A Natura (NTCO3) publicou um fato relevante nesta segunda-feira (3) informando que assinou um acordo vinculante com a L’Oréal para a venda da Aesop. O enterprise value (valor da empresa) da transação é de US$ 2,52 bilhões.
O preço será pago no fechamento da transação, esperado para o terceiro trimestre de 2023 e sujeito a aprovações regulatórias usuais.
De acordo com a Natura, a transação irá suportar a desalavancagem financeira da companhia e posicioná-la para focar em suas prioridades estratégicas, especialmente na integração na América Latina, assim como na otimização geográfica da Avon Internacional e melhora continua da The Body Shop, com rígida disciplina financeira.
No ano passado, já havia sido noticiado que a Natura buscava se desfazer de uma parte da Aesop. Para isso, foram contratados o Bank of America e o Morgan Stanley.
Na época, a companhia reforçou que vinha promovendo um redesenho da estrutura organizacional para se mais leve e eficiente, bem como para dar mais autonomia às unidades de negócio, em busca de “reagir a desafios externos” e melhorias em geração de caixa e rentabilidade.
Em documento enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) na época, a companhia avaliava também uma venda de participação minoritária na Aesop — o que abriu espaço para L’Oreal, LVMH e Shiseido na corrida para levar uma fatia do negócio.
A Natura realizará uma teleconferência para acionistas, analistas, investidores e o mercado em geral para falar sobre a transação. Detalhes da teleconferência serão divulgados em breve.
As ações da companhia fecharam em alta de 2,80% nesta segunda-feira (3), sendo contado a R$ 13,57.
Para Natura, cisão da Aesop é positiva, dizem analistas
Depois que a Natura passou a receber consultas para a compra de uma participação na Aesop, a notícia animou os investidores na última sessão de janeiro, quando as ações da gigante brasileira fecharam em alta de 5,49%, a R$ 13,65.
Para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, a venda seria “extremamente positiva” para a Natura. “Destravaria muito valor da companhia, e traria a luz do mercado, o que provavelmente mudaria o patamar de negociação da empresa”, explicou em entrevista ao BP Money.
“Hoje representaria aproximadamente 35% do valor da firma negociado no mercado. A venda vai transformar essa fatia em dinheiro, em liquidez, que além de capitalizar a empresa, vai ajudar a melhorar a sua relação de endividamento, praticamente zerando ele, e deixando o patrimônio líquido mais robusto, sem contar o poder de fogo para novas aquisições de forma mais saudável”, destacou Alves.
Alves aponta que o potencial valor de cerca de R$ 10 bilhões acabou agradando ao mercado, pois irá melhorar a relação de endividamento da companhia, que hoje é muito alta por conta das aquisições do passado, e isso durante muito tempo preocupou o mercado.
“Em um única operação a Natura teria um patrimônio líquido maior, mais caixa, e poder para novos investimentos, o que na prática gera mais valor real para o acionista da empresa, o que acaba refletindo na cotação das ações”, salientou.
Ainda de acordo com o especialista, a depender do modelo da aquisição, o principal comprador seria a LVMH. “Se a compra for parcial, sem dúvida a LVMH teria muito mais a agregar em marca, escala, processo, e potencial de mais crescimento se comparada com as demais, até mesmo pela troca de experiências e sinergia com a empresa brasileira”, apontou Alves.
Fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira, Ricardo Brasil também avalia o movimento como muito positivo para a gigante de cosméticos.
“Esse movimento é ótimo, pois se ela realmente tiver um valor que não foi visto pelo mercado, se terá um valuation de uma empresa e entraria no caixa da Natura. Para ela é um movimento interessante. Para destravar o preço da Aesop, esse processo parece ótimo. Ela fica fora da operação da Natura e, quem sabe, não valha alguns bilhões. Se for visto pelo mercado, veremos a ação da Natura subindo, pois ainda estará incorporada na companhia”, analisou Brasil.