
A Netflix divulgou os resultados do terceiro trimestre de 2025 com números sólidos, mas um alerta importante: uma disputa tributária no Brasil afetou diretamente sua rentabilidade, um reflexo, segundo o Itaú BBA, do “custo de fazer negócios no país”.
A gigante do streaming registrou receita de US$ 11,5 bilhões, alta de 17% sobre o mesmo período do ano anterior e em linha com as expectativas.
No entanto, uma despesa extraordinária de US$ 620 milhões com a CIDE, imposto sobre remessas ao exterior, reduziu a margem operacional de 34% para 28%.
Sem esse impacto, a empresa teria superado sua própria projeção de 31% de margem. Para o ano, a estimativa caiu de 30% para 29%, embora o fluxo de caixa livre tenha sido revisado para cima, chegando a US$ 9 bilhões.
No pré-mercado, por volta das 8h (horário de Brasília), as ações da Netflix recuavam mais de 6%. A projeção para o quarto trimestre mantém o ritmo de crescimento, com expectativa de receita 17% maior que a de 2024.
A companhia aposta em uma programação forte, com o retorno de séries populares, eventos ao vivo e avanços nas frentes de publicidade e jogos interativos.
Disputa no Brasil reacende debate sobre tributação do streaming
Durante a conferência com investidores, a Netflix destacou o crescimento do engajamento e da publicidade, com recordes de audiência nos EUA e Reino Unido, e previsão de dobrar a receita com anúncios em 2025.
A empresa reforçou o otimismo para 2026, cujos números só serão divulgados em janeiro.
O caso tributário no Brasil, que envolve a aplicação da CIDE sobre serviços prestados pela matriz americana à operação local, reacendeu o debate sobre a tributação de plataformas de streaming.
Um projeto de lei em tramitação propõe taxar as empresas entre 3% e 6% da receita, além de exigir mais conteúdo nacional e transparência sobre audiência.
Apesar do revés fiscal, o Itaú BBA considera que os fundamentos da Netflix permanecem sólidos e alinhados a uma estratégia de crescimento sustentável e inovação, especialmente nas áreas de publicidade e jogos.
O banco mantém recomendação outperform (compra), com preço-alvo de US$ 1.514, o que representa potencial de alta de 22% em relação ao último fechamento.
A XP destacou que KPop Demon Hunters tornou-se o filme mais popular da história da plataforma, enquanto Wednesday (2ª temporada) e Happy Gilmore 2 registraram forte audiência.
O evento ao vivo de boxe entre Canelo Álvarez e Terence Crawford foi o mais assistido do século em lutas masculinas.
Ainda assim, há preocupações com o ritmo de crescimento do engajamento e o avanço de concorrentes gratuitos como YouTube e Roku, o que também pressionou as ações após o balanço.
Bancos divergem sobre perspectivas; foco em IA e anúncios
Para o quarto trimestre, a Netflix projeta lucro por ação de US$ 5,45, receita de US$ 12 bilhões e margem operacional de 23,9%, alta anual de 2 pontos percentuais — e 1 ponto acima do consenso.
No consolidado de 2025, a meta de margem EBIT foi ajustada de 30% para 29%, ante expectativa de 31,3% do mercado.
“As ações caem após o resultado, refletindo a percepção de que o trimestre ficou aquém das expectativas, mesmo com o sólido crescimento de receita e o avanço em publicidade”, avaliou a XP.
Além disso, executivos da Netflix afirmaram que grandes aquisições não são prioridade, reduzindo rumores sobre uma eventual compra da Warner Bros. Discovery, cuja valorização recente foi impulsionada por especulações.
O Goldman Sachs mantém recomendação neutra, com preço-alvo de US$ 1.300, indicando potencial de alta de 5%.
O banco ressalta que os principais pilares operacionais seguem intactos: crescimento de receita impulsionado por maior engajamento, eventos ao vivo, investimentos em conteúdo e inovações em IA, publicidade e jogos.
Olhando para 2026, o desempenho das ações deve depender da execução de uma carteira de conteúdo robusta, da expansão das margens operacionais e do avanço do segmento de anúncios — impulsionado por investimentos em tecnologia e parcerias.
No longo prazo, o Goldman vê a Netflix como uma geradora de receita de dois dígitos, com potencial de expansão consistente de margens e de crescimento de usuários e monetização da camada de anúncios.