A recente decisão da OPEP de estender os cortes de produção até o final do terceiro trimestre de 2024 e a eliminação gradual dos cortes voluntários adicionais a partir de outubro de 2024 tem gerado diversas discussões entre especialistas e investidores sobre as implicações para o mercado global de petróleo.
Para André Carvalho, diretor de portfólio da Acura Capital, entrevistado pelo BP Money, extensão dos cortes de produção deve levar a uma convergência dos preços para um novo equilíbrio. Ele ressalta que, apesar dos cortes, a demanda global por petróleo deverá crescer levemente, o que ajudará a reduzir os estoques e estabilizar os preços.
“Em termos gerais, a tendência é que tenhamos uma convergência do preço para o preço de equilíbrio. Na nossa visão, esse preço seria cerca de US$ 10 acima do patamar atual”, afirma Carvalho.
No entanto, a eliminação gradual dos cortes voluntários pode ter efeitos diversos. Carvalho observa que, embora a demanda global deva aumentar ligeiramente, é provável que a oferta de petróleo fora da OPEP aumente para compensar os cortes da organização, o que poderia estabilizar ou até reduzir os preços novamente.
“Não deve impactar a demanda propriamente dita, mas sim deve gerar impacto nos preços. Caso haja de fato compensação destes cortes pelos produtores fora do eixo, o preço deve voltar a ficar entre $70 e $80”, analisa.
O estrategista-chefe da consultoria Laatus, Jefferson Laatus, compartilha uma visão similar sobre a dinâmica do mercado.
O profissional acredita que a extensão dos cortes era esperada pelo mercado, mas enfatiza que a eliminação gradual dos cortes voluntários pode aumentar a oferta e pressionar os preços para baixo, especialmente em um cenário onde a demanda não está robusta.
“Tudo isso mostra que a demanda não está tão ampla. E esse possível retorno de produção da OPEP a partir do próximo trimestre vai aumentar a oferta de petróleo no mundo e consequentemente derruba o preço do petróleo, porque a demanda não está equiparada à oferta que vai ter”, explica Laatus.
“A diminuição e os cortes programados da OPEP acaba simplesmente balizando para o preço continuar igual e além disso precisamos lembrar que a segunda maior potência do mundo a China também esse ano vai ter um crescimento maior que o ano de 2024”, pontua Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
Implicações estratégicas na decisão da OPEP
Ambos os especialistas concordam que a decisão da OPEP de prorrogar os cortes oficiais até 2025 tem implicações estratégicas significativas para as empresas de petróleo e gás.
Laatus destaca que, enquanto a produção e a oferta aumentarem gradualmente, as empresas produtoras podem enfrentar pressões sobre suas margens de lucro.
“Ações de empresas petrolíferas no mundo todo caem porque de fato o petróleo mais barato é bom para quem importa, não para quem produz e exporta”, comenta Laatus.
Carvalho acrescenta que, dependendo da compensação pelos produtores fora da OPEP, os preços do petróleo podem cair ainda mais em 2025, impactando negativamente as projeções de lucro das empresas do setor.
Volatilidade no mercado de petróleo
Por fim, a volatilidade inerente ao mercado de petróleo é um fator que os investidores devem considerar cuidadosamente. Laatus enfatiza que o petróleo é uma commodity altamente sensível a questões geopolíticas e econômicas.
“O petróleo reage muito a essas questões de reuniões da OPEP, mas do mesmo jeito que reage a questões econômicas. Se China começar a soltar dados bons, já anima novamente o petróleo justamente por expectativa de aumento de demanda”, afirma.
“A reunião não agradou o investidor, porque um corte mais severo poderia fazer um preço e fazer o barril do petróleo reagir mais e logo essas empresas deixar mais resultados, trazendo mais dividendos e etc”, diz Eyng.
“Entendo que a decisão da reunião da OPEP não agradou o investidor porque ela não deve trazer mudanças significativas”, completou Eyng.
A decisão da OPEP de estender e gradualmente eliminar os cortes de produção terá um impacto multifacetado no mercado de petróleo, influenciando os preços e a estratégia de investimento nas empresas do setor.
Investidores e analistas devem monitorar de perto as dinâmicas globais de oferta e demanda para ajustar suas expectativas e portfólios de acordo.