Com os juros mais altos dificultando as perspectivas para a renda variável, as empresas brasileiras estão fazendo recompras de ações ao ritmo mais rápido em quase duas décadas.
Este ano 54 programas de recompras de ações foram anunciados pelas companhias listadas no Ibovespa, quase o dobro do valor visto em cada um dos dois anos anteriores e o maior desde pelo menos 2008, segundo dados compilados pela “Bloomberg”.
A B3 (BASA3), o BTG Pactual (BPAC11), a Cosan (CSAN3) e a Ambev (ABEV3) estão entre as empresas que anunciaram recentemente que estavam adquirindo ações no mercado.
Comparado aos níveis históricos, os papéis das empresas na Bolsa brasileira têm sido negociados com um desconto de cerca de 20%. Enquanto isso, o Ibovespa caiu quase 10% no acumulado do ano, um dos piores desempenhos entre os principais índices acionários globais.
“As empresas podem fazer melhor uso do capital investindo na recompra, ao invés de expansões, que envolvem riscos de execução, financiamento”, diz Tiago Cunha, gestor de ações na ACE Capital, segundo o “Valor”.
Além do cenário com o juros, o investimento também se tornou menos atraente para as empresas, ao passo que a falta de clareza sobre as políticas econômicas do governo, como as mudanças tributárias, preocupam o mercado.
Recompras de ações ‘em aberto’ totalizam R$ 78 bilhões, diz Itaú BBA
Os programas de recompra “em aberto”, que incluem aqueles anunciados em anos anteriores, representam uma soma total de cerca de R$ 78 bilhões, conforme estimativa de dados do Itaú BBA.
“O aumento da quantidade de ‘buybacks’ na bolsa brasileira reflete uma condição de ‘valuation’ atraente dos ativos listados”, diz Daniel Gewehr, chefe de pesquisa de ações do Itaú BBA.
“A falta de visibilidade macroeconômica, com juros altos, tem postergado projetos de investimento mais de longo prazo, o que tem contribuído para esse aumento de recompras e dividendos no curto e médio prazo”, prossegue.
A decisão de recomprar as ações, distribuindo lucros aos acionistas, se deu por “uma distorção” no preço das ações das companhias, disse a B3 em nota.
Uma fonte do governo afirmou, segundo o “Valor”, que a incerteza em torno das mudanças tributárias levou a uma corrida de empresas e investidores para retirar recursos do Brasil.
O câmbio foi afetado pelas saídas e o dólar disparou neste mês, forçando o BC (Banco Central) a intervir com leilões para conter a alta.