Nas últimas semanas, as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) sofreram um forte impacto na bolsa de valores de São Paulo (B3), puxando a queda do Ibovespa na última sexta-feira (23). A alta do dólar e a queda do preço do barril de petróleo tiveram efeito negativo sobre os papéis da companhia. Além disso, a proximidade do primeiro turno das eleições e falas dos candidatos também deixaram o mercado em alerta em relação à estatal. Analistas do mercado, consultados pelo BP Money, ficaram divididos frente aos riscos pós-eleições que a petroleira pode apresentar.
Faltando menos de uma semana para o primeiro turno das eleições 2022, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) citou que a privatização da Petrobras é uma “estupidez”. A fala foi dita no último domingo (25), durante um evento de campanha no Rio de Janeiro. “Vamos parar com essa estupidez de querer privatizar a Petrobras”, disse Lula.
De acordo com Paulo Luives, da Valor Investimentos, o risco que existe na Petrobras é o de uma possível interferência de um novo governo na companhia, no sentido contrário às melhorias políticas que foram implementadas na estatal nos últimos anos.
“Começou com a lei das estatais, em 2016, que limita o poder do Governo Federal de interferir na companhia, na sua política de preços e no número de membros do governo no conselho de administração”, disse Luives.
“Nos últimos anos, a Petrobras fez desinvestimentos em áreas que não eram o core da operação, que era exploração do pré-sal, então toda política que o mercado entende que um ou outro governo que ganhar pode interferir, isso atinge negativamente a Petro. Esse é o grande risco”, complementou o assessor de investimentos da Valor.
O sócio fundador da Nord Research, Bruce Barbosa, reforçou o pensamento de Luives e disse que as ações da Petrobras estão sendo impactadas pelas eleições, com o mercado cauteloso em relação aos riscos que um novo governo possa apresentar à empresa.
“As ações já estão negociando a um preço lucro muito baixo. O mercado está precificando alguma ingerência política, tanto no preço do combustível, como de alguma outra coisa. A gente sabe como foi o governo Bolsonaro e qual seria o nível de gerência que eles tentariam dar na empresa, mas pode ser que no governo Lula – mesmo com a lei das estatais muito mais restritivas – pode ser que tenha alguma piora na empresa, então, sim, as ações já estão precificando isso”, explicou Bruce.
Tanto Bruce Barbosa quanto Paulo Luives separaram os riscos da empresa em dois pontos: risco de mercado e o risco político. O risco de mercado da companhia estaria ligado a queda no preço do petróleo e a alta do dólar, puxada pelo aumento de juros nos EUA. O segundo risco, que divide o mercado, seria o das eleições, que deixa o mercado receoso em relação a uma interferência na política de preços da petroleira estatal e também na estrutura interna da empresa.
“Risco das eleições” já está precificado na Petrobras?
A Petrobras se tornou a maior pagadora de dividendos da bolsa de valores em 2022, após reportar lucros recordes. Mesmo com o petróleo caindo lá fora, desde meados de junho, as ações da petroleira não perderam força.
Após registrar um lucro de R$ 54,3 bilhões no segundo trimestre deste ano, a petroleira pagou aos seus acionistas quase R$ 88 bilhões em dividendos, ou R$ 6,732003 por ação.
Para Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, o principal vetor para a petroleira, atualmente, é a cotação do preço do petróleo. Segundo Crespi, o risco político já está bem precificado.
“Não vejo o mercado enxergando com tanta diferença o rumo relacionado à Petrobras, seja com Bolsonaro ou Lula vencendo. A gente tem visto uma queda bastante expressiva do preço do combustível para o consumidor final, seja para gasolina, bem como etanol e diesel, portanto, acho que esse peso político, o risco de interferência maior acabou sendo dissipado”, afirmou Crespi.
“De qualquer forma, com o petróleo caindo, a receita da Petrobras deve acompanhar essa queda, mas acho que no patamar atual deve garantir no médio prazo uma capacidade de pagamento de dividendo ainda acima da Selic”, completou o analista da Guide.
Segundo Marcelo Ornelas, gestor de renda variável da Kínitro Capital, as eleições impactam a Petrobras, porque existem, no cenário atual, dois candidatos que estão focados em investir em green energy e mudar a política de preços da petroleira (Ciro Gomes e Lula). Isso, porém, vai aumentar muito o capex e, naturalmente, diminuir os dividendos distribuídos.
“Independente do resultado da eleição, a Petrobras já está com um valuation bastante justo, principalmente quando você compara com empresas de fora. Quando você olha para uma Shell, a Petrobras está em um nível de valuation bem similar e até para as juniors privadas do Brasil, o que não faz sentido, já que uma estatal deveria operar com algum desconto, como sempre operou”, disse Ornelas.
“Depois dessa valorização toda, me parece muito justo o valuation da Petrobras. Independente da eleição, ela está bem precificada”, complementou Ornelas.
O economista e aluno da Eu Me Banco Gabriel Valença, também afirmou que o cenário pré-eleição está bem estabelecido no mercado, uma vez que está encaminhado para dois candidatos.
“Creio que a preocupação com os papéis da Petrobras deva se voltar para o período pós-eleição, ou seja, quais serão as medidas que o próximo governo irá tomar com relação à estatal. A expectativa para esse ano é de que a Petrobras continue sendo uma boa pagadora de dividendos. Ela vem tendo lucros recordes, com dividendos atrativos para os investidores”, disse Valença.
“O mercado entende que o resultado das eleições ficará entre os dois candidatos que lideram as pesquisas de intenção de votos. E é o caminho que o candidato eleito seguir com relação à Petrobras que poderá, lá na frente, afetar o cenário. Por enquanto, eu não acredito que os papéis possam ser tão prejudicados devido a proximidade das eleições”, concluiu Valença.