Desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Petrobras (PETR3;PETR4) já acumula alta de cerca de 12%. Contudo, especialistas em renda variável ouvidos pelo BP Money explicam que é preciso observar que o papel, na verdade, caiu logo após a eleição de Lula.
Em outubro de 2022, ele chegou a valer R$ 37 e agora está cotado a R$ 26, ou seja, uma queda de 31%. Um dos motivos para essa queda, segundo os especialistas, pode ser devido a intervenções que o presidente deseja realizar. Com isso, eles não recomendam a compra dos papéis da petroleira neste momento e pedem cautela.
“A nossa recomendação atual é neutra, ou seja, pela manutenção dos papéis. Então quem já tem Petrobras, pode mantê-los em carteira. Quem não tem, a gente não indica comprar. E por que eu não indica comprar mesmo o papel estando barato, em termos de valuation, e o preço do petróleo ainda em alta? Simplesmente por relação às incertezas. Não está claro ainda qual vai ser a política de dividendos para esse e para o próximo ano. Se a empresa com toda essa geração de caixa vai retornar esse dinheiro para o acionista. Se ela vai alavancar os seus investimentos”, explicou o analista de ações da casa de análises do TC, Arlindo Souza.
Por outro lado, segundo ele, um dos principais fatores para a recuperação da petroleira desde janeiro é o preço do petróleo, que está ainda em um patamar elevado, devido a problemas de oferta global causados, especialmente, pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
“Isso mantém o preço da commodity elevado. E a Petrobras, nesse ano, fez um reajuste nos combustíveis, na faixa de 7,4% seguindo a Política de Paridade Internacional (PPI). Então se a gente pegar só essa janela temporal (janeiro – fevereiro), a companhia está seguindo seu rumo normalmente. Se não mudar nada, ela vai ter um mais um trimestre bem semelhante aos passados, em termos de lucro e geração de caixa”, disse.
Outro fator para essa recuperação, segundo a economista e operadora de renda variável na WIT Invest, Vanessa Fiorezi Lui, foi a Medida Provisória (MP), assinada por Lula logo após sua posse, que prorroga até 28 de fevereiro a desoneração dos impostos federais PIS (Programa de Integração Social) e Confis (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) sobre a gasolina e o etanol. “A medida trouxe um alívio inicial ao mercado e colaborou para a subida dos papéis”, disse.
Mudança na política de preços e dividendos
Vanessa destaca que outro ponto que preocupa o mercado é o Preço de Paridade de Importação (PPI). O Brasil adota para a Petrobras o PPI desde 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff. Essa política para os combustíveis, de acordo com a economista, se justifica pelo fato do País não ser autossuficiente na produção de derivados do petróleo, o que gera dependência das importações do produto refinado. Contudo, o atual presidente deseja realizar uma mudança.
“No seu discurso eleitoral, Lula disse que mudaria essa política. Mas não temos informações de quando e como seria feita essa alteração. Conforme o discurso, a ideia do governo seria desatrelar o preço dos combustíveis do mercado internacional. A população poderia ser beneficiada com essa medida, pois os preços dos combustíveis tenderiam a cair. Por outro lado, isso traria pontos negativos para a Petrobras, como a redução dos lucros e a diminuição da capacidade de investimentos. Isso desagrada o mercado e poderíamos ter uma queda expressiva no preço dos papéis”, explicou.
Já o CEO da BOX Asset Management, Fabrício Gonçalvez, comenta sobre a política de dividendos. Para ele, baseando-se em experiências passadas, as expectativas não são otimistas para a Petrobras durante a gestão de Lula devido a dois pontos: controle artificial de preços e reversão de processos de desenvolvimento gerando queda do percentual do lucro distribuído aos acionistas.
“Estes dois pontos são os que mais preocupam os acionistas. A perspectiva se reflete no preço, pois o mesmo encontra-se abaixo de duas vezes, comparado ao lucro dos últimos 12 meses. Além disso, muitos bancos e corretoras rebaixaram a compra do papel. São eles: BTG Pactual, Itaú BBA e Bradesco BBI. Não param por aí, bancos internacionais, como JP Morgan, e Goldman Sachs, reforçam esta cautela”, comentou.
Mercado não quer interferência
O analista chefe e sócio da Harami Research, Fábio Sobreira, concorda sobre os dividendos serem uma preocupação. Segundo ele, o mercado não quer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tire os dividendos e que interfira o menos possível.
“O mercado financeiro espera do Lula o que esperava do Bolsonaro e o que vai esperar de todo o presidente, que ele se meta o mínimo possível nas empresas, mesmo em empresas estatais. Que ele deixe as coisas fluírem naturalmente, que ele não tire os dividendos da Petrobras que hoje estão perto de 100% e se a empresa continuar sendo muito lucrativa, o mercado quer que ele distribua mais dividendos, em vez de usar esses dividendos para comprar refinarias e comprar coisas que teoricamente a Petrobras não devesse estar comprando, que vieram se mostrando ruim essas compras ao longo dos anos”, disse.
Para ele, por serem empresas que possuem acionistas, o mercado sempre espera que o governo tenha a intenção de maximizar os lucros. Contudo, é importante que o investidor entenda que ainda são estatais, e que “não é praxe do governo ser tão neutro em empresas estatais”. Por conta dessa interferência, segundo Sobreira, o mercado “pune e vem punindo a Petrobras”.