Análises sobre a petroleira

Petrobras (PETR4): dados e dividendos desestruturam o mercado

Especialistas repercutiram com o BP Money suas considerações sobre os números da estatal e projeções de desempenho

Foto: Agência Brasil / Fábio Rodrigues-Pozzebom
Foto: Agência Brasil / Fábio Rodrigues-Pozzebom

O resultado trimestral da Petrobras (PETR4) surpreendeu e desestruturou todo o mercado nesta sexta-feira (8). Além disso, os investidores também se decepcionaram com o corte nos dividendos, aprovado pelo Conselho da empresa. Especialistas repercutiram com o BP Money suas considerações sobre os números da estatal e projeções de desempenho. 

Na noite de quinta-feira (7), após o fechamento do Ibovespa, a Petrobras comunicou os números obtidos em diferentes vertentes. O que chamou mais atenção foi o um lucro de R$ 124,6 bilhões no ano de 2023. Quando posto em linha de comparação com 2022, o balanço caiu 33,8%.

No último ano de mandato do então presidente Jair Bolsonaro (PL), a estatal registrou recorde no lucro anual, com R$ 188,3 bilhões. No cenário geral, o preço do petróleo avança, por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Contudo, em 2023, os valores da commodity voltaram à estabilidade. 

Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, analisa os dados, citando, inclusive, a queda de 8,5% no Ebitda – lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização – dentro da mesma base comparativa anterior. 

“Mas apesar desses números, as grandes empresas do setor no mundo, também vem apresentando quedas nessas mesmas linhas de receita, o que credito ao processo de transição energética”, disse. 

Para ele, a questão sobre a distribuição dos dividendos extraordinários é o que atrai mais atenção aos ativos da Petrobras.

Esperava-se que fossem distribuídos R$ 90 bilhões em dividendos pela petroleira, porém, nos planos atuais está previsto o total de R$ 72,4 bilhões.

“Na minha opinião, a questão dos dividendos extraordinários acende a luz vermelha para os investidores. Eles devem colocar no preço das ações da estatal de que não haverá mais isso daqui pra frente”, concluiu Fernandes. 

Respingos da Petrobras (PETR4) no Ibovespa

Pelo peso que representa para o principal índice do mercado acionário brasileiro, a queda nas ações PETR3 e PETR4, que lideraram as perdas do último fechamento, atingiram outros papéis do Ibovespa.

No setor petrolífero, a 3R Petroleum (RRRP3) e a Prio (PRIO3) levaram ganhos, decorrentes da visão sobre a Petrobras. Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed, avalia que a rotação ocorre pela troca dos investidores por papéis do setor que ainda ancoram os riscos em cima do petróleo. 

“Não acho que o balanço da Petro e anuncio referente aos dividendos afeta o risco do país. Eu vejo que o risco do país tem muito mais a ver com a agenda fiscal e as contas públicas, a questão da dívida pública também”, observou. 

Ele diz que, no curto prazo, pela contaminação negativa da Petrobras sobre o Ibovespa, o temor faz todo o mercado cair. 

“Mas no médio prazo, olhando um horizonte um pouco maior, o que influencia de fato na performance das ações vai ser o resultado das empresas, majoritariamente. E também a curva de juros, outro ponto que eu colocaria aqui, principalmente falando de small caps”, finalizou. 

Planos da estatal 

O Conselho Administrativo da companhia realizou uma teleconferência na sexta-feira, para tratar com analistas sobre seu reporte de resultados e os próximos passos. 

Nesse quesito, Mônica Araújo, estrategista de renda variável da InvestSmart XP, comentou sobre a destinação dos recursos excedentes, que conforme entendimento após a reunião, deve ir para o pagamento de dividendos, JCP e recompra de ações

Na discussão, a diretoria propôs destinar 50% desses recursos para o pagamento dos dividendos extraordinários, enquanto guardava os demais 50% para composição de reserva de capital. Todavia, o conselho deu preferência à destinação de 100% dos recursos excedentes. 

“O conselho de administração ficou preocupado com que esse volume de investimento elevasse muito o nível de endividamento. Existe um teto para esse endividamento, e ele consta no programa de investimento”, afirmou. 

Sobre o programa estratégico, Araújo explica que há uma revisão anual, e por já ter se aproximado do endividamento máximo, o conselho da Petrobras achou mais prudente reter os recursos.

Segundo ela, isso foi feito para que não houvesse “um não pagamento de dividendos ao longo desses dois anos, cujos investimentos serão mais significativos”. 

“Pareceu que eles [Conselho da Petrobras] estavam um pouco mais preocupados em não frear investimentos nos próximos dois anos e tiveram uma cautela um pouco maior com relação ao nível de endividamento”, completou.