Com passagens nas alturas, Gol e Azul veem ações decolarem; vale a pena?

Preço das passagens aéreas disparou em junho e foi um dos destaques negativos do IPCA para o mês

O preço das passagens aéreas levantou voo e parou nos 11,32% em junho, puxando a alta do IPCA do mês. A informação mexeu com o mercado de ações, que logo viu os papéis de Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) subirem na bolsa de valores de São Paulo (B3). Segundo analistas, a alta das passagens aéreas pode impactar a receita das empresas do setor, positivamente. Isso, porém, não significa que os papéis irão reverter as quedas dos últimos meses. 

De acordo com Enrico Cozzolino, head e sócio da Levante Investimentos, um dos fatores para a alta das aéreas na bolsa nesta sexta é a leitura, por parte dos investidores, de que, de fato, o IPCA está chegando em um topo, como o Comitê de Política Monetária (Copom) tem alertado. 

“Não compro ainda essa ideia, de que o IPCA está chegando ao limite, mas acho que é esse movimento. Outro fator é que tem toda a alta do petróleo recente, esse cenário de desemprego e inflação que aumenta a subida do juros e reduz preço dessas ações também, mas o mercado está vendo que isso tem um limite”, disse Cozzolino.

“A gente não pode esquecer que Azul e Gol têm um know-how, um valor no serviço prestado, tem um valor de marca e de balanço. Então essa recuperação de preços também vem nesse sentido de ‘quanto mais o cenário pode ficar pior para que Azul e Gol continuem em novas quedas?’. Então é um repique de preços ainda, não dá pra falar em reversão de tendência mas tem relação sim com IPCA”, complementou o head da Levante.

No pregão desta sexta, Gol (GOLL4) chegou a subir 6,63%, com papéis cotados a R$ 8,85, enquanto a Azul (AZUL4) bateu uma alta de 8,45%, cotada a R$ 12,72.

Se por um lado existe o aumento das passagens, por outro há a elevação dos custos das companhias. Mas mesmo com o poder de compra reduzido do brasileiro médio, devido às altas de juros e da inflação, o analista da Reach Capital, Khalil de Lima, acredita que as aéreas devem se beneficiar da inflação, que é puxada – principalmente – pelo preço dos combustíveis. 

“Deve melhorar o valor nominal de receitas das companhias aéreas. Essas empresas estão com a mentalidade de repassar a inflação no preço das passagens. Historicamente, o valor das receitas tendem a melhorar”, disse Lima.

O analista destaca, entretanto, que a melhoria, em termos de lucro, não deve acontecer no curto prazo. Apesar do setor conseguir repassar alguns valores nas passagens, o combustível acaba sendo um dos maiores gastos dessas empresas, o que influencia diretamente em seus resultados. Além disso, os investidores costumam não olhar tanto para as aéreas em momentos de cenário macroeconômico instável.

“O dólar e o valor do querosene de aviação ainda continuam em patamares bem acima do histórico. Acredito que a alta de hoje dessas empresas na B3 reflete um pouco a perspectiva de desaceleração da inflação para os próximos meses, bem como a revisão para baixo, de alguns bancos, do preço do petróleo”, completou o analista.

Sidney Lima, analista da Top Gain, complementa o raciocínio de Khalil, afirmando que a alta do petróleo – de forma consistente – nos últimos meses, acabou prejudicando essas empresas.

“Uma das maiores despesas que essas empresas têm, que impactam a margem de receita delas, é justamente o combustível. Com essa expectativa de alta no aumento das passagens, tem de a existir um aumento de margem de receita dessas empresas, então isso pode trazer um certo alívio para o setor também”, afirmou Lima. 

De acordo com Sidney, a alta de Azul e Gol nesta sexta é em reação, principalmente, a este movimento. “O investidor sempre acaba olhando o que pode aumentar a receita, como é o caso da alta das passagens aéreas”, destacou o analista da Top Gain.

Para Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, o cenário para as aéreas deve permanecer desafiador nos próximos meses. “Com a inflação acima dos dois dígitos em 12 meses, o cenário segue desafiador para as aéreas até o final do ano. O IPCA-15, dado antecedente do IPCA, já mostrava essa alta de quase 11% das passagens áreas, portanto era um fator esperado pelo mercado”, pontuou o especialista.