Na Oi (OIBR3), impasse de venda da Oi móvel pode ser a ruína da empresa

Analistas citam possibilidade de fusão e aquisição para a Oi, em caso de cancelamento de venda da Oi Móvel

O cenário que já não era favorável para a Oi (OIBR3) pode ficar ainda pior, em caso de uma reversão pela Anatel na venda da Oi Móvel para Tim, Telefônica Brasil e Claro. Segundo especialistas consultados pelo BP Money, caso a Oi volte a ter o seu braço de telefonia móvel em seu escopo, o seu prejuízo pode ficar ainda maior, o que traz “perspectivas de ruína” para a companhia de telecomunicações. 

O analista CNPI Thomas Pedrinelli destaca que a possível quebra do contrato da Oi com Tim, Telefônica e Claro, em relação a venda da Oi Móvel, poderia fazer com que a tele fosse ainda mais prejudicada, mexendo diretamente com os números de seu balanço.

“Se a operadora voltar a ter a parte da Oi Móvel e não mais o caixa desse ‘deal’, ela terá um prejuízo ainda maior. Primeiro porque ela já considerava nos balanços dela do último trimestre que essa operação seria concretizada, então essa projeção seria um pouco mais otimista. Com a volta da negociação, os valores voltam a ficar mais pessimistas”, explicou Pedrinelli. 

“Colocar de volta um membro [Oi Móvel] que você acabou de excluir é um desafio muito grande, seja por recursos humanos, financeiros ou pelos recursos já gastos para fazer a operação. Se a Anatel, junto com os órgãos, definir que de fato houve alguma questão que faça sentido deletar esse processo, a Oi vai ser muito prejudicada”, complementou o analista. 

O analista da Nord Research, Fabiano Vaz, confirma a teoria de Pedrinelli sobre a Oi. Segundo ele, caso a Anatel desfaça a venda da Oi Móvel, a recuperação judicial da companhia pode ser abalada, mesmo porque a tele já utilizou parte dos recursos dessa operação para pagamento de dívidas.

“Até agora não saiu nada oficial em relação à Anatel e a Oi, mas se tudo isso se concretizar, é uma notícia muito ruim para a empresa. Isso pode colocar em xeque a recuperação judicial. É uma operação super complexa, muito grande, para reverter isso é bem complicado até porque a Oi já utilizou grande parte dos recursos que ela recebeu da venda da Oi Móvel, inclusive pagamento de dívidas para o BNDES, pagamento de bonds (títulos de dívida), reverter tudo isso é muito complicado, quase dá pra dizer que é impossível”, disse Vaz. 

Os analistas destacaram, entretanto, que a possibilidade de uma reviravolta na venda da Oi Móvel ainda é vista com muita cautela, já que existem muitos entraves que cercam a negociação. 

“Apesar das notícias, até do posicionamento do presidente da Anatel, eu estou vendo com muita cautela a possibilidade disso realmente ir pra frente. Pode ser que tenha algumas multas, principalmente para quem adquiriu (Tim, Vivo e Claro), mas pra Oi é bem ruim. E isso acaba refletindo nas ações. Até agora não teve nenhum grande reflexo no desempenho das ações. Não caíram muito, mas também não tiveram nenhuma repercussão positiva, nem nada, seguem meio de lado. Por isso o mercado está de olho, mas também não colocou isso no preço ainda”, afirmou Vaz.

De acordo com o analista, se a Anatel decidir cancelar a venda da Oi Móvel, as ações da companhia podem despencar, principalmente pelas perspectivas que pioram para a tele. 

“Nas próximas semanas devemos ter alguma definição ou ideia de como tudo isso pode ser encaminhado”, disse Vaz.

Para o analista Thomas Pedrinelli, a Oi voltará para uma perspectiva de ruína, se a Anatel decidir cancelar a operação. Por outro lado, segundo o especialista, o cancelamento da venda da Oi Móvel poderia deixar a empresa atrativa para uma fusão. 

“Pode ser que ela fique tão barata que seja positivo adquirir a empresa como um todo e não só partes dela. Acho que ninguém vai tomar a iniciativa de cancelar o ‘deal’, é só um burburinho”, disse Pedrinelli. 

Recuperação judicial da Oi 

Quando o assunto é empresa endividada, a Oi é um grande destaque. A companhia entrou em recuperação judicial em junho de 2016, com uma dívida de R$ 65,4 bilhões. 

“O total dos créditos com pessoas não controladas pela Oi listados nos documentos protocolados com o pedido de recuperação judicial soma, nesta data, aproximadamente R$ 65,4 bilhões”, informou a empresa à época.

Veja também: Oi (OIBR3): Anatel pensa em desfazer venda da Oi Móvel

Para arcar com algumas de suas dívidas, a empresa começou a leiloar partes de suas operações, como foi o caso da Oi Móvel. 

Em dezembro de 2020, a Oi começou uma movimentação para colocar parte da Oi Móvel em leilão. A empresa conseguiu finalizar esse processo em fevereiro deste ano. A Anatel, entretanto, pode cancelar a venda da Oi Móvel. Isso porque, segundo o presidente da agência, Carlos Baigorri, as três operadoras (Tim, Telefônica Brasil e Claro) estão tentando evitar a concorrência do mercado ao interromperem o processo de oferta de roaming.

Os analistas consultados pelo BP Money salientaram que a empresa pode ser bastante prejudicada por um possível cancelamento da venda da Oi Móvel. Para o analista Thomas Pedrinelli, uma das maiores dificuldades da tele, hoje, está em precificar o seu produto. Por isso, ela não consegue gerar uma receita favorável. 

“A venda da Oi Móvel seria um aval para a empresa dar um respiro para os próximos passos. Ela ainda não é estável, tem muita dívida, está com o caixa muito prejudicado, e não tem indicadores legais. A perspectiva que a gente tem é que a empresa ainda vai demorar alguns anos para se restabelecer no mercado”, destacou o analista.