O resultado da balança comercial brasileira, divulgado na semana passada, mostrou que o petróleo se tornou a commodity mais exportada do País. Para especialistas, isso fortalece o Brasil como um novo player mundial do setor e puxa mais investimentos externos.
Conforme dados disponibilizados pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, de janeiro a novembro o petróleo desbancou a soja de forma inédita na série histórica e se tornou o principal produto da exportação brasileira.
No período de 11 meses, o embarque da commodity somou o valor de US$ 42,76 bilhões, o que representa um avanço de 9,5% contra o mesmo período do ano passado.
Na visão de Bruno Carlos de Souza, CEO da Souzamaas, quando se trata especialmente do petróleo cru de alta qualidade, esses dados consolidam o Brasil como um importante player global.
“Isso atrai investimentos internacionais e posiciona o país como um fornecedor estratégico, especialmente para regiões como Ásia e Europa. Além disso, a diversificação de mercados compradores aumenta a resiliência econômica diante de oscilações no mercado global”, disse o executivo em resposta ao BP Money.
No entanto, o analista da Levante Inside Corp, João Abdouni, tem uma avaliação mais reticente, e mesmo projetando a liderança interna do petróleo no setor em 2025, ele ressaltou que o Brasil representa apenas 3% dessa produção global, que é encabeçado pelos EUA, Arábia Saudita e Rússia.
Mas quem tem razões para manter o ânimo nesse ambiente é a Petrobras (PETR4)tagcujos ganhos podem ter mais impulso com a demanda exportadora e também considerando os preços internacionais da commodity em alta.
“A empresa tem ampliado a eficiência na extração e no refino, o que reduz custos e aumenta a margem de lucro. Além disso, o fortalecimento do dólar em relação ao real também beneficia a receita em moeda nacional”, citou Souza.
Porém, na contramão, o CEO da Souzamaas explicou que os resultados no médio prazo podem sentir o reflexo das altas taxas de juros do País e em outros mercados consumidores, o que impacta o fluxo de recursos financeiros e a dinâmica de crescimento econômico.
Alinhado à análise, Abdouni afirmou ser importante para a estatal manter a estratégia de exportar mais e comprar menos, como foi durante a gestão governamental de Dilma Rousseff (PT).
Outro tema que toca a Petrobras e o mercado de petróleo internacional é a agenda de transição energética, principalmente considerando que o Brasil é visto como um líder mundial nessa empreitada.
Nesse tópico, a estatal tem se empenhado em novos projetos com energia limpa e biocombustíveis, como o etanol, conforme indicado em seu Plano de Negócios para 2025 – 2029.
“A tendência é que a Petrobras e outras empresas do setor invistam em tecnologias para reduzir as emissões na cadeia de petróleo, enquanto ampliam sua presença em energias mais limpas”, salientou Souza.
Com petróleo avançando, como ficam as commodities agrícolas?
A liderança das exportações brasileiras estavam sob a asa da soja, que ficou no topo do ranking em 2023. Porém, este ano a commodity ocupou o 2º lugar da balança comercial, com soma de US$ 42,08 bilhões, uma queda de 17,9% na comparação anual. Olhando para o agronegócio, os números mostram o resultado de um ano de dificuldades.
O ano começou com uma seca mais forte em algumas regiões brasileira, em decorrência do El Niño, e uma enchente sem precedentes que atingiu o Rio Grande do Sul entre abril e maio, que afetou algumas cadeias de produção do País.
Esses efeitos das mudanças climáticas foram os maiores desafios do agro, impactando, inclusive, a participação do PIB (Produto Interno Bruto), explicou o delegado do Corecon-SP, Carlos Eduardo de Freitas Vian.
“[O cenário] deixou uma série de pontos de interrogação e de dúvidas com relação ao que será o desempenho do agronegócio no ano que vem. Podemos esperar de novo um ano cheio de desafios”, disse Vian. O especialista apontou que o setor já tem uma visão mais precisa para algumas cadeias agrícolas em 2025.
“Na cana de açúcar, por exemplo, ocorreram perdas com as queimadas e com a seca, elas vão afetar a safra seguinte. Existe uma expectativa de safra menor e a possibilidade de aumento de preços dos produtos dos derivados”, afirmou o especialista.
Para as culturas anuais, como os grãos de soja e milho, que são renovadas ano a ano, existe a expectativa de uma situação melhor dependendo do clima.