As construtoras e incorporadoras tentam driblar o cenário macro, com a alta da taxa Selic e da inflação, ao mesmo tempo que buscam soluções para diminuírem seus custos. Este último, inclusive, de acordo com os analistas consultados pelo BP Money, é o maior desafio dessas empresas, dado que a pressão nos custos, devido a alta de commodities, tem afetado essas companhias. Por outro lado, segundo especialistas, mesmo com o atual cenário macro, as ações do setor estão “muito baratas”.
“As ações estão muito baratas sim. A maioria das construtoras focadas em alta renda estão negociando a 0,8x o valor patrimonial, o valor de mercado está menor que o patrimônio líquido e acho que faz bastante sentido dado o cenário atual”, disse Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.
Como complemento à fala de Komura, Caio Ventura, analista da Guide Investimentos, cita que os preços das ações dessas empresas devem aumentar, mas não no curto prazo.
“Olhando para a correlação que existe entre juros e setor imobiliário, é esperado sim que haja uma recuperação dos níveis de preço que a gente vê hoje, no médio e longo prazo”, destacou Ventura.
No acumulado dos últimos 12 meses, as principais construtoras brasileiras listadas tiveram quedas expressivas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). A MRV (MRVE3), que tem seu negócio focado em empreendimentos populares, caiu 43,42% no período. A Cyrela (CYRE3) acumula queda de mais de 41%.
Na outra ponta, focada em empreendimentos de alta renda, shoppings e hotéis, a JHSF (JHSF3) é a que teve a menor queda no acumulado dos últimos 12 meses, variando negativamente em 8,27%. Neste ano, inclusive, a empresa apresenta uma alta de pouco mais de 34%.
A alta da JHSF mostra que o segmento de construção, pelo lado das empresas que são focadas em alta renda, tende a apresentar melhora antes das companhias que têm como público alvo a população de baixa e média renda. É o que explica Pedro Galdi, analista da Mirae Asset.
“Temos que separar alta renda de baixa renda. É típico, JHSF3 sobe 32% este ano e as outras, que mesclam alta e baixa renda, estão todas caindo. Isso porque os custos de obras continuam em evolução e quando você vende um imóvel na planta nem sempre consegue repassar essa alta de preços de forma continuada”, explica Galdi.
Em suma, é mais fácil para uma construtora de alta renda repassar os preços para o público de alta renda do que o contrário. Segundo Caio Ventura, da Guide, o setor de construção ainda precisa de uma definição mais clara do Banco Central, em relação aos próximos passos da economia, para voltar a ser considerado um setor competitivo, em termos de retorno e expansão operacional.
“O setor está com balanços redondos e as atividades secundárias de receita dentro das empresas estão muito bem posicionadas para uma eventual retomada. O que falta são sinalizações mais claras quanto a perspectiva e cenário futuro”, afirmou Ventura.
A influência dos juros altos e da inflação na construção civil
Os juros altos e a alta inflação bateram forte nas construtoras, nos últimos meses. Devido à alta de preços de diversos materiais, impulsionado também pela alta internacional das commodities, os custos das incorporadoras com aço, plástico, energia, entre outros, acabou aumentando.
As construtoras e incorporadoras, por sua vez, não conseguiram repassar todo esse aumento para os clientes, o que acabou impactando fortemente seus resultados.
Para Sidney Lima, analista da Top Gain, a Selic foi o que mais impactou essas empresas.
“O setor tem um impacto muito grande em relação à taxa de juros. Este foi o fator que mais influenciou na capacidade de geração de receita das empresas. A maior parte do segmento imobiliário vem de créditos imobiliários. Quando a gente tem o aumento dessa taxa (Selic), as pessoas começam a repensar a tomada de crédito por parte dos bancos, porque começa a ser um pouco mais caro, daí pra frente vai afetando a cadeia produtiva do setor imobiliário”, explicou Lima.
Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos, segue a mesma linha de raciocínio.
“Os juros lá em cima acabam aumentando o custo de financiamento, normalmente está correlacionado com uma inflação mais alta e isso reduz o poder de compra das famílias. E essa questão de poder de compra faz diferença, principalmente para segmento de renda mais baixa, enquanto essa ideia de custo mais alto impacta mais o de alta renda”, afirmou Komura.
Os especialistas destacaram que, em um novo cenário, com a inflação caindo e juros também diminuindo de patamar, os investidores devem voltar a olhar para os papéis de empresas deste setor e, com isso, o esperado é que as ações de construtoras tenham uma valorização relevante no médio e longo prazo.