Atualmente, o Brasil está vivenciando um ciclo de queda de juros, conforme evidenciado pelas últimas decisões do Copom. No entanto, observamos um aumento nas taxas dos títulos NTN-Bs, que se mantiveram em elevação durante o mês de setembro. Em entrevista ao BP Money, o founder e CEO da Bocaina Capital, Miguel Ferreira, comentou como analisa esse momento e avaliou as oportunidades desse cenário.
“Ciclo de queda de juros gera boas taxas para papéis de infraestrutura“, iniciou Ferreira. O especialista explicou que, no ambiente de juros, inevitavelmente, vivemos uma derivada do mercado internacional, que é o principal driver de preço recentemente.
“Sinais de inflação resiliente por lá, aliado a choques de petróleo e commodities advindos de instabilidades geopolíticas, geram uma expectativa de incremento de juros americanos, que esticaram a curva das treasuries e ao mesmo tempo elevam as curvas locais (dado que para atrair capital a remuneração dos nossos títulos precisa ser maior que a das treasuries)”, afirmou o CEO da Bocaina Capital.
No entanto, ainda que o spot de juros esteja em queda, a curva de juros reais, que tomamos como referência para precificação das debêntures de infraestrutura, apresentou uma abertura relevante em agosto e setembro, explicou Ferreira.
Ferreira marcou participação como palestrante no “Finance Day“, promovido pelo BP Money e a SVN Investimentos, na quinta-feira (19), onde abordou relevantes pautas monetárias .
Em relação aos papéis de infraestrutura, que são precificados a spread over NTNB, embora os preads estejam em queda após a melhora do mercado local de crédito desde maio e junho, o nível alto da curva de juros real tem ajudado a manter taxas nominais interessantes nos papéis, explicou Ferreira.
Desse modo, na visão da Bocaina, os investidores podem aproveitar este momento de forma favorável, uma vez que, procuramos organizar e estruturar transações com spreads diferenciados do mercado. “Em um momento de NTNBs mais altas, nosso spread mais robusto tende a deixar as taxas nominais dos nossos papéis ainda mais interessantes”, disse Ferreira.
Instabilidade geopolítica no cenário de juros
O CEO da Boicaina ressaltou que, as instabilidades geopolíticas não parecem ser passageiras, bem como a dinâmica fiscal do mercado local tem mostrado sinais de dificuldade de atingimento das metas de arrecadação originalmente estabelecidas pelo governo. “Portanto, nos parece que o prêmio da curva de juros pode se manter nos próximos meses”, acrescentou.
“No caso de investimento em debêntures incentivadas e fundos de debêntures incentivadas não-hedgeados, vemos uma possibilidade de montagem de posição em momento favorável, a boas taxas nominais, capturando bom carrego e abrindo espaço para um potencial fechamento de taxas futuro e consequente ganho de capital”, comentou na visão da gestora.
Políticas adotados pelo governo em investimentos de infraestrutura
O governo brasileiro tem adotado políticas de concessões e parcerias público-privadas para fomentar a infraestrutura. Ferreira ressaltou inicialmente que, as parcerias público-privadas, chamadas PPPs, são um formato de concessão especial, que se diferem da concessão “pura”.
Isso porque, na concessão pura, as tarifas cobradas dos usuários são suficientes para perfazer a remuneração do concessionário. Há casos, no entanto, que esta tarifa ou não é suficiente, ou tem uma natureza jurídica que leva a uma arrecadação pelo ente público e não pelo privado, levando assim à necessidade do pagamento de contraprestações públicas, que por sua vez podem trazer o risco de crédito do ente público perfazer os pagamentos.
No ponto de vista da Bocaina, tendo em vista a experiência da gestora nas PPP’s maior chance de sucesso são as que dependem de forma mais relevante de arrecadações não conectadas com o orçamento do ente público (seja estado ou município). “No caso, hoje temos procurado atuar apenas em PPPs de Saneamento e Iluminação pública”, ressaltou Ferreira.