PIB chinês gera oportunidade em Alibaba e Baidu?

BDRs das gigantes de tecnologia acumulam queda de mais de 30% em 2022

Após ser adiada por uma semana, a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) da China foi feita nesta segunda-feira (24). A segunda maior economia do mundo, que tem sofrido com o cenário macroeconômico global, reportou um crescimento de 3,9% no terceiro trimestre – número acima das projeções do mercado. Mesmo assim, a economia chinesa segue com perspectivas de encerrar o ano abaixo da meta do governo, que é de 5,5%.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB da China em 2022 deve crescer somente 3,2% frente ao crescimento de 8,1% no ano passado. Com isso, as ações de grandes companhias (de setores de risco) da China, como Alibaba (BABA34) e Baidu (BIDU34), estão em queda neste ano e, segundo especialistas, apesar de estarem com preços atrativos, as companhias possuem riscos que devem ser considerados pelos investidores. 

Guilherme Zanin, analista da Avenue, explicou que o mercado chinês era, até pouco tempo atrás, considerado o grande vetor de crescimento das últimas décadas, mas acabou sendo bastante afetado pelos últimos acontecimentos globais, principalmente por causa das restrições com relação ao covid – que ainda impacta a economia, mesmo com a política de lockdown mais amena. 

“Algumas empresas apresentam uma performance positiva substancial, mas as maiores empresas ainda estão no negativo. A própria Alibaba, que é hoje considerado uma das maiores empresas chinesas listadas internacionalmente, está abaixo do seu preço de IPO, que foi executado há mais de 5 anos. A empresa mais do que triplicou a sua receita desde aquele período, mas as suas ações não acompanharam o crescimento tanto de receita como de lucro”, disse Zanin.

O analista destacou que entende que existe, sim, um potencial em ações como Alibaba e Baidu, porém também há um risco iminente.

“Assim como o Brasil é um mercado emergente, e tem riscos de intervenções políticas, a gente sabe que na China também tem riscos elevados de intervenção do governo chinês e esses riscos estão exacerbados pelo mercado, exatamente porque o governo tentou regulamentar o setor de tecnologia, que é um dos setores que mais cresce e que apresentava maior potencial, e as empresas desses setores acabaram sofrendo”, afirmou Zanin. 

“Os valuations de empresas de tecnologia da China estão mais atrativos, contudo entendemos que é um risco de um mercado emergente, então, assim como investir no Brasil, investir na China é considerado, no mercado internacional, extremamente arriscado”, reiterou o analista da Avenue.

A política de “covid zero” na China ainda está em curso e tem afetado, diretamente, a economia do país. Ainda existem cidades em lockdown e a população chinesa teme novos fechamentos, devido ao anúncio da nova subvariante “ômicron BF7”, feito na semana passada. 

Além desse fator, a China costuma ter o final do ano mais fraco em termos econômicos, devido aos feriados nacionais prolongados, como explica Zanin.

“Na China, o pessoal trabalha seis dias por semana, acima de 10/12 horas, então é uma jornada pesada. Exatamente por isso, o calendário deles também é diferente do calendário cristão, e eles têm períodos mais prolongados de férias. São três grandes feriados. Foi um na semana passada e mais um deve acontecer agora no final do ano”, pontuou o analista da Avenue.

“Esse último trimestre geralmente tende a ser mais negativo, porque as empresas produzem um pouco menos e, sazonalmente, não é um período tão elevado”, completou.

China também passará por período de eleição

Para Gabriel Maksoud, CEO da DOM Investimentos, a eleição na China deve gerar mais impactos sobre empresas do mercado chinês do que o próprio PIB. 

“Teremos a eleição, que começa dia 16 de outubro, um dia antes do PIB, e dura mais ou menos uma semana, onde o Xi Jinping deve ganhar de novo, e ficar mais cinco anos no poder na China. Isso deve gerar uma certa volatilidade no mercado chinês”, disse Maksoud.

Segundo o CEO da DOM Investimentos, a queda do PIB chinês deve ocorrer, principalmente, porque o setor imobiliário está passando por um momento mais difícil, com a crise de confiança que teve nas empresas incorporadoras. 

“A gente viu que o banco da China está estimulando bem forte a economia para que principalmente o ciclo imobiliário retome com força lá, apesar das dificuldades que existem. Eles estão estimulando, abaixando o juro, tentando fazer retomar a confiança das pessoas. Quando isso acontecer, acredito que, passando a eleição, com o governo anunciando novas medidas para a economia do país, pode ser que o mercado chinês retome uma nova tendência, mas precisamos aguardar”, disse Maksoud.

Em relação às grandes companhias de tecnologia, que possuem BDRs listados na B3, Baidu e Alibaba, o especialista afirmou que, se o mercado inteiro responder bem ao novo novo governo, com mais um mandato do partido comunista, essas empresas devem se valorizar. 

“O ponto negativo dessas empresas é que elas ficam na bolsa fora da China e muitas vezes ocorrem essas intervenções em cima delas, e aí o mercado acaba prejudicando elas porque quando o governo começa a interferir em empresas privadas é horrível para o mercado. Quando tem interferência, você não consegue precificar muito bem o valor da empresa, né? Então tem isso, mas acho que o cenário macro talvez mais importante do que o PIB é o passar da eleição, e aí teremos que aguardar os novos passos do Xi Jinping com o Governo dele para saber o que ele vai fazer”, disse Maksoud.

Baidu e Alibaba para o longo prazo? 

Com a subida de juros e da inflação, empresas de tecnologia e varejo foram algumas das que mais foram afetadas no mercado. Para o curto prazo, os especialistas consultados pelo BP Money não acreditam em um bom retorno de gigantes chinesas de tecnologia, mas o longo prazo já agrada mais, como explica Maykon de Oliveira, especialista em investimento CEA e professor da Eu me banco, 

“São papéis arriscados, mais voláteis, mas estão sim em um bom momento de compra. O mercado chinês tem que ser visto como um mercado de longo prazo porque a China é um país sobre o qual nem sempre dão notícias corretas, ou passam informações pela metade, a gente não sabe realmente o que acontece por lá. É um mercado potencial, um dos maiores do mundo, mas o investidor precisa estar atento ao fato de ser um investimento a longo prazo”, disse Oliveira. 

Em complemento a fala de Oliveira, Rafael Pastorello, analista de investimentos CNPI-T e aluno da Eu me banco, destaca que a própria Baidu teve a margem reduzida no segundo trimestre na ordem de 5,4%, e as ações neste ano já estão com uma queda de cerca de 32%. Segundo o especialista, isso mostra que a tendência, com essa nova projeção de PIB para baixo, não é melhorar. 

“Não é só o PIB chinês que está sendo revisado para baixo, acredito que todas as projeções do PIB estejam nessa posição, exceto o do Brasil – uma rara exceção. Essa é a dinâmica observada agora e que afetará a margem das empresas no curto e médio prazo”, disse Pastorello.

“Com relação a Alibaba, as ações sofreram bastante desde o começo do ano, caíram na ordem de 42%. A receita também teve uma retração no segundo trimestre. É um conjunto de fatores que somados à redução da projeção do PIB chinês afetarão a empresa no curto prazo”, completou o especialista. 

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