
A indústria de private equity enfrentou um impacto mais severo em 2024 do que durante a crise financeira global de 2008, de acordo com um estudo da consultoria Bain & Co. Pela primeira vez em duas décadas, os ativos sob gestão dos fundos apresentaram uma queda, totalizando US$ 4,7 trilhões, o que representa uma redução de 2% em comparação com o mesmo período de 2023 (junho a junho).
O declínio foi impulsionado pela dificuldade das gestoras de private equity em levantar recursos, já que têm enfrentado desafios significativos para vender ativos e gerar retornos para os investidores.
Como resultado, grandes fundos de pensão e endowments estão perdendo terreno, conforme apontado por Hugh MacArthur, presidente global de private equity da Bain. Ele afirmou ao Financial Times: “Está saindo mais dinheiro da caixa de charutos do que entrando. O ritmo da liquidez retornando aos investidores continua sob pressão”.
Entre junho de 2023 e junho de 2024, a proporção de retorno de capital para os investidores caiu drasticamente, representando apenas metade da média histórica, com apenas 29% do valor sendo devolvido.
Além disso, a relação entre as distribuições da indústria e os ativos líquidos atingiu o nível mais baixo em mais de dez anos, com uma queda para apenas 11%.
Esse cenário é especialmente prejudicial para os fundos de pensão, que dependem dos retornos desses investimentos para cumprir suas obrigações.
Como reflexo dessa situação, os investidores se mostraram mais cautelosos e hesitantes em fazer novos aportes, resultando em uma queda de 23% na captação dos fundos de private equity, que arrecadaram apenas US$ 401 bilhões – o menor volume desde 2020.
No entanto, apesar dos desafios enfrentados, o mercado de fusões e aquisições se recuperou em várias partes do mundo, com os fundos vendendo US$ 468 bilhões em ativos durante o período analisado.
Pressão no setor de private equity deve persistir por anos
Com a falta de novos recursos e a dificuldade de gerar retornos, a situação do setor de private equity se tornou uma verdadeira bola de neve.
Quando a Bain realizou sua análise, as gestoras enfrentavam um estoque de US$ 3 trilhões em negócios antigos e não realizados, ampliando ainda mais os desafios para o setor.
Hugh MacArthur, presidente global de private equity da Bain, prevê que essa pressão continuará nos próximos anos, apesar de um cenário aparentemente mais favorável para 2025. Para sustentar essa visão, ele destaca que, embora os fundos atualmente gerenciem quase o dobro de ativos em comparação com 2019, o volume de vendas anuais permaneceu quase inalterado. “Isso não será resolvido em 2025”, afirmou MacArthur. “É um problema de três ou quatro anos.”
Além dessa dificuldade, o setor também enfrenta mudanças estruturais, como a diminuição da taxa de administração de 2%, que era um padrão da indústria. Isso ocorre devido ao aumento de co-investimentos, em que fundos soberanos e de pensão investem diretamente nos negócios, sem pagar taxas e, assim, reduzindo as receitas do setor.
No Brasil, a situação segue o mesmo padrão. De acordo com um estudo da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), os investimentos dos fundos atingiram R$ 13,3 bilhões em 2024, uma queda de 44,3% em relação ao ano anterior. O número de operações também diminuiu, com 70 negociações realizadas, contra 84 no ano passado. Além disso, os desinvestimentos chegaram a R$ 10,1 bilhões em um período marcado pela volatilidade.