O diretor-executivo de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras (PETR3; PETR4), Maurício Tolmasquim, informou em uma entrevista à Reuters que a petroleira não considerará mais investimentos em projetos de geração de energia eólica e solar fotovoltaica no exterior. Em vez disso, a Petrobras concentrará seus esforços na formação de sua carteira, priorizando principalmente projetos “greenfield” no território brasileiro.
Essa movimentação evidencia a mudança na postura da Petrobras, pois no ano anterior, a companhia havia manifestado a intenção de explorar projetos no exterior, em áreas como a energia eólica offshore. Essas iniciativas eram vistas não apenas como investimentos, mas também como uma estratégia para adquirir conhecimento técnico (“know-how”).
“Foi descartado (investir no exterior), porque a Petrobras é uma empresa brasileira e nós temos uma quantidade de recursos naturais no Brasil muito boa. A gente conhece o Brasil e sabe operar no Brasil, então não tem necessidade de ir para fora”, afirmou Tolmasquim.
O foco na construção de projetos renováveis no Brasil atende aos anseios do governo federal em relação à companhia, cuja gestão que tomou posse após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca aliar geração de empregos locais com um protagonismo no processo para a transição energética brasileira.
A Petrobras planeja investir mais de US$ 5 bilhões em projetos de geração de energia eólica e solar até 2028. De acordo com o novo plano estratégico divulgado no final de 2023, os investimentos em projetos de baixo carbono começarão a ganhar impulso a partir do próximo ano.
Em 2023, Tolmasquim mencionou que a Petrobras estava em diálogo com empresas estrangeiras, principalmente do setor de petróleo, com o objetivo de avaliar projetos. Essa abordagem era vista como uma maneira de integrar rapidamente empreendimentos ao seu portfólio, especialmente em setores nos quais o Brasil ainda não havia estabelecido um marco regulatório.
Ao ser questionado sobre se a mudança de direção foi motivada por demandas do governo, Tolmasquim indicou que essa decisão foi uma conclusão interna da própria empresa.
“Antes a gente estava um pouco receoso porque não tinha perspectiva de marco regulatório de eólica offshore no Brasil, mas agora como avançou muito no Congresso… não tem por que a gente ir para fora”, afirmou.
Entrada da Petrobras em renováveis
A Petrobras realizará seus primeiros investimentos no setor de energias renováveis, focando em projetos eólicos e solares em terra. Tolmasquim destacou que esse segmento já está consolidado no Brasil, apresentando retornos positivos.
Sendo assim, a petroleira planeja compor sua carteira de energias renováveis, sendo 80% desses projetos caracterizados como “greenfield”, ou seja, em estágios iniciais ou a serem desenvolvidos do zero, e os 20% restantes referentes a projetos já operacionais, conforme informou Tolmasquim.
A maior parte dessa iniciativa também será realizada por meio de parcerias com outras empresas. “A gente vai ao máximo de 50% para a maior parte dos projetos… é uma maneira de dar mais agilidade, porque aí não caracteriza como uma estatal.”
Ele preferiu não entrar em detalhes sobre os projetos atualmente em estudo, mas não descartou a possibilidade de anúncios ainda neste ano, “tudo vai depender das oportunidades que estamos analisando”, afirmou.
Os investimentos da Petrobras, que marcam o retorno da empresa ao mercado de energia renovável, são planejados em um momento em que o Brasil enfrenta um cenário de sobreoferta de eletricidade. Ao mesmo tempo, no exterior, grandes projetos de geração eólica offshore estão sendo cancelados devido à baixa atratividade econômica.
Tolmasquim expressou sua convicção de que a demanda por energia no Brasil aumentará nos próximos anos, impulsionada pela própria transição energética, que promove a eletrificação do transporte.