A Positivo (POSI3), maior fabricante de eletroeletrônicos do Brasil, pode colher resultados positivos no balanço do primeiro trimestre de 2023, previsto para sair nesta quarta-feira (10) após o fechamento do pregão. Isso porque, segundo especialistas ouvidos pelo BP Money, apesar da empresa estar no mesmo mar das varejistas, os barcos são diferentes, visto que ela mudou sua estratégia e aposta em vendas para empresas.
“A Positivo de hoje é bem diferente da Positivo de anos atrás. Hoje a empresa está em um processo de desalavancagem, que mesmo de forma tímida vem caindo ao longo dos últimos trimestres. Outro detalhe é que a empresa deixou de focar tanto no consumidor pessoa física, e está focada em gerar receita no segmento de empresas, conhecido como commercial”, explicou o head de renda variável e sócio da A7 Capital, André Fernandes.
Contudo, a Positivo não consegue fugir totalmente dos reflexos da inadimplência, com a taxa Selic (taxa básica de juros) afetando o poder de compra da população, principalmente na classe de baixa renda, que é o público-alvo de seu segmento para pessoas físicas. Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o Banco Central (BC) decidiu pela manutenção da taxa a 13,75%, o que é considerada alta para os especialistas.
“Parte da receita da Positivo depende do consumidor de baixa renda e da classe média, e essa população está com a renda “amassada” pela inflação, alto endividamento, e crédito escasso, o que tira poder de compra do potencial mercado comprador da Positivo, então ela continuará com a maré um pouco mais baixa assim como as demais varejistas, e isso deve se acentuar enquanto a Selic continuar no patamar elevado”, disse o sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, Idean Alves.
“Uma queda na Selic acaba ajudando muitos setores, afinal, as pessoas consomem mais, as empresas investem mais, muito por conta da queda no custo de crédito, então sim, a Positivo é uma das beneficiadas com uma queda da Selic, mas de uma maneira diferente de outras varejistas como Magazine Luiza, Mercado Livre e varejistas de vestuário, que são mais focadas no consumidor pessoa física”, completou Fernandes.
Expectativas do balanço do 1T23 da Positivo
Para Alves, o balanço do 1T23 pode ter uma ressaca do final de ano, que foi muito bom para o setor, graças às festas de final de ano, Natal e 13º salário, o que leva a confiança do consumidor a ficar em positiva. Mas, em sua visão, essa maré alta passou e o que resta para o primeiro trimestre são as dívidas dessas compras que podem afetar o resultado das varejistas, além da retração do crédito, que deve continuar impactando os números.
Já na visão de Fernandes, a estratégia de redirecionar as forças para o segmento de ‘commercial’, focado em empresas, irá trazer mais participação na receita da Positivo, principalmente com o setor de Servers and Solutions, e já será percebida neste primeiro balanço de 2023.
“As vendas corporativas desse setor dentro da Positivo vem crescendo de maneira acelerada. Além disso, o ticket médio e recorrência na receita é maior nesse segmento, e esperamos ver uma queda na participação na receita em relação ao segmento de ‘consumer’, que é o segmento voltado para o consumidor pessoa física, via venda de computadores, tablets, celulares e acessórios, demonstrando assim a mudança de foco da empresa, em buscar uma receita que pode trazer uma rentabilidade maior e melhor para a empresa como um todo”, enfatizou.
Alves ainda completa: “A Positivo tenta fazer o ‘feijão com arroz’ bem feito, se dedicando ao varejo, mas com o olhar para o futuro, sempre vendo quais marcas pode agregar, e setores pode atuar, fazendo dela quase que uma máquina chinesa de produtos, pois a capilaridade que a empresa detém, ajuda ela a não ficar dependente de um único mercado, mas também pode ser um armadilha, já que a produção e o estoque demanda capital intensivo”.
Como o especialista explica, a Positivo tem uma boa penetração tanto no setor de varejo para pessoas físicas, nas classes B e C, quanto nos setores corporativo e público, ela possui uma vasta gama de produtos que vão de hardwares em PCs, notebooks e desktops a telefones celulares.
“Ela atua em todos os segmentos de consumo: Positivo para o segmento de mais baixa renda, Compaq para segmento intermediário, e Vaio para o público de alta renda. Destaque também para a iniciativa de Venture Capital, que detém participação na Hilab, e que pode ser um gatilho de geração de valor no longo prazo”, disse.
Positivo irá deixar o Ibovespa?
Segundo projeções do Itaú BBA em um relatório divulgado em 18 de novembro, as ações da Positivo (POSI3) corriam o risco de ficar fora do Ibovespa no ano de 2023. Os papéis da empresa de varejo no setor de tecnologia estão há um ano e meio fazendo parte da composição do principal índice acionário da Bolsa de Valores brasileira.
A XP (XPBR31) compartilha da mesma opinião e espera que a Positivo seja excluída do Ibovespa no próximo rebalanceamento. Segundo a casa, a Positivo é um candidato com alta probabilidade de sair da composição, “já que o Índice de Negociabilidade (IN) da ação superou o limite de 90% por uma margem ampla em nossas simulações”, apontaram os analistas da XP.
“Esse cenário ainda não pode ser descartado, mas a priori ela deve continuar no Índice, até em função da melhoria recente no apetite pelo papel”, explicou Alves.
Fernandes também concorda que a previsão ainda pode acontecer, mas “não impacta negativamente a empresa”. Segundo ele, essas mudanças no Ibovespa acontecem de 4 em 4 meses, e é normal outras empresas ganharem valor de mercado, aumentar a participação no volume total do Ibovespa, mas isso não caracteriza que a empresa está em um momento ruim por ter saído do Ibovespa, ou em um ótimo momento por ter entrado no índice.