Salto acumulado de 69%

Oncoclínicas segue em alta após entrada de fundos; entenda

Oncoclínicas
Oncoclínicas / Divulgação

As ações da Oncoclínicas (ONCO3) estão novamente em alta nesta sexta-feira (21), após dois fundos geridos pela Latache ampliarem participações na empresa, na quarta-feira (19). Por volta das 10h20, os papeis subiam 10,25%, cotados a R$ 4,41.

A companhia, que chegou a perder 90% do valor de mercado desde sua estreia na bolsa, em 2021, e hoje é avaliada em R$ 1,3 bilhão, deu um salto acumulado de 69% desde 12 de fevereiro deste ano.

Porém, apesar da alta inesperada, alguns agentes do mercado não veem mudanças substanciais no desempenho da empresa, com falhas que levaram às quedas anteriores, e enxergam alto risco no investimento.

De acordo com comunicado da Oncoclínicas a acionistas, os dois fundos detém, agora, 44.627.915 ações, o equivalente a 6,84% do capital social da empresa. Segundo a nota, os fundos não têm intenção de mudar a composição de controle ou a administração da companhia e não têm, em sua base de cotistas, nenhum outro acionista relevante.

O ARCL II Fundo de Investimento Financeiro Multimercado e o Nova Almeida Fundo de Investimento Financeiro Multimercado, da Latache, têm, respectivamente, 40.310.615 ações (6,18% do capital social) e 4.317.300 ações (0,66%).

A Latache é uma gestora criada em 2015, com o objetivo de fazer investimentos de oportunidade para obter retornos diferenciados com proteção de capital.

“Investimos em todos os setores da economia, principalmente por meio de dívida e, ocasionalmente, equity (participação acionária em companhias), buscando destravar valor em empresas geradoras de caixa e com grande potencial de recuperação” diz a gestora, em seu site.

A alta nas ações ocorre após um rebaixamento da recomendação do JPMorgan para a empresa, de neutro para underweight (equivalente à venda), devido à desaceleração na macroeconômia, em decorrência do aumento da Selic. Além disso, o banco avaliou que as alterações no marco regulatório para o setor da saúde são prejudiciais à companhia.

“Neste contexto, evitaríamos empresas com balanços alavancados e perspectivas não claras de fluxo de caixa livre, especialmente Oncoclínicas, que rebaixamos de neutro para underweight“, diz um relatório do banco. Mesmo com a repentina alta, as ações ONCO3 ainda acumulam quedas de 60,38% nos últimos 12 meses.

As perdas ocorreram em razão de um alto endividamento e incertezas a respeito da saúde financeira da companhia, cenário que, apesar da alta inesperada, não mudou substancialmente, como afirma o sócio e analista de ações da Nord Investimentos Rafael Ragazi, em entrevista ao “InfoMoney”.

O especialista destacou que a Oncoclínicas é líder em um setor promissor, de oncologia, com 8% de participação nesse mercado e 40 aquisições (M&As). Além disso, o setor tem alta margem, já que os tratamentos de câncer são caros, e a empresa tem mostrado crescimento das receitas.

No entanto, ele ressaltou que a companhia não tem conseguido lucros consistentes e suas receitas se mantém negativas ou ligeiramente positivas, ficando entre as mais endividadas do setor. Esses fatores mostram que a empresa ainda tem muito a fazer para se tornar financeiramente saudável e gerar bons retornos a acionistas.

Ele também afirmou ao “InfoMoney” que o risco de investimentos na companhia é alto, principalmente por conta da estrutura acionária da Oncoclínicas, sem um controlador único, expondo a companhia a vulnerabilidades de governança. Portanto, Ragazi avalia que há opções melhores no setor da saúde como a Rede D’Or (RDOR3).

Histórico da Oncoclínicas

Desde sua abertura de capital, a Oncoclínicas passou por grande crescimento, motivado por parcerias com pagadores como a Unimed-Rio. Porém, com a expansão vieram também atrasos nos pagamentos, mais provisionamento e baixas nas margens e retornos.

Dessa forma, a empresa passou por aumentos de capital em 2023 e 2024, na tentativa de diminuir a alavancagem. O fundador e CEO da companhia, Bruno Ferrari, continuou investindo no negócio, que também recebeu aporte bilionário do Banco Master, segundo informações do “Money Times”.

Após uma alto consumo de caixa, a empresa apresentou um fluxo positivo no terceiro trimestre do ano passado. Mas, de acordo com o “Money Times”, ainda há dúvidas sobre o futuro da companhia, com uma possível saída do Goldman Sachs do quadro de acionistas.