“Qualquer acerto de estratégia e gestão lança um potencial [sobre as ações], visto que a base reduzida é muito grande”, é o que diz Rodrigo Negrini, especialista em finanças e CEO da Soul Capital, em resposta ao BP Money, sobre a valorização da Oi (OIBR3).
A empresa de telecomunicação disputa uma maratona para conquistar a confiança dos credores e solucionar uma dívida total de R$ 44,3 bilhões. Este é o segundo processo de Recuperação Judicial (RJ) iniciado pela Oi.
Porém, mesmo diante desse cenário, que geralmente corrói a visão do mercado sobre os papéis de uma companhia, as ações ordinárias OIBR3 valorizaram 100%, enquanto as preferenciais OIBR4 alcançaram 50% de valorização, no mês de fevereiro.
Isto indica um ânimo nas perspectivas sobre as cotas. Contudo, o fato delas virem de um longo período de desempenho fraco, aumenta a percepção dos agentes do mercado.
De acordo com Negrini, a companhia estava extremamente descontada, com aproximadamente 95% sobre a máxima histórica registrada em 2021.
“Além disso, em função das reestruturações que a companhia passou recentemente, o ativo está mais concentrado no que pode dar certo e seus acionistas de referência conhecem o caminho das pedras, desta forma, a expectativa do mercado começa a mudar o viés”, afirmou.
Há duas linhas que separam esse momento de otimismo e evolução. A primeira delas, diz Negrini, foi a alienação de ativos e energia centrada em um segmento focal, como a fibra. Como consequência, as chances de sucesso em um setor que está em crescimento aumentam, outras prioridades são tiradas de vista, o que gera mais credibilidade.
Quanto à segunda linha, ele analisa ser importante para os credores “se organizar para manter a empresa operacional, e ainda, como contrapartida há expectativa de mais crédito, mesmo que extraconcursal, além de novo aumento de capital, melhorando a liquidez e capacidade de desenvolvimento do negócio”.
OI (OIBR3): Histórico da maior recuperação judicial do Brasil
O primeiro processo de RJ iniciado pela Oi, em 2016, foi resultado de uma série de desafios. Entre eles, o endividamento expressivo, junto a investimentos em infraestrutura e à concorrência intensa no setor de telecomunicações. Em decorrência, a empresa se viu pressionada financeiramente.
Além disso, como explica Melissa Angelini, diretora de RI e membro do Conselho de Administração do IBRI, a tecnologia evoluiu rapidamente, logo, a necessidade constante de atualização para acompanhar os pares do mercado dificultou ainda mais a situação da Oi.
A empresa, diz ela, teve dificuldades significativas em negociar com os credores, na época. Entre eles estavam bancos locais e estrangeiros, detentores de títulos de dívida, assim como agências de exportação de crédito.
O processo só foi concluído em março de 2022, após a Justiça prolongar o encerramento, que deveria ter ocorrido em outubro de 2021.
“A demora na conclusão do processo foi atribuída à complexidade das negociações e à falta de convergência entre a Oi e os credores sobre os termos da reestruturação”, avaliou Angelini.
“A injeção de dinheiro novo, conversão de parte da dívida em ações e venda de ativos foram estratégias adotadas para viabilizar a continuidade das operações”, completou.
Enquanto isso, Negrini reitera que, em sua percepção, a primeira RJ da Oi não deu errado e “a lição de casa foi feita como deveria”.
“Mas o tempo para que as questões fossem resolvidas, culpa também da legislação e regulamentação do setor, foi muito elástico e com a instabilidade econômica do Brasil, os passivos financeiros não se atenuaram”.
Visando o momento atual, Angelini cita que o segundo plano de RJ da Oi, que ainda passará pela assembleia de credores para tratar decisões sobre o plano judicial, apresenta uma revisão dos termos.
Além disso, está previsto também a captação de um empréstimo equivalente a US$ 650 milhões.
As participações em outras empresas do setor de telecomunicações, como a V.tal, de fibra ótica, serão vendidas, afirma ela.
Ademais, outros pontos do termo definem descontos para os credores em diferentes frentes, e, ao final do processo, os acionistas atuais terão 20% do capital da Oi.
Mudanças de cargos e entrada de Nelson Tanure
As modificações começaram ainda em janeiro deste ano, quando o ex-CEO, Rodrigo Abreu, deixou o comando da companhia. A saída abriu espaço para especulações de melhorias na governança, com a entrada de novos controladores.
Logo em seguida, o Conselho de Administração da Oi indicou Mateus Affonso Bandeira ao cargo, que já era um membro independente do Conselho.
Segundo Mônica Araújo, estrategista de renda variável da InvestSmart, essa mudança não foi de grande impacto para os investidores.
“Acredito que o que pode mudar a percepção dos investidores esteja diretamente relacionado ao processo de recuperação da empresa, cujas fases já foram indicadas pela gestão e que tem todo um cronograma de implementação a ser aprovado pelos credores”, explicou.
Ao final do mês de fevereiro, outro movimento ganhou atenção dos investidores: a chegada de Nelson Tanure. O executivo baiano, por meio da Trustee DTVM, adiquiriu 5,14% da Oi. A chegada do investidor, já muito conhecido no mercado, mexeu com as expectativas, desde então, as ações da Oi tem voltado ao patamar negativo.
Quanto a presença de Tanure na empresa, Araújo reitera que qualquer mudança societária causa apreensão sobre as diferenças a serem implementadas, pensando se serão positivas ou não.
“Além disso, o perfil do novo investidor estratégico sempre é considerado também, se há experiência em empresas nesse processo como a Oi passa, se há bom relacionamento com os demais acionistas estratégicos e etc. Portanto, acredito ser normal essa reação inicial sobre os movimentos societários”, concluiu.
Já Negrini se mostra mais otimista e diz que a visão de ter Tanure no momento atual do negócio é fundamental. “Ele tem experiência e perfil para ajudar a companhia a passar pela turbulência enquanto destrava valor”, afirmou.
Previsões para os papéis
Para Angelini, o otimismo demonstrado sobre os papéis da Oi reflete as expectativas sobre o acordo. Ela cita, por fim, entre as razões para tal, as “projeções otimistas da empresa para sua operação de fibra ótica, que pretende sair de uma base de 4 milhões de casas conectadas em 2023 para 5,6 milhões em 2028, com aumento na receita”.
“A mudança na liderança da empresa também pode estar contribuindo para a confiança dos investidores”, finalizou.
Enquanto isso, Negrini faz associações à área de telecomunicações. Segundo ele, o segmento de fibra continuará crescendo, por isso, a Oi deve começar a gerar mais caixa operacional.
Além disso, “poderá evoluir na formação de uma estrutura de capital mais saudável, baixando sua dívida ao longo do tempo. Por consequência fará o valor da companhia subir”, destacou.