Quais ações investir em 2023?

Para analistas, papéis atrelados à economia real e que sejam menos sensíveis ao crescimento econômico são as melhores opções

O ciclo de alta de juros para conter o processo inflacionário, que se instalou a nível global no ano de 2022, promete fazer com que o próximo ano seja, também, desafiador no cenário macroeconômico. Para analistas consultados pelo BP Money, no entanto, muitas ações e setores podem se beneficiar em 2023.

Para Lucas Dezordi, economista-chefe da TM3 Capital e professor da PUC-PR, todos os setores possuem oportunidades, desde que seja feito um bom processo de escolha das empresas. Por isso, o analista explica que é preferível evitar companhias alavancadas ou que queimem muito capital. Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos, concordou. 

“A recomendação que damos é para que os investidores evitem companhias extremamente alavancadas, pois elas vão ter margens de lucro comprimidas em virtude das suas elevadas despesas financeiras, ou companhias que estejam queimando muito capital e venham a necessitar de novas captações, seja via dívida ou follow-on”, apontou Dezordi. Segundo ele, 2023 é o momento de apostar em empresas robustas, lucrativas e com preços atrativos.

Lucas Grilo, especialista em mercado financeiro e assessor na iHUB Investimentos, explicou que empresas com histórico de crescimento secular, menos sensíveis ao crescimento econômico, e com qualidade a um preço razoável, devem ser as principais escolhas do investidor em 2023.

Também neste sentido, a Warren utiliza uma tese em comum para todas as recomendações para 2023: a economia real, que nada mais é do que atividades relacionadas à produção, circulação e consumo de bens e serviços na sociedade.

Ações no setor de petróleo

A primeira recomendação dos analistas é que a Petrobras (PETR3;PETR4) seja colocada de lado em um primeiro momento. Isso porque o governo eleito, de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda não deixou claro quais serão seus próximos passos para a petroleira. Com isso em mente, para Dezordi, a melhor opção é a 3R Petroleum (RRRP3), já que pode entregar muitos resultados no ano e se consolidar no setor. 

“A 3R surgiu da união entre um fundo de private equity e profissionais de grande experiência do setor de petróleo. Juntos, fizeram a aquisição de ativos maduros da Petrobras, que a estatal já não tinha mais interesse. A companhia irá liderar por meio dessa equipe experiente o (re)desenvolvimento desses ativos e campos, com 2023 sendo um ano chave de consolidação e entrega de resultado”, explicou o analista. 

Já para Gustavo Pazos, analista de ações da Warren, a ação do setor para investir em 2023 é a PetroRio (PRIO3), já que a empresa não é tão dependente da economia brasileira, é bastante globalizada, e é bem protegida a choques inflacionários por se beneficiar dos preços das commodities. 

Lucas Grilo reforçou que a XP também apontou a companhia como uma boa pedida para o próximo ano, e por isso, ele segue a recomendação. “O setor de commodities pode se beneficiar da dinâmica de oferta e demanda no médio prazo, sobretudo o setor de petróleo e gás. Os analistas da XP apontaram, em relatório, um Bull Market para o setor, em decorrência de anos de subinvestimento no segmento”, disse.

Outros papéis atrelados a commodities também podem se destacar

No setor de papel e celulose, a Suzano (SUZB3) é um bom nome na visão da Warren. A tese por trás da escolha é parecida com a PetroRio: além de ser globalizada e, até certo ponto, independente da economia brasileira, é uma empresa que aparece no leque das melhores do País, com custos de produção muito baixos, e como uma excelente alocadora de capital.

Ainda, para carne de boi, outra commodity de destaque no Brasil, a companhia recomendada é a JBS (JBSS3). Para Dezordi, da TM3 Capital, a companhia apresenta receita diversificada em inúmeras regiões econômicas do mundo. “Além disso, por ser a maior empresa do setor de carnes, tem uma receita resiliente mesmo em um possível cenário de desaceleração econômica”, apontou. Segundo o analista, a JBS também está negociando muito abaixo dos múltiplos históricos, o que a torna ainda mais interessante.

Para Cima, da Manchester, os papéis que podem se beneficiar em 2023 são aqueles que se aproveitam do diferencial brasileiro do custo da energia, já que vai continuar relativamente barato. Isso não quer dizer que ações de empresas de energia são uma boa pedida, mas sim que empresas que se aproveitam da energia barata podem se destacar. O analista citou a Gerdau (GGBR4) e outros players agrícolas, como Boa Safra (SOJA3) e Cosan (CSAN3).

Ações do setor bancário

Segundo Lucas Grilo, o setor bancário pode experimentar uma ligeira expansão de sua margem financeira em 2023. Com uma possível queda na taxa de juros, também pode haver uma estabilização dos níveis de inadimplência. Dessa forma, o Itaú (ITUB4) é o top pick do setor.

Para Pazos, da Warren, a melhor escolha seria o Banco ABC Brasil (ABCB4). “Acreditamos que este setor seja muito atrativo, é bem resiliente, mesmo que seja difícil vermos bancos tradicionais multiplicando valores por 2 ou 3x – e não é isso que esperamos do ABC -, apesar da ameaça do BNDES entrar concorrendo pela carteira PJ dos bancos, acreditamos que esse player valha a pena. Ele explora um segmento que é mal atendido no Brasil, que foi deixado de lado pelos ‘bancões’”, apontou o analista. 

Construção vale a pena?

Para Lucas Grilo, o cenário deve ser desafiador para as construtoras de média e alta renda, dado o patamar alto de juros, que afeta, ainda atualmente, de forma dura o setor. 

No entanto, a incorporadora Moura Dubeux (MDNE3) é uma das recomendações de investimento da TM3 Capital para 2023. Segundo Dezordi, economista-chefe da casa, a baixa competição da companhia, que atua no Nordeste, é um dos fatores que apontam a construtora de alto padrão como um player interessante. 

“A companhia tem entregado vendas e lucro crescentes, mesmo em um cenário de aumento de juros. Dada a baixa competição, que não deve aumentar em 2023, o ano que vem deve ser mais um bom ciclo para a companhia”, apontou o analista. 

E o varejo?

Com perspectivas ainda nebulosas para o cenário macroeconômico no Brasil, o setor de varejo, em geral, não é uma boa opção para os analistas em 2023.  

Para Pazos, o varejo discricionário, sobretudo focado nas classes mais baixas da população, não deve ser procurado no próximo ano. “Achamos que ainda não chegou o momento desses players. Não temos perspectiva do brasileiro ganhar poder de compra nos próximos meses, o que impulsionaria a busca”, apontou o analista.

Cima, da Manchester Investimentos, apontou que alguns setores, independente de economia interna, podem sofrer em 2023, como é o caso do varejo. Grilo, da iHub, ainda reforçou um possível descontrole fiscal do governo, que pode gerar risco de alta para inflação, como um dos fatores para evitar o setor.

Mesmo assim, para Dezordi, ações no segmento de alimentos e bebidas podem se destacar em 2023. “Historicamente, é um setor super resiliente, que deve passar sem grandes problemas por uma desaceleração econômica, seja global ou nacional, e com companhias negociando a múltiplos bem abaixo de seu histórico”, finalizou o analista.