Nem Via, nem Magalu: veja “aposta” pro varejo pós Americanas

Segundo especialistas, Magalu e Via, por terem certa concentração em bens duráveis, sofrem mais com o cenário macro

A queda abrupta de Americanas (AMER3) na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), após o anúncio do rombo bilionário, e sua saída do Ibovespa, principal índice de ações brasileiro, gerou desconfiança nos investidores sobre o setor de varejo. Na semana passada, analistas chegaram a afirmar que rivais da Americanas poderiam ganhar espaço, mas para especialistas consultados pelo BP Money a aposta no varejo não deve ser em Magazine Luiza (MGLU3) nem em Via (VIIA3). O escolhido para as carteiras, no setor, é o Mercado Livre (MELI34). 

Segundo Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, apesar da casa não ter recomendação de compra para o Mercado Livre, a companhia pode ser uma “boa escolha”, porque tem se beneficiado operacionalmente, e em termos de desempenho de ação, devido ao escândalo na Americanas. 

“Temos uma preferência por Mercado Livre, que é mais bem gerido, mais bem tocado e tem apresentado um crescimento bem forte, através das suas avenidas de crescimento que estão mais robustas do que a Magazine Luiza em si, só que hoje a gente não tem recomendação para nenhuma dessas varejistas”, disse Ferrer. 

O especialista destacou que Magazine Luiza e Via, por terem uma concentração ainda razoável em bens duráveis, sofrem mais com o cenário macroeconômico, que segue desfavorável para o varejo. 

“Por outro lado, Mercado Livre, que não tem essa concentração em bens duráveis, estaria melhor exposta a continuar crescendo e se desenvolvendo dentro do mercado que ela está”, afirmou Ferrer.

O especialista em renda variável do Economatica, Felipe Pontes, também afirmou que Mercado Livre é uma das empresas com maior potencial dentro do varejo, além de Magalu e Via. Além disso, Pontes enxerga a Amazon como uma empresa com potencial para se dar bem dentro do setor varejista, com a queda da Americanas. 

Por outro lado, o especialista alerta que investir no varejo, nesse momento, é arriscado, não só pelo cenário da economia brasileira, com alto nível de incerteza, mas também pelo fato de que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está “em cima das varejistas”. 

“Apesar de Magalu e Via terem uma divulgação mais transparente do que a Americanas, não se sabe o que pode vir pela frente e nem sobre o impacto do caso da Americanas na propensão aos bancos de financiarem atividades de varejistas”, destacou Pontes. 

Ferrer, da Empiricus, considera o mesmo fator [economia em cenário conturbado] como empecilho para investir no varejo neste momento. 

“Não gostamos, por ora, do setor, especialmente pela questão macroeconômica, endividamento das famílias alto, inadimplência alta e o preço dos produtos dos bens duráveis também cresceu muito em função do dólar”, disse Ferrer. 

A saída para investir no Varejo 

Com a perspectiva econômica ainda desfavorável para o varejo, o consumidor tem diminuído as compras “desnecessárias”, já que a inflação alta corrói o poder de compra da população. Por isso, o consenso entre os especialistas é de que, se for “necessário” investir no varejo, Magalu, Via e companhias do “varejo discricionário” não são as melhores opções.

Por outro lado, existe uma saída para o segmento. De acordo com Rafael Ragazi, sócio e analista de ações da Nord Research, Loja Renner (LREN3), Vivara (VIVA3) e Petz (PETZ3) são empresas “interessantes” dentro do setor de varejo, já que, segundo ele, dependem muito menos do cenário macro. 

“Essas empresas têm um histórico de performance superior e elas estão com fortes planos de expansão. Eu acho que esse é o principal fator. São empresas que vão conseguir continuar crescendo. Se o macro tiver favorável, melhor ainda, mas se o macro não estiver favorável elas conseguem continuar crescendo, ganhando o mercado em cima da concorrência”, disse Ragazi. 

A Lojas Renner encerrou o ano de 2022 com 672 lojas, com a abertura de 40 novas lojas. O objetivo da companhia é abrir mais 320 lojas nos próximos cinco a sete anos, segundo Ragazi. Entre os anos de 2012 e 2021, a Renner cresceu 147%, enquanto o mercado de vestuário e calçados, medido pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), cresceu 2,5%.

Na outra ponta, com 53 novas lojas, a Vivara encerrou o ano de 2022 com 336 lojas e pretende chegar a 540 lojas até 2026. Tanto Vivara quanto Renner e Petz têm planos de expansão. 

No caso da Petz, a empresa encerrou o terceiro trimestre de 2022 com 200 lojas e tem como objetivo entregar pelo menos 40 novas lojas por ano até 2025.

“Dá pra perceber que essas três empresas estão executando seus planos. Elas aproveitaram a fragilidade da concorrência para acelerar seus planos e tem ainda por alguns anos um forte crescimento orgânico, que depende somente delas, da abertura de lojas, do ganho de marketshare – que é consequência disso – e devem aproveitar as dificuldades da concorrência para crescer mais”, afirmou Ragazi.

“Enfim, não acho que o momento seja o ideal para investir nessas varejistas generalistas, as concorrentes diretas da Americanas, por mais que elas possam se beneficiar dessa dificuldade da concorrente. Eu prefiro essas outras empresas que conseguem crescer independente do cenário”, completou Ragazi.

O especialista destacou que as três companhias citadas, para além do Mercado Livre e de Magalu, estão negociando a Múltiplos muito baixos. 

“Se você pega os múltiplos históricos, você vai ver que essas empresas estão negociando a metade do que elas negociavam antigamente”, disse Ragazi. 

O especialista Felipe Pontes, do Economatica, reforça que, independente da escolha de investimento no varejo ou em outro setor, o investidor sempre precisa ficar atento ao risco da operação.

“Hoje, o mercado vê potencial de valorização de 13% na Magazine Luiza e de 22% na Via. O retorno esperado sempre está relacionado com o risco do investimento e o investidor precisa olhar essas duas variáveis em conjunto, antes de realizar o seu investimento”, disse Pontes.