O Ibovespa quebrou dois recordes de pontuação na sexta-feira (5): na manhã, o índice estreou nos 143 mil pontos e, apesar de não ter sustentado o patamar até o fechamento, terminou o dia com 142.691,02 pontos (+1,2%), pontuação também recente.
O principal índice acionário brasileiro atingiu 142 mil pontos intradiariamente na semana anterior aos recordes já citados, no dia 28 de agosto. O último recorde de fechamento também não foi há muito tempo: no dia 4 de julho, feriado nos EUA, o índice fechou pela primeira vez com 141.368,93 pontos.
Em entrevista do BP Money, especialistas disseram que as sucessivas quebras de recordes não são fruto do acaso, está associada a uma nova dinâmica dos ativos brasileiros e aos cenários internos e externos.
Mudanças para as commodities e reprecificação do risco
“Diferente do que estamos acostumados, o que está acontecendo agora no Ibovespa tem menos a ver com commodities e mais com uma reprecificação estrutural dos ativos brasileiros”, explicou Tiago Velloso, economista e especialista em investimentos.
A perda de força do dólar estadunidense, muito associada ao tarifaço, e o enfraquecimento das exportações estão pressionando o ciclo de commodities, o que faz com que os setores domésticos – bancos, consumo e construção – sustentem o Ibovespa. Setores esses que, segundo Velloso, “estavam negociando a múltiplos bastante descontados”.
“Historicamente, sempre que a bolsa americana estica demais em valuation, como vimos agora com as big techs puxando o S&P a níveis quase desconectados da economia real, o investidor global busca alternativas de valor. No ano, o fluxo de investidores estrangeiros na bolsa está acima de 20 bi.”
O economista explicou que o fenômeno ocorreu de maneira similar nos anos 2000, pós-bolha da internet, quando a bolsa brasileira e de outros países emergentes recebeu um grande fluxo de entrada estrangeira.
Além disso, o prêmio de risco, no Brasil, segue elevado. “Temos Selic a 15%, IPCA em 5% e, mesmo assim, várias companhias listadas negociam abaixo do valor patrimonial ou a P/L de um dígito. Quando se olha essa fotografia em contraste com os EUA, onde o P/E do S&P já passa de 22x, fica claro por que há fluxo para cá”.
Corte nos juros e dados impactantes
Outros fatores citados pelos economistas entrevistados foram a expectativa de corte nos juros e os dados divulgados nos dias em que os recordes foram batidos.
“No cenário internacional, o principal motor tem sido a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos. O payroll de agosto veio muito abaixo das projeções, com criação de apenas 22 mil vagas, reforçando a percepção de que o Federal Reserve poderá reduzir os juros já em setembro” analisou o economista André Mirsky.
“Esse ambiente de juros mais baixos nos EUA tende a favorecer o fluxo de capital estrangeiro para mercados emergentes, como o Brasil, em busca de retornos mais atrativos.”
No Brasil também existe a expectativa de a Bolsa antecipar movimentos de mercado que estimam o corte de juros nacionais no primeiro trimestre de 2026.
André Mirsky Também destacou o ambiente político e a interpretação de pesquisas eleitorais de maneira positiva.
Um exemplo direto desse aspecto foi o recorde de 142 mil pontos intradiários, batidos no dia 28 de agosto após a divulgação da pesquisa LatAm Pulse, realizada pela AtlasIntel a pedido da Bloomberg News, que apontava que o atual presidente Luíz Inácio Lula da Silva (PT) ficaria atrás de Tarcísio de Freitas (Republicanos), atual governador de São Paulo, em um eventual segundo turno na corrida presidencial.
Pode vir mais por aí
“A conjunção de múltiplos baixos, fluxo estrangeiro e expectativa de queda de juros cria o cenário para o Ibovespa renovar máximas”, afirmou Velloso. Ele e Mirsky apontam que o fenômeno é coerente e pode se prolongar.
André Mirsky também faz o alerta de que a renovação de recordes do Ibovespa está nas mãos de poucos papéis, “o que pode indicar uma alta menos disseminada e, portanto, mais vulnerável a correções”.
Além disso, os especialistas alertam que a continuidade depende muito de que o cenário internacional se mantenha favorável e que, domesticamente, o ambiente seja previsível nas áreas fiscal e política.
“Ainda assim, é preciso cautela: assim como as altas se intensificam rapidamente em momentos de euforia, movimentos de correção também podem acontecer com igual intensidade”, alertou Mirsky.
Velloso concluiu sua fala afirmando que “como sempre, o timing é chave; esperar o corte da Selic acontecer pode ser tarde demais. O investidor sofisticado antecipa, não reage.”