Petrobras (PETR4): Acelen prejudicada com política de preços

A nova política de preços da Petrobras tem causado problemas para a Acelen

A Acelen, que opera a refinaria de Mataripe, na Bahia, viu seus títulos de dívida em dólar recuarem para cerca de 63 centavos de dólar, uma queda de 26 centavos desde fevereiro. A perspectiva para a dívida com vencimento em 2031 foi revisada para negativa pela Moody’s Investors Service no início do mês, em meio a riscos crescentes à geração de caixa da empresa. As informações são do jornal “Valor Econômico”. 

Segundo a publicação, a causa da queda é a nova política de preços de combustíveis implementada pela Petrobras (PETR3;P3TR4) que tem causado problemas para a refinaria ocupou o lugar da antiga Landulpho Alves.

Nos últimos meses, a estatal tem vendido gasolina e diesel com desconto em relação aos preços internacionais. A Acelen afirma que sua refinaria está em desvantagem: por um lado, a empresa diz que a Petrobras, fornecedora dominante no Brasil, vende óleo cru a preços altos. E, por outro, não consegue competir com refinarias rivais que estão vendendo gasolina e diesel a preços mais baratos. As alegações sobre os preços do óleo cru foram feitas em uma reclamação junto ao Cade. 

“A Petrobras está dificultando a vida da Acelen”, disse Ezequiel Fernandez, analista da Balanz Capital Valores. Essa combinação de fatores pressiona os chamados “crack spreads” — diferença entre o preço que a Acelen paga pelo óleo cru e o preço que consegue repassar aos consumidores — da companhia.

O “crack spread” ajustado da Acelen caiu para US$ 8,20 por barril no primeiro trimestre, uma queda de 54% em relação ao ano anterior, enquanto a receita recuou 10% para US$ 2,2 bilhões.

“O Brasil precisa assegurar um mercado de refino em condições justas e competitivas”, a Acelen disse em nota. Distorções no mercado brasileiro e um mercado internacional volátil — em meio à guerra na Ucrânia e fatores econômicos globais — têm sido refletidos nos resultados, segundo a Acelen. A Petrobras não a pedido de comentário.

As margens da Acelen nos últimos trimestres foram prejudicadas pelos altos custos de frete no mercado internacional de very-low sulfur fuel oil (VLSFO), custos associados a contratos de curto prazo e gastos com o ramp-up da produção, segundo Cristiane Spercel, analista da Moody’s.

Essas pressões estão começando a amenizar, disse Spercel, mas “2023 será um ano mais apertado em termos de geração de caixa”.

O fato de os títulos negociarem em níveis tão baixos sugere que os investidores estão se preparando para chances “substanciais” de algum evento de crédito, disse Fernandez, adicionando que uma injeção de capital pelo Mubadala é provável se as condições se deteriorarem ainda mais e o serviço da dívida se tornar problemático.

A Acelen “está confortável com a liquidez do negócio” e continua a avançar em seus novos projetos, segundo nota, que não comenta o potencial para uma injeção de capital.

Acelen: investimento de R$ 12 bilhões na Bahia pode ser cancelado

Em maio o clima azedou de vez entre as duas emrepsas. O presidente da Acelen, Luiz de Mendonça, deu detalhes sobre o pedido feito ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para adotar medidas preventivas contra a Petrobras.

Para ele, o imbróglio coloca em risco o crescimento do setor de refino no Brasil, inclusive os investimentos de R$ 12 bilhões em uma nova fábrica de biocombustíveis na Bahia, anunciados pela empresa em abril. A Acelen opera a Refinaria de Mataripe (ex-RLAM) pelo fundo de investimento árabe Mubadala.

“Lógico que pode [cancelar o investimento]. Preciso ter um posicionamento do Cade se a livre concorrência será defendida. Se a isonomia de preços de petróleo entre a empresa dominante que concorre comigo será garantida. A partir daí, o Cade vai dizer se existe um ambiente regulatório competitivo, confiável no Brasil. Se essas condições são dadas, a partir daí, é óbvio, confirmo todos os nossos planos de investimento”, disse o CEO em entrevista para o Broadcast/Estadão.

Na conversa, Mendonça ainda afirmou que a Petrobras vende petróleo para a Acelen 10% mais caro do que para as próprias refinarias, o que viola a isonomia da concorrência. “Ela é o competidor dominante, somos os agentes da ponta e estamos sendo apertados no petróleo”, afirmou. “A gente não tem como escapar de comprar da Petrobras.”

Para ele, o diálogo com a estatal se esgotou e, agora, cabe ao órgão da concorrência decidir se o País tem ou não regras claras de competição, uma decisão que pode afetar a imagem do Brasil.

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