Na Petrobras (PETR4), momento é de desconfiança; entenda

Segundo especialistas, sinalização de que o novo governo não deve mexer na política de preços no curto prazo não é o suficiente para acreditar nas ações

Na última semana, a Petrobras (PETR3;PETR4) realizou uma apresentação sobre a política de preços para a equipe de transição do governo. Para analistas, apesar de a estatal afirmar que não irá mexer nos preços dos combustíveis, os agentes do mercado acreditam que o novo governo Lula irá, sim, interferir na companhia. Não à toa, os papéis da petroleira despencam cerca de 10% nesta quarta-feira (14). 

Para Rodrigo Glatt, sócio da GTI, a equipe de transição só teria concordado com os pontos da reunião porque, atualmente, não existe defasagem nos preços. 

“As consultorias estão falando que o Brasil está praticando prêmio sobre os preços de combustíveis, então, na verdade, teria uma opção para diminuir os preços. Estão falando hoje porque a situação é confortável, no curto prazo, mas não acho que, eventualmente, o novo governo abandone a retórica de usar a política de combustíveis como instrumento de controle da inflação”, disse Glatt. 

“Acho que é só uma resposta de curto prazo, de que não vão mexer, mas não descarto que será um assunto discutido mais pra frente”, complementou o analista e sócio da GTI.

Segundo informações da “Reuters”, os diretores da Petrobras falaram sobre política de preços, refino e estoques. 

A estatal petroleira conviveu com pressões, mesmo no governo Bolsonaro, principalmente neste ano, com o aumento desenfreado dos combustíveis. Bolsonaro chegou a culpar a PPI (Política de Paridade Internacional) pelos altos preços na bomba, mas no final defendeu a política de preços da petroleira.

Mesmo sendo acionista majoritário da estatal, o governo não pode determinar qual a política de preços a Petrobras deve seguir. A União pode, entretanto, eleger a maioria dos membros do Conselho de Administração da estatal, que votam questões estratégicas da empresa. 

De acordo com Paulo Albuquerque, analista de investimentos e sócio da Quantzed, o mercado sempre terá receio de intervenção do governo com relação à Petrobras. Albuquerque relembrou alterações que aconteceram na petroleira durante o governo Bolsonaro. 

“Mesmo no atual governo Bolsonaro, que é dito liberal, quantas trocas de presidente da empresa aconteceram? Várias. Isso porque o atual governo, repito, se dizia liberal, e tinha um comportamento mais alheio à opinião pública. Agora imagina o que pode acontecer em um governo mais sensível à opinião pública. Então o receio de intervenção sempre vai existir”, disse Albuquerque. 

De acordo com Albuquerque, o mercado não vai voltar “convicto” a apostar na Petrobras tão cedo.

“Se existir uma sinalização oficial de que será mantida a atual política de preços e de que a empresa estará blindada de interferência política, pode ser que o mercado melhore o humor com a empresa, mas vai demorar muito até embarcarem de vez”, disse o analista da Quantzed. 

O especialista destacou que o governo terá que fazer mais do que uma simples sinalização. “Não basta sinalizar, mesmo que oficialmente. Tem de assumir o governo e manter a palavra”, destacou Albuquerque. 

Sinalização do novo governo pode gerar repique nas ações da Petrobras

Para Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Research, com uma sinalização oficial do governo, pode existir um repique das ações da Petrobras na bolsa de valores de São Paulo (B3).

“Eu não recomendaria a compra das ações porque não acho que esse repique vai ser duradouro. No próprio governo atual, Bolsonaro fez muitas mudanças positivas na Petrobras e com a pressão, por causa de guerra e commodities em alta, precisou interferir, precisou fazer mudanças de dentro da grande gerência da Petrobras, o que deixou o mercado receoso”, afirmou Lopes. 

Lopes alertou para o tempo que o governo eleito ainda tem à frente do País, o que dificulta ainda mais a previsibilidade sobre Petrobras. “Temos quatro anos pela frente de um governo que desde já tem mudado bastante as suas propostas e pautas, vide a PEC da Transição, então não passa uma sensação de tranquilidade”, destacou Lopes. 

O especialista Fabricio Gonçalvez, CEO da Box asset management, destaca que, momentaneamente, o fato da equipe de transição não citar a possibilidade de mudanças nas estratégias da estatal agrada os investidores. 

“Caso se concretize, os investidores poderão olhar a companhia com outros olhos, já que ela vem demonstrando balanços sólidos, apresentando lucros recorrentes e uma dívida estável, sem contar os seus dividendos que atraíram bastante investidores, entretanto ainda não tira toda a incerteza durante esses quatros anos deste novo mandato. Toda cautela é importante neste cenário”, disse Gonçalvez. 

As ações preferenciais da Petrobras (PETR4) acumulam queda de 12,31% em 2022. Nos últimos 30 dias, os papéis tiveram queda de 6%. Neste ano, a companhia se destacou pelos dividendos recordes, que também viraram pauta no governo, pagos aos seus acionistas. 

Em documento divulgado na semana passada, a Petrobras anunciou que pretende pagar 21,4% em dividendos a mais do que o previsto no plano anterior (de 2022 a 2026) aos seus acionistas entre 2023 e 2027.

A Petrobras prevê a distribuição de US$ 85 bilhões no período. Apesar de ter sido criticada por membros da equipe de transição, na semana passada, pela política de distribuição de dividendos, o assunto não foi colocado em pauta na reunião entre as partes, realizada na última segunda-feira (5).