Sabesp
Foto: Sabesp / Divulgação

A Sabesp (SBSP3) segue em direção à universalização de seus serviços. Recentemente, a companhia anunciou a aquisição de ativos hidrológicos da Emae, movimento que foi bem recebido pelo mercado brasileiro.

A empresa está “avaliando todas as oportunidades que estão vindo a mercado”, afirmou o CEO, Carlos Piani, em entrevista à Folha de S.Paulo. “Estamos avançados em relação à meta, então isso já nos permite sonhar.”

O governo de São Paulo abriu mão do controle da Sabesp em julho de 2024, transferindo à Equatorial Energia uma participação estratégica como parte do processo de privatização comandado pelo governador Tarcísio de Freitas.

Nesse contexto, a compra da Emae pela Sabesp representa um marco simbólico para o setor — não apenas pela expansão de ativos, mas também pelo sinal que transmite ao mercado sobre as ambições futuras da empresa.

Numa operação de R$ 1,13 bilhão, a aquisição teve foco nos reservatórios Guarapiranga e Billings, reforçando a “segurança hídrica em regiões-chave” e integrando sistemas operacionais.

Análise de especialistas sobre aquisição da Emae

Segundo Alexandre Pletes, head de renda variável na Faz Capital, “a aquisição dos reservatórios da Emae (Guarapiranga e Billings) é vista com bons olhos pelo mercado no médio e longo prazos”. Ele acrescenta: “A percepção inicial é de que a aquisição foi razoavelmente bem precificada, considerando o potencial de geração de valor dos ativos.”

Nesse sentido, o mercado tende a relativizar o desembolso de curto prazo diante da expectativa de retorno ampliado no futuro.

Já na visão de Bruno Benassi, analista de ativos da Monte Bravo, o tom é mais contido, refletindo cautela: “A transação é de R$ 1,1 bi, então é pequena, e não enxergamos a possibilidade de o mercado ter uma reação exagerada, até porque o preço pago nos parece justo.” Ou seja, para ele, a operação tem baixa magnitude frente ao valor de mercado da Sabesp, o que limita o impacto imediato no valuation.

Contudo, para Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, os riscos caminham por outra via: “Os riscos na interpretação do mercado, neste momento, guardam mais relação com a confusão judicial que a compra pode despertar do que com o valuation da negociação.” Assim, segundo ele, o preço em si não gera receio, mas sim a incerteza legal que pode surgir — um elemento de risco que o mercado tende a precificar.

Além disso, um segundo ponto observado pelos especialistas foi a preocupação se essa aquisição poderá alterar de forma significativa o perfil financeiro da Sabesp ou se será bem absorvida.

Ainda sob a ótica de Pletes, “a operação não é neutra financeiramente. A Sabesp deverá fazer investimentos relevantes para incorporar e operar os ativos da Emae, o que deve gerar pressão inicial no caixa e alterar temporariamente seu perfil de alavancagem.”

Por outro lado, o analista pondera que “receitas adicionais podem vir a compensar esse movimento, principalmente com uma gestão mais eficiente após a privatização”.

De forma mais objetiva, Benassi apresenta os cálculos: “A transação é pequena e adiciona 0,1 p.p. na alavancagem da companhia, que deve ir para 2x Dívida Líquida/EBITDA. Além disso, o ativo, após a integração, deve ser uma fonte de geração de caixa estável, por meio de contratos de longo prazo de fornecimento de energia.”

Dentro dessa lógica, Benassi entende que o impacto no endividamento será limitado e que o ativo tende a reforçar a estabilidade financeira da companhia.

Em complemento, Sant’Anna enfatiza a evolução estrutural: “A compra abre um novo momento na Sabesp, seja na diversificação de ativos, seja na nova fase de aquisições com menor burocracia — uma vantagem inerente à privatização.”

Para ele, o foco não está tanto no peso imediato sobre o caixa, mas na capacidade da empresa de evoluir para um modelo mais ágil e resiliente.

Impacto da aquisição nos resultados futuros

Além das avaliações dos analistas, um relatório recente do BTG Pactual destacou que a operação será financiada com ajustes de caixa e dívidas, e que “a capacidade de armazenamento de água na Grande São Paulo pode crescer 52% até 2029”, sugerindo que o investimento será amortizado por eficiência operacional futura.

Na mesma linha, a Fitch Ratings avaliou que, considerando que a Emae não possuía dívidas significativas e apresentava um EBITDA robusto, o risco de deterioração da estrutura financeira da Sabesp seria mitigado.

Em termos agregados, o consenso aparente é de que haverá pressão inicial no caixa e leve impacto na alavancagem. Contudo, o esperado é que isso seja tolerável, desde que a integração funcione bem e as receitas extras se materializem.

Dividendos e perspectivas para acionistas

Nenhum desses fatores passa despercebido pelos acionistas — majoritários ou minoritários. Um dos principais pontos debatidos quando a operação foi anunciada foi a possibilidade de o movimento sacrificar dividendos em nome do crescimento.

Para Pletes, no curto prazo, “os investimentos necessários na integração dos ativos podem impactar a capacidade de distribuição de dividendos”. Apesar disso, ele ressalta que, se a integração for bem-sucedida e houver ganhos operacionais, “a expectativa é de geração de valor no médio e longo prazos, o que pode inclusive beneficiar a política de dividendos.”

Já Benassi adota um tom mais conservador: “Não devemos ter nenhuma mudança relevante no curto prazo” em relação aos dividendos, enfatizando que o impacto financeiro da operação é pequeno comparado ao tamanho da companhia.

Por outro lado, Sant’Anna vê oportunidade: “A compra representará um aumento dos reservatórios de água para consumo humano em cerca de 51%, o que se refletirá em aumento de caixa e proteção contra momentos de seca. (…) Se houver algum contingenciamento de caixa livre para payout, será por um motivo estratégico e benéfico aos acionistas.”

Diante desse cenário, os especialistas ouvidos pelo BP Money convergem quanto ao potencial da operação de “destravar” o valor da ação da Sabesp. Ainda assim, apontam nuances de tempo, riscos e execução:

  • Sant’Anna é o mais otimista: ele cita que “a ausência das travas estatais tem motivado o mercado com apetite ao risco na compra das ações”. Ou seja, à medida que a Sabesp se desprende dos limites públicos, pode capturar uma reprecificação positiva de seus papéis.
  • Pletes enxerga a revalorização a partir do reforço hidráulico e energético, que gera maior previsibilidade e eficiência, sustentando uma tese de valorização estrutural.
  • Benassi, embora mais reservado, acredita que os ganhos virão conforme a integração dos reservatórios avance, e que isso será incorporado gradualmente pelo mercado.

Recomendações e Perspectivas Futuras

As diferentes perspectivas em torno da operação não anulam o fato de que muitos bancos e casas de análise veem catalisadores para a ação. O Goldman Sachs, por exemplo, acredita que a operação pode acelerar a integração dos reservatórios e reforçou a recomendação de compra para a Sabesp. Também com visão positiva, o Itaú BBA manteve recomendação outperform para a companhia, com preço-alvo de R$ 147,40.

Por fim, o mercado parece disposto a conceder crédito à Sabesp — desde que as hipóteses de sinergia, modernização e geração de caixa se confirmem nos resultados dos próximos trimestres.