Os rumores sobre um possível aumento de preço nos combustíveis, pela Petrobras (PETR3;PETR4), aumentaram após a Opep+ confirmar, na última quarta-feira (5), o maior corte de produção de petróleo desde o início da pandemia, em 2020. A estatal já estava com preços abaixo dos praticados no mercado internacional e o anúncio da Opep poderia ser o gatilho para a subida de preços.
Para analistas consultados pelo BP Money, o aumento dos combustíveis deve acontecer independente do governo que assumir após as eleições 2022. Segundo Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, o cenário político ainda é difícil de prever, mas é provável que o aumento aconteça entre o final deste ano e o começo de 2023.
“Pode ocorrer uma alta nos combustíveis, passada a eleição, por alguns fatores como a possibilidade da reversão do ICMS, que vai ocasionar um aumento e, além disso, tende a acompanhar o preço do petróleo internacional também, se manter a paridade”, disse Luives.
Segundo o analista, a política de preços não deve ser alterada de maneira fácil, mesmo com um novo governo – que no caso seria o PT. “Lula já sinalizou o interesse em mexer nessa política de preços, mas, obviamente, com o Congresso eleito mais de centro-direita fica complicado, fora o fato das melhorias que ocorreram na legislação, impedindo a interferência nas estatais”, completou Luives.
Com o segundo turno das eleições no radar e os valores defasados em relação ao mercado internacional, a movimentação poderia ter um efeito negativo para Jair Bolsonaro (PL) na corrida pelo pleito. O jornal “O Globo” publicou, nesta quinta-feira (6), que o Governo Federal estaria tentando trocar três diretores da petroleira para conter ou até diminuir ainda mais os preços dos combustíveis.
O mestre em economia e sócio da Quantzed, Cesar Frade, disse que o fato da Petrobras segurar o preço dos combustíveis tem muito mais a ver com a política do governo do que efetivamente com o preço do petróleo.
“O preço do petróleo deve aumentar e isso aumenta os custos da Petrobras, ponto. Se o governo vai bancar isso ou repassar, é ele que vai decidir, mas entre outubro e janeiro, com o preço do petróleo aumentando, pode haver, sim, o aumento do preço do combustível, sem dúvida nenhuma”, afirmou Frade.
Também nesta quinta (6), o jornal “Valor Econômico” destacou em sua página principal que a Petrobras “considera as altas recentes do petróleo movimentos especulativos e insuficientes para reajustes”. A fala seria de uma fonte interna da estatal petroleira.
Durante a matéria, entretanto, a mesma fonte diz que a Petrobras não descarta “nem uma alta e nem uma baixa” dos preços nas próximas semanas, porém “descarta que movimentos especulativos formem preço”.
Para Fernando Siqueira, Head de Research da Guide Investimentos, a questão do aumento dos combustíveis depende muito da evolução do preço no mercado internacional e também da evolução do real.
“No fundo, a Petrobras compara o preço que está sendo cobrado aqui, em reais, e quanto está o preço do mercado internacional também em reais. Hoje, eu diria que pelas nossas contas, o preço aqui do Brasil está um pouquinho abaixo do preço do mercado internacional, porque, apesar de ter tido essa alta recente do petróleo nos últimos dias, também com o corte de produção pela Opep, o real também apreciou, recentemente, principalmente depois das eleições. O aumento do preço depois das eleições depende dessas duas variáveis, o preço no mercado internacional e também a taxa de câmbio”, completou Siqueira.
O economista Gabriel Valença, da Eu Me Banco, seguiu a mesma linha de raciocínio de Siqueira.
“Como a Petrobras segue uma política de preço internacional, a alta ou diminuição de preços se deve mais ao mercado mundial de petróleo. A tendência é que ocorra aumento do preço devido a diminuição da oferta, causando alta no preço dos combustíveis”, afirmou Valença.
Petrobras ainda deve pagar dividendos em 2022 e 2023?
A Petrobras ainda não sinalizou se vai ter algum pagamento de dividendos até o final deste ano. No segundo trimestre de 2022, os dividendos destinados aos acionistas atingiram o valor recorde de R$ 87,8 bilhões.
“Ventila-se a possibilidade de que pode ocorrer, até o final do ano, mais um pagamento, mas não é nada certo e para o ano que vem existe uma estimativa do mercado que a empresa pague algo próximo de 20% em dividendos”, disse Luives.
“A política de dividendos dela vai depender muito de qual vai ser o grau de interferência do governo na companhia. Se vai ser uma Petrobras que constrói refinarias, que vai expandir sua atuação, ou se vai ser uma Petrobras como a de hoje – que foca na exploração do pré-sal. Se ela voltar a fazer investimento capex, por exemplo, esse recurso em caixa que seria direcionado ao pagamento de dividendos pode ser reinvestido em outros negócios”, completou o analista de investimentos da Valor.
Para Siqueira, da Guide Investimentos, a Petrobras tem espaço para pagar dividendos por um bom tempo, mesmo que mude o governo e o novo governo mude presidente e conselho da empresa.
“A Petro já tem um plano de investimentos, uma política de dividendos e os resultados ainda devem ser bons nos próximos dois/três trimestres, então consequentemente dá pra, dentro do plano da Petrobras, seguir com os dividendos por mais alguns trimestres, independente de quem seja o próximo presidente”, disse Siqueira.