No Nubank (NUBR33), 2023 pode ser ainda mais desafiador

BDRs do neobanco acumulam queda de mais 63% no ano; confira qual é o cenário para o futuro dos papéis

Com o cenário macro global desfavorável para ações de setores que demandam crédito e são, historicamente, mais endividados, os papéis ligados ao setor de tecnologia sofreram em 2022. No caso do Nubank (NUBR33), que une o setor de tecnologia ao financeiro, o desafio foi dobrado. Conter a inadimplência e realizar operações para tentar gerar lucros similares aos de grandes bancos ainda são caminhos longos e distantes para o neobanco, pelo menos no curto prazo – de acordo com especialistas.

O analista Guilherme Zanin, da Avenue, explicou ao BP Money que o setor financeiro se beneficia do aumento de juros, já que as instituições conseguem emprestar e ganhar um ‘spread’ maior devido às taxas em patamares elevados. Esse seria um catalisador positivo para o Nubank em 2023. No entanto, os juros deixam as dívidas mais caras, o que impacta diretamente e negativamente empresas de tecnologia, que já são endividadas historicamente. 

“O Nubank foi uma das ações que mais sofreram ao longo dos últimos anos, assim como o setor de tecnologia como um todo, e ele tem um grande problema com relação a carteira de crédito, que é muito focada em pessoa física”, disse Zanin.

O analista destacou que o Nubank é mais impactado pelos movimentos macroeconômicos do que outras instituições financeiras, por ser muito focado em pessoas físicas. 

“Vemos, no Brasil, um cenário desafiador, com juros mantendo-se elevados no próximo ano, o que novamente seria lucrativo para a empresa, mas impacta negativamente com, principalmente, pequeno investidor que acaba dando um pouco mais de default, chega a pagar menos o seu crédito e o crédito fica mais caro”, explicou Zanin. 

Sobre a carteira de clientes do banco ser mais voltada ao pequeno investidor e, principalmente, pessoas físicas, Zanin afirmou que os dados de crédito publicados recentemente pelo Serasa mostram um aumento significativo de pessoas entrando para a lista de devedores oficiais. 

Pelo 10º mês seguido, a inadimplência registrou alta no Brasil, chegando, em outubro, a 69 milhões de pessoas com o nome negativado. Os dados são do Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas da Serasa.

“Novamente, o Nubank é mais ligado a pessoas físicas, é diferente de Bradesco e Banco do Brasil, que são mais PJ e agronegócio, respectivamente. Eles são mais resilientes a movimentos econômicos anticíclicos. O Nubank, nesse sentido, acaba pegando uma maré negativa”, disse Zanin. 

Nubank apresentou pontos positivos em 2022

O Nubank foi o banco que mais aderiu clientes a sua carteira, neste ano. Até outubro, foram 14,9 milhões de pessoas. No entanto, a base de clientes, apesar de ser importante, não garante lucro para a instituição.

O terceiro trimestre de 2022 teve um importante marco para o Nubank. A instituição financeira teve, pela primeira vez, lucro após o seu IPO (Oferta Pública inicial de Ações). O lucro líquido registrado pela instituição financeira, no período, foi de US$ 7,8 milhões. Além disso, o neobanco reportou uma expansão em suas receitas e na base de clientes.

Um dos problemas do Nubank, de acordo com os especialistas consultados pelo BP Money, está na concessão de crédito (um dos pilares da maioria dos bancos). O neobanco, líder em crédito entre os bancos digitais no Brasil, acabou ficando refém desse tipo de receita, já que boa parte de seus serviços são gratuitos e o banco ainda não atua em tantas áreas.

Neste cenário, o roxinho acabou tendo dificuldade em conseguir rentabilizar os clientes. Esse desafio, inclusive, permanece para 2023, como explica Zanin.  

“A empresa tem crescido, mesmo neste ambiente difícil, mas ainda vemos um cenário bem difícil para o acionista da empresa. O Nubank precisa atingir níveis de lucratividade similares aos grandes bancos do Brasil e esse movimento demanda tempo, até que ela possa atingir algo próximo. Ela precisa de uma carteira mais diversificada, ganhar força em investimentos, área de M&A, etc”, afirmou Zanin, destacando a importância do investimento do banco para além do crédito e pessoa física. 

Em relação aos papéis da companhia, Zanin afirmou que com a queda pode ser uma ação atrativa para longo prazo. “A curto prazo, o ambiente é desafiador, não temos expectativas de melhora e o banco pode sofrer ainda mais”, disse o analista.

Para Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Research, o desafio do Nubank para 2023 é conter custos, principalmente operacionais. 

“É algo que o acionista deve ficar de olho, bem como a inadimplência e se existirão outras formas do banco trazer crescimento com rentabilidade, dado que o crédito vai ser pouco rentável com o cenário macro mais complicado”, disse Lopes. 

Para o curto prazo, entretanto, a especialista reitera a ideia de Zanin. “Imagino uma melhora nos resultados do Nubank, mas nada que me faça ser otimista com a companhia. Acho que o mais importante para quem já tem a ação é acompanhar os níveis de inadimplência”, pontuou Lopes.

A analista da Nord concluiu afirmando que o mais importante é que o Nubank deve conseguir crescer no lucro no próximo ano, na comparação anual. Além disso, Lopes chamou a atenção para a mudança de business que poderia ser implementada (saindo do foco do crédito para pessoa física).

“Vai ser um crescimento cada vez mais interessante, dado que a gente está em uma base de comparação fraca. Eles acabaram de gerar lucro e foi muito baixo, mas ainda assim para crescer mais, dar mais níveis de receita, é preciso outros produtos. Oferta de crédito é algo que o Nubank tem tentado fazer, hoje o banco é um business de crédito. O desafio vai ser monetizar e dar rentabilidade, dado que a gente está em um cenário de juros muito complicado e a inflação atua em todos os países que o Nubank tem correntistas”, concluiu Lopes.

Os BDRs do Nubank acumulam queda de mais 63% no ano e estão cotados, atualmente, a cerca de R$ 3,31.