Renúncia de Boris Johnson pode afetar mercado brasileiro de ações?

Especialistas explicam qual será o impacto da saída do premiê britânico na economia global e no mercado acionário brasileiro

A queda do primeiro-ministro britânico Boris Johnson já era esperada pelos mercados globais, segundo especialistas consultados pelo BP Money. Johnson estava envolvido em escândalos e cedeu à pressão do governo, nesta quinta-feira (7). Por isso, o impacto da renúncia de Johnson no mercado brasileiro de ações deve ser nulo.

De acordo com Lucas Sharau, assessor de investimentos na iHUB, os escândalos públicos foram, aos poucos, deteriorando a imagem e autoridade política de Boris Johnson, o que culminou na impossibilidade de sustentação do poder do premiê, uma vez que até mesmo sua própria base aliada não o apoiava mais. 

O movimento ficou ainda mais notório quando o Reino Unido viu mais de 50 políticos entregarem seus postos nos últimos três dias, que antecederam a queda de Johnson, como forma de protesto ao premiê. “Em outras palavras, o que vimos acontecer nesta manhã já era quase que certo e premeditado. Para o nosso Brasil, no momento atual, são poucos os impactos diretos dessa renúncia, principalmente em nossa bolsa de valores”, afirmou Sharau.

Johnson estava sendo pressionado por ter realizado festas na sede do governo durante o lockdown. O estopim de sua saída, entretanto, foi a nomeação de Chris Pincher a um cargo parlamentar – mesmo tendo conhecimento das queixas de assédio contra Pincher. 

Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante, reforça que esta mudança no governo do Reino Unido não tem nenhum efeito sobre os mercados, inclusive o brasileiro. 

“Boris Johnson foi um grande líder e não deve haver nenhuma mudança com sua saída. Muita gente esperava que isso acontecesse. Se a gente tivesse falando de uma economia americana ou chinesa, com uma mudança na política monetária ou fiscal, a gente podia ver algum estresse ou movimento positivo para emergentes, mas não é o caso. Não tem nenhuma mudança em função da renúncia dele”, destacou Bevilacqua.

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Segundo Sharau, da iHUB, apesar da renúncia ao cargo mais importante do Reino Unido ser um fato gerador de incertezas para o mercado, ele é visto como menos ‘imprevisível’ por muitos economistas do que se Boris Johnson se mantivesse no cargo. 

“A turbulência dos fatos e discussões dos últimos meses acerca dos escândalos relacionados ao primeiro-ministro fizeram com que ele perdesse apoio no congresso tanto da oposição como da própria base aliada, fazendo portanto que ficasse ingovernável na situação atual”, disse o especialista.

Em carta enviada ao primeiro-ministro, nesta semana, o chefe do Tesouro do Reino Unido, Nadhim Zahawi, um de seus aliados, chegou a pedir a Boris Johnson que renunciasse “pelo bem do país”. 

A saída de Boris Johnson acontece em um momento em que há diversos fatores de incerteza em relação à economia global.

“Há eventos de grande peso no radar, como a materialização da crescente necessidade do aumento nas taxas de juros (acima do esperado) nos Estados Unidos, a iminente recessão que se mostra próxima da economia americana, além de dados importantes da própria economia brasileira esperados para essa semana, como o Índice de Preços (IPCA) que será publicado nesta sexta-feira”, afirmou Sharau.  

Para Julio Hegedus, da Mirae Asset, os impactos da renúncia de Johnson devem ser sentidos mais no âmbito político do que no econômico.

“Não vejo grandes impactos a nível econômico. Muito mais impactos políticos, pelo enfraquecimento da onda conservadora anterior. Os líderes desta linhagem estão caindo. Importante salientar que diante dos imbróglios domésticos, Johnson vinha tentando transitar mais pela diplomacia, pela geopolítica, focando suas energias na guerra da Ucrânia, contra a Rússia. Era um dos líderes neste alinhamento da OTAN contra a invasão russa na Ucrânia. Lembremos, também, no passado, que foi ele um dos líderes para a consolidação do Brexit”, disse o especialista da Mirae Asset.

Boris Johnson assumiu o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido em julho de 2019, sendo eleito líder do Partido Conservador. Sua chegada aconteceu após a renúncia de Theresa May, que cedeu à pressão política frente à condução da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). A conclusão do Brexit, inclusive, era uma das promessas da gestão de Johnson. O Brexit realmente aconteceu, como prometido, em janeiro de 2020, mas a chegada da pandemia e as seguidas falhas do primeiro-ministro em relação à pandemia desgastaram seu governo.

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