainda no 4T22. To imaginando crescimento de vendas em relação a 2021 entre 15% e 25%, ebitda alto, porque operam na faixa da população que a inflação de alimentos, e outros produtos, não comeram a renda deles e continuam podendo gastar em ticket de produtos altos”, afirmou Conde.

Americanas, Via e Magalu devem ter resultados fracos no 4T22

De acordo com dados recentes da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o Natal de 2022 deverá movimentar R$ 65 bilhões, o que representa um crescimento de 1,2% na comparação anual. Inicialmente, a CNC previa, para o Natal deste ano, um crescimento de 2,1% nas vendas.

As vendas em 2019 alcançaram o valor de R$ 67,5 bilhões. Para chegar a este valor pré-pandemia, as vendas neste Natal teriam que crescer 5%.

A queda nas expectativas de vendas para o Natal deste ano pode ser explicada pela redução no poder de compra da população, como explica Paola Mello, analista e sócia da GTI. 

“Estamos caminhando para um quarto trimestre mais fraco do que o esperado, e aí acho que o cenário macro é o principal vilão da história. Esse aumento de inflação reduz muito o poder de compra do brasileiro, com a taxa de juros mais elevada, aí você fica com o crédito mais caro e mais escasso e aí tem o terceiro fator que é da confiança, e isso impacta muito vendas, especialmente de bens de ticket mais elevados, mais discricionários, então acho que essa combinação de fatores estão deixando o consumidor mais receoso e impactando as vendas”, explicou Mello.

O analista da Empiricus, Fernando Ferrer, destaca que, para além da inflação, as famílias também sofreram, neste ano, com o endividamento, o que prejudica diretamente as varejistas de produtos de linha branca.

“Além de um comprometimento de renda maior, por conta do endividamento das famílias, alguns dados do BC mostram que o percentual da dívida em relação a renda das famílias está em seu maior patamar histórico. Vimos também a antecipação de compra na Black Briday por causa da Copa. Dois eventos importantes do varejo. Embora o mix de produtos seja diferente, acaba comprometendo a renda, então eu acho que acabou esvaziando um pouco o Natal”, pontuou Ferrer.

A possibilidade de movimentos de alta no curto prazo, para companhias de varejo, está ligada diretamente a um fator técnico de mercado. Isso porque o fator macroeconômico, por enquanto, segue instável. O analista explica que papéis muito “shorteados” ficam expostos a movimentos de “short squeeze”, que podem gerar alta de empresas varejistas, como ocorreu recentemente na Bolsa.

“Quando os papéis estão muito ‘shorteados’, você pode ficar exposto a movimentos de short squeeze, que seria uma forte alta só por questão técnica de recompra de ações, de investidores que estavam short e estão querendo fechar operações”,  disse Ferrer. 

O analista da Levante, Flavio Conde, conclui afirmando que Via, Magalu e Americanas devem ter vendas fracas no quarto trimestre deste ano, em linha com o que foi o ano passado, na melhor das hipóteses. 

“Essas empresas devem seguir com margem pressionada. Elas aumentaram muito o valor dos produtos, eletrodomésticos, entre outros, e as pessoas fizeram essas compras de itens de maior valor em 2020 e 2021, então elas devem sofrer mais neste quarto trimestre. Deve ser algo parecido com o terceiro trimestre, que foi fraco”, disse Conde.

O especialista em renda variável da Levante finalizou dizendo que, por último, os shoppings, como Alliansce, Multiplan e BR Malls devem ter resultados bons relacionados ao último trimestre de 2022. 

“Todos shoppings recebem dois aluguéis em dezembro. Os lojistas aceitam porque a receita multiplica em relação aos meses anteriores. Além disso, shoppings tem uma porcentagem das vendas dos lojistas e recebem isso como prêmio. Então o quarto trimestre é o melhor pra shopping, que já alcançou o nível de ocupação pré- pandemia”, concluiu Conde.