Na escalada dos ataques bélicos que tomam conta de alguns países do Oriente Médio, há um contraste que, de forma indesejável, revela que os danos da guerra também refletem em ganhos e perdas para a Bolsa brasileira, sendo o segmento de petróleo o mais afetado.
O conflito armado que se estende na região tomou conta do Líbano na semana passada, quando pagers e walkie-talkies do Hezbollah explodiram simultaneamente em redutos do movimento no país. A ação foi atrelada à Israel e o Mossad, seu serviço de inteligência, que desde então tem lançado bombardeios à capital libanesa, Beirute.
Especialistas consultados pelo BP Money explicaram que esse novo foco de conflito no Oriente Médio, junto à instabilidade geopolítica, gera um temor de que os países produtores e os navios transportadores de petróleo sejam afetados, o que leva a oscilações nos preços da commodity.
Apesar de, em primeira análise, os conflitos no Oriente Médio inclinarem essa oscilação dos preços para uma alta, o que beneficia as petroleiras, sobretudo a Petrobras (PETR4), maior empresa do setor no Brasil, em um cenário mais amplo essas guerras podem afugentar os investimentos da B3.
Além da preocupação com a continuidade do transporte e exportação, o fator especulativo ainda atua sobre o mercado, disse Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
“É importante observar que conflitos geopolíticos também elevam o nível de incerteza macroeconômica global, gerando maior volatilidade nas bolsas de valores, o que pode fazer com que investidores busquem ativos mais seguros, e consequentemente afetar negativamente os mercados emergentes, como o brasileiro”, afirmou Lima.
Esse ponto foi reforçado por Hulisses Dias, especialista em finanças e investimentos, que apontou também que, o petróleo em alta também traria preocupações inflacionárias, pressionando ainda mais os juros futuros.
“Por outro lado, um conflito prolongado traria consequências negativas para as economias dependentes de importação de petróleo, que enfrentam um aumento nos custos de importação, elevando a pressão inflacionária”, afirmou.
João Guilherme Caenazzo, sócio da Aware Investments, destacou que o petróleo é um dos componentes-cheve do índice inflacionário, logo, a escassez do commodity por períodos prolongados, caso os conflitos de agravem ainda mais e persistam, é capaz de empurrar a inflação nacional para cima e influenciar para a abertura da curva de juros futuros.
Nessa esteira, os produtores de proteína animal podem ser os principais prejudicados com a potencialização bélica no Oriente Médio.
“O Brasil é o principal fornecedor de carne bovina e frango para algumas nações da região, que, em caso de fechamento de rotas comerciais marítimas e/ou envolvimento mais direto na guerra envolvendo Palestina, Israel e Líbano, poderão vir a reduzir suas demandas”, complementou Caenazzo.
Efeitos diretos na Petrobras (PETR4)
As receitas seriam um dos primeiros pontos a refletir beneficamente o aumento nos preços internacionais do petróleo, infelizmente, causados pelas tensões no Oriente Médio.
“[O reflexo na] Bolsa brasileira, vai ser, infelizmente, de valorização da Petrobras, porque com o valor do insumo da matéria-prima do petróleo subindo, isso acaba que gera mais receita para as empresas petroleiras”, disse Bruno Corano, economista e idealizador do Imigre América.
Um dos fatores que derrubou as ações nos últimos dias foi a notícias de que poderia haver uma redução no preço dos combustíveis em breve, o que, no curto prazo, pode impactar não só os papéis mas também as margens da empresa.
No entanto, segundo Sidney Lima, a elevação dos preços internacionais da commodity pode gerar um efeito compensatório.
“Para se ter ideia se o preço do petróleo continuar subindo, a interpretação é de que a Petrobras poderá compensar a redução de preços no mercado doméstico com o aumento da receita proveniente de exportações”, afirmou.
Por sua relevância no Ibovespa, as ações devem sofrer com ainda mais volatilidade, ao passo que os investidores monitoram os movimentos da empresa para equilibrar seus compromissos com o mercado interno e as margens operacionais, ressaltou Hulisses Dias.
Em que ponto estão os conflitos no Oriente Médio?
- Tudo começou na terça-feira (17), quando centenas de pagers de membros do Hezbollah explodiram em diversos redutos do movimento em Beirute, capital do Líbano, e também no leste e fronteira sul do país, deixando ao menos 12 mortos e 2.800 feridos;
- Na quarta-feira (18), houve outra explosão em redutos do Hezbollah, dessa vez de walkie-talkies, deixando 25 mortos;
- Israel fez um ataque aéreo na capital do Líbano que matou, entre outras figuras seniores, o comandante do Hezbollah, Abrahim Aqil, de acordo com o próprio movimento e o governo israelense;
- Desde então, além de Beirute, o sul e leste libaneses, assim como a fronteira com a Síria, tem sido alvos de ataques aéreos israelenses;
- Os militares israelenses disseram que estavam “atacando alvos terroristas do Hezbollah” no país e que “atacaram infraestruturas usadas para transferir armas do território sírio para o Hezbollah”;
- Entre as vítimas já reconhecidas desse conflito está o adolescente brasileiro Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, cuja morte foi confirmada na quarta-feira (25);
- O garoto estava com pai, de nacionalidade paraguaia, quando foi atingido por um ataque aéreo no Vale do Beqaa, a 30 quilômetros da capital Beirute;
- O conflito no Líbano segue escalando, durante a madrugada de quinta-feira (26), o exército Israelense afirmou ter atacado 75 alvos do movimento Hezbollah;
- Nesse ataque, foi confirmada a morte de Muhammad Hussein Srour, comandante do Hezbollah que seria chefe do Comando Aéreo do grupo, segundo militares de Israel;
- Israel Katz, Ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, afirmou, na quinta-feira, que “não haverá cessar-fogo no norte” e que o país seguirá lutando contra o Hezbollah;
- O Hezbollah é um movimento islâmico apoiado pelo Irã com uma das forças paramilitares mais poderosas do Oriente Médio.