A temporada de resultados do terceiro trimestre ainda não acabou, mas grande parte das empresas listadas na bolsa de valores de São Paulo (B3) – considerando as principais do Índice Bovespa – já divulgaram seus resultados. Entre os principais setores, os três que mais se destacaram no trimestre foram o de construção civil, petróleo e o de shoppings, de acordo com especialistas consultados pelo BP Money.
Para Carlos Daltozo, head de research da Eleven Financial, em linhas gerais, o terceiro trimestre teve uma dinâmica semelhante ao segundo trimestre, mas com resultados um pouco mais fracos.
“As empresas mostraram boa evolução da sua receita, mas com Ebit [geração de caixa operacional] pressionada por maiores custos por conta do aumento da inflação e o lucro líquido também pressionado, além dos maiores custos, por uma despesa financeira maior, dado que a Selic tem impactado significativamente as companhias, principalmente as mais endividadas”, disse Daltozo.
Entre os setores que se destacaram, na visão de Daltozo, a temporada foi boa para construção civil e bancos.
“Setor de bancos, por exemplo, foi um destaque quando comparado com o mesmo período do ano anterior, apesar de que a tendência de inadimplência continua em alta e machucando os resultados, aumentando o nível de provisionamento, mas destaque também para o setor de construção civil, que mostrou uma boa dinâmica de velocidade de vendas sobre oferta, vendas de estoque também e um ritmo de lançamentos ainda forte mesmo com os juros elevados, então o setor de construção civil mostrou uma dinâmica bem positiva na nossa visão”, destacou Daltozo.
O assessor da Valor Investimentos, Paulo Luives, também cita o setor de construção como um destaque do terceiro trimestre e afirma que o setor de shoppings também demonstrou uma boa recuperação frente ao ano anterior.
“Acho que os dois principais destaques foram os setores de shoppings e construção, demonstrando a recuperação do pós-pandemia, especialmente os shoppings que foram os mais afetados”, disse Luives.
Multiplan, brMalls, Iguatemi e Aliansce Sonae apresentaram resultados consideravelmente melhores do que os registrados no mesmo período do ano passado.
Por outro lado, setores mais sensíveis à inflação, como o varejo mais voltado ao consumo discricionário (Americanas, Via e Magazine Luiza) sofreram bastante devido à pressão inflacionária.
“Resumindo, os modelos de negócios que são menos sensíveis às pressões inflacionárias com margens mais elevadas e uma diversificação das fontes de receita, seja aqui ou fora, no exterior, conseguiram se sair melhor nesse ambiente desafiador”, afirmou Luives.
O analista chefe da VG Research, Luan Alves, destaca que os setores de papel, celulose e petróleo e gás também apresentaram bons números entre julho e setembro de 2022 frente ao mesmo período de 2021.
“Acreditamos que as empresas de papel e celulose, assim como petróleo, vão continuar a reportar um bom balanço no último trimestre do ano. A celulose na China segue próxima ao auge do ciclo e o petróleo também tem se valorizado no último mês. Outro ponto é que essas companhias vendem para o mercado internacional e o dólar forte no último mês vai beneficiar essas companhias”, disse Luan Alves.
O sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, Idean Alves, também afirma que os setores beneficiados pelo dólar e pelo preço em alta das commodities tiveram resultados fortes no terceiro trimestre de 2022.
“Esses setores foram beneficiados pela valorização dos seus produtos no mercado internacional, o que aumenta a receita e, com a melhora de margem das empresas, melhora os resultados também. Destaque para o setor de petróleo, mineração, e celulose”, afirmou Idean Alves.
Diferente de outros analistas, Idean afirma que foi possível enxergar uma recuperação no varejo no terceiro trimestre. “As varejistas já começam a respirar um pouco com a recuperação econômica, claro, as mais organizadas e com baixo endividamento. As mais alavancadas estão sofrendo com a alta de juros, com o custo de dívida mais alto e menor poder de investimento”, disse Idean Alves.
Os analistas pontuaram que essa tendência de melhora dos setores deve depender, principalmente, da política econômica adotada pelo novo governo, que assumirá em 1º de janeiro de 2023.
Quais foram os destaques negativos do 3T22?
Na visão de Daltozo, da Eleven Financial, o setor de consumo e varejo foi o destaque negativo por conta da inflação e também das condições climáticas, com o prolongamento do frio, que atrasou a dinâmica de venda da coleção de primavera, segundo o especialista.
“Isso se refletiu em resultados mais fracos do setor de calçados e vestuário em linhas gerais. Para os próximos trimestres, a expectativa é que essa tendência se mantenha com recuperação de receita no varejo, mas inflação elevada e juros altos continuam machucando o resultado”, disse Daltozo.
O analista de investimentos CNPI-T e aluno da Eu me banco, Gustavo Franco Freitas, conta que a inflação acabou impactando setores mais sensíveis, que possuem margens mais elevadas.
“O setor de varejo em geral também reportou prejuízo devido à alta de juros que tivemos, à inadimplência e baixa confiança do consumidor”, disse Freitas.