Crescem as RJ

O agronegócio está em crise? Veja o que dizem especialistas

As recuperações judiciais crescentes acenderam um alerta vermelho na economia e no mercado de crédito agro, sobretudo após o caso Agrogalaxy

Agronegócio
Foto: Freepik

As recuperações judiciais crescentes no agronegócio brasileiro acenderam um alerta vermelho na economia. Há algumas semanas, o pedido da Agrogalaxy, um dos maiores players do agro, caiu como uma bomba no mercado. Alguns dias depois, outra empresa – o Grupo Portal Agro – também solicitou um novo pedido de RJ.

Entre produtores rurais que atuam como pessoa física no Brasil, houve uma alta de 523% no número de pedidos de recuperação judicial no primeiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período de 2023. Foram 106 solicitações, segundo dados de crédito da Serasa Experian.

A enxurrada de notícias nessa mesma linha tem levantado dúvidas quanto à solidez do setor, um dos mais importantes para a economia do país. Afinal, o agronegócio está em crise?

De acordo com Leandro Mirra, sócio responsável pelo segmento de Agronegócio na Nelson Wilians Advogados, o número de pedidos de recuperações judiciais ajuizados até o momento não é tão significativo a ponto de afirmar que o agro está em crise.

“Os pedidos são, percentualmente, insignificantes se comparados ao número de produtores rurais do Brasil”, destacou Mirra.

Anderson Santos, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, concorda. Segundo ele, apesar do ambiente desafiador, empresas maiores tem conseguido se adaptar, exportando e buscando outras alternativas para contornar os desafios.

Os especialistas consultados pelo BP Money pontuaram, todavia, que o ambiente desafiador para o agronegócio é uma realidade. Segundo Mirra, a queda dos preços das commodities e quebras de safra por problemas climáticos são dois dos principais problemas.

Santos chama atenção também para o crédito no mercado agro. “Com a alta taxa de juros no Brasil, o crédito fica mais restrito, o que afeta principalmente empresas que dependem de financiamentos para operar e inovar, como as do setor de grãos”, afirmou Anderson.

Expectativas para o agronegócio

Segundo Anderson Santos, o governo brasileiro tem buscado reverter os desafios enfrentados pelo agro com políticas de apoio ao crédito rural e investimentos em tecnologia. Os resultados, porém, ainda estão sendo sentidos de forma gradual.

O especialista em mercado de capitais chamou atenção, principalmente, para o setor de grão, que deve continuar enfrentando percalços com a alta taxa de juros encarecendo o crédito. Isso, de acordo com ele, pode elevar o número de pedidos de recuperações judiciais.

“No entanto, o cenário internacional com cortes graduais de juros nos EUA oferece a possibilidade de estabilização no médio prazo”, pontua Santos.

Leandro Mirra discutiu ainda as facillitações de acesso ao crédito conquistadas com o tempo, o que reduziu a exposição do produtor aos juros para se financiar.

“Antes, tínhamos apenas o Plano Safra, o produtor recorría a um empréstimo junto a uma instituição financeira para produzir. Hoje, já é possível a tomada de crédito no mercado de capitais, o que aumenta a competitividade na oferta do crédito”, salientou Mirra, destacando, porém, que “nada mudará” se o produtor não melhorar a governança.